Vacina da AstraZeneca

(Imagem: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration)

 

União Europeia está pedindo à AstraZeneca que publique o contrato que assinou com o bloco para o suprimento de vacinas contra Covid-19, disse uma autoridade da UE nesta quarta-feira, uma escalada de uma crise a respeito dos atrasos nas remessas.

A empresa desistiu de uma reunião com a UE agendada para esta quarta-feira, acrescentou a autoridade.

Em uma entrevista concedida a jornais na terça-feira, o presidente-executivo da AstraZeneca, Pascal Soriot, disse que o contrato com a UE se baseou em uma cláusula de melhor esforço e não comprometeu a farmacêutica com um cronograma específico de entregas.

A distribuição de vacinas no bloco está sendo lenta, quando comparada à de países de outras regiões, especialmente o ex-membro Reino Unido, e assolada por problemas – as interrupções das cadeias de suprimento não sendo os menores deles.

O contrato do bloco com a AstraZeneca é um acordo de compra antecipada para o suprimento de ao menos 300 milhões de doses, contanto que a vacina seja aprovada por ser segura e eficiente.

Ainda nesta quarta-feira, o funcionário da UE disse que detalhes relevados por Soriot a respeito da capacidade produtiva e da cláusula de melhor esforço são confidenciais.

FONTE: MONEY TIMES

 

Confira as vacinas contra gripe autorizadas para 2018

IMAGEM: ANVISA/CRFMG

 

Eles cobram do presidente Bolsonaro pressa na imunização, criticam a politização por causa das eleições de 2022 e se colocam à disposição para ajudar

Com dois manifestos publicados em menos de uma semana, o setor empresarial começa a mostrar a cara neste momento de demora da vacinação e agravamento da pandemia da covid-19 no País. Eles cobram do presidente Bolsonaro pressa na imunização, criticam a politização por causa das eleições de 2022, se colocam à disposição para ajudar e pedem ação do governo e do Congresso com medidas para a retomada econômica.

O Estadão ouviu empresários e presidentes das principais confederações do Brasil e num ponto eles são unânimes: é urgente a imunização em massa, com todos os tipos necessários de vacinas, para tranquilizar a população e acelerar a retomada econômica. Além de críticas à atuação do governo federal e de seus ministros, sobretudo o chanceler Ernesto Araújo, governadores e parlamentares não escapam da pressão.

No primeiro manifesto, assinado por 14 entidades, o movimento Coalizão Indústria pede “reformas já” e afirma que a segunda onda da pandemia é mais forte do que se imaginava e ocorre em desafiador cenário social, fiscal e de saúde. No segundo texto, “Prioridades aos Brasileiros”, empresários alertam que os poderes devem fazer política de Estado, e não de governo.

“Entendemos que nada irá acontecer nesse País enquanto a população não estiver vacinada. Até porque muita gente não compreendeu a gravidade: há aglomeração em todo canto e desprezo à máscara”, diz o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros. A entidade ofereceu instalações e equipes do Sesc e Senac para ajudar e evitar filas na vacinação. Tadros defende ainda a prorrogação do auxílio emergencial por 90 dias.

Já o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nesse, pede que as autoridades deem orientações a serem repassadas aos funcionários. “Quem deve fazer isso é o Ministério da Saúde. Uma cartilha orientadora.”

Do movimento Coalizão da Indústria, o empresário José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast) e vice-presidente da Fiesp, diz que a organização em relação à pandemia está ruim e cheia de imprevistos. “Do lado da saúde, não está passando segurança. Do lado da economia, as coisas não andam.”

As empresas esperam clareza do governo para evitar que seus recursos não acabem sendo mal utilizados, afirma Pedro Passos, cofundador da gigante dos cosméticos Natura. “Sem a liderança e o chamamento do governo, fica o temor de que essa ajuda seja de pouca valia. O governo tem de dizer o que o empresário deve fazer: é para emprestar caminhão para carregar vacina, treinar gente, contratar consultoria, planejar logística?”, questiona Passos.

 

FONTE: ESTADÃO

O que muda com a reforma trabalhista

IMAGEM: REINALDO CANATO/VEJA.COM

 

Pandemia e desmonte do Estado de bem estar-social, a partir de reformas prejudiciais aos trabalhadores, impõem cenário preocupante para o futuro próximo. “Podemos ter um país de miseráveis’, aponta especialista do Dieese, em debate do FSM 21

São Paulo – A pandemia de covid-19 aliada às políticas de desmonte do Estado vão aprofundar a pobreza e a miséria no Brasil. Essa é a conclusão da diretora técnica adjunta do Dieese Patrícia Pelatieri, durante participação em um debate intitulado “Previdência Social Pública e Classe Trabalhadora”. O evento foi organizado pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT) como parte das atividades do Fórum Social Mundial Virtual 2021.

Patrícia faz relação direta entre a falta de políticas públicas de geração de emprego e renda e de amparo ao trabalhador durante a pandemia pelo governo do presidente Jair Bolsonaro com a reforma da Previdência, aprovada no fim de 2019. “Antes da pandemia os dados já apontavam para isso (crescimento da pobreza). Agora, o sentimento dos trabalhadores e das trabalhadoras será de urgência por um Brasil sem miséria. É uma tragédia nacional, essa é a real dimensão”, disse.

País de miseráveis

A especialista explicou que o sistema da Previdência foi fragilizado, e que com o derretimento dos empregos formais, ela pode se tornar cada vez mais insignificante. “Existe um sistema de compensações. Quem está no mercado de trabalho hoje mantém os aposentados e pensionistas. É um sistema de repartição. Esse formato permanece mesmo com as reformas. Isso é importante porque, como a Previdência é contributiva, o que acontece no mercado de trabalho hoje impacta diretamente sobre ela no futuro.”

“Se pudéssemos sintetizar o que pode acontecer com os trabalhadores olhando para o desemprego, a pandemia e as mudanças na Previdência, seria a imagem da miséria. Pode acontecer um aumento muito acelerado da miséria e da pobreza. Inclusive de pessoas mais velhas que perdem a proteção social. Podemos ter um país de miseráveis”, continuou Patrícia.

Olhar para o futuro

Diante do cenário, considerado preocupante, o presidente da CNM/CUT, Paulo Cayres, conclama a sociedade para manter a luta sobre a Previdência ativa. “Que os trabalhadores não desistam da Previdência. Dependendo de como ela estiver, muitos trabalhadores vão deixar de querer pagar a Previdência, pensando somente na aposentadoria em si”, disse.

Paulo alertou sobre os impactos nefastos do desmonte do Estado a partir de urgências de hoje. “Temos o maior sistema de Saúde do mundo. O único que tem uma plataforma capaz de vacinar todos. Querem destruir. A Previdência é a maior carteira de benefícios do mundo também. Conquistamos tudo isso e agora querem destruir. Precisamos mobilizar para que possamos refletir sobre tudo isso. Fundamentalmente como reverter esses ataques”, disse.

A partir deste pensamento, Patrícia pediu a mobilização em torno da revisão de reformas prejudiciais aos trabalhadores. “Desde 2016 tivemos uma redução da proteção social, redução nos investimentos em áreas sociais, desestruturação do mercado de trabalho, economia desaquecida, baixo dinamismo, tudo isso em razão das reformas feitas. A Emenda Constitucional 95 – do Teto de Gastos –, as reformas trabalhista e da Previdência e as privatizações”, citou.

“Tudo isso nos levou a uma mais alta concentração de renda e fragilização dos (direitos dos) trabalhadores. É urgente a implementação de ampliação e financiamento do gasto público. Existem opções. Precisamos de uma reforma tributária que eleve impostos dos super ricos e a torne mais progressiva, retirar imediatamente o teto de gastos. O cenário é muito preocupante. Precisamos de renda cidadã urgente. Precisamos elevar as parcelas do seguro desemprego. Estimular o investimento público para que a economia retorne. Precisamos de políticas ativas no mercado de trabalho. Urgentemente, precisamos repactuar os direitos trabalhistas”, completou.

FONTE: REDE BRASIL ATUAL

portos

IMAGEM: TÂNIA REGO/AGÊNCIA BRASIL

 

Texto por Jackson Campos - Head Global de Pharma & Healthcare na Asia Shipping. Graduado em comércio exterior, pós graduando em gestão industrial farmacêutica e pós graduando em healthcare e supply chain. 

Me perguntaram mais de uma vez, nos workshops, aulas e participações que tenho feito, se as vacinas para prevenir o Covid-19 – ou suas matérias primas – podem e se serão transportadas no modal marítimo durante a importação, dada a quantidade, complexidade e urgência de termos os imunizantes disponíveis para todos os brasileiros.

A reposta é simples, elas podem, mas para o Brasil dificilmente serão transportadas em modal diferente do aéreo quando se trata de importação, porque isso requer planejamento antecipado, além de inclusão dessa qualificação de transporte no registro do produto e talvez não houvesse tempo para tanto.

O tema é relevante porque apesar de mais rápido, um transporte aéreo custa até 15 vezes mais caro que o marítimo para o mesmo trajeto, somado ao fato de que no atual momento o dólar está nas alturas e os custos de transporte também.

Contudo, para planejarmos o futuro, afirmo com tranquilidade que é possível fazer qualquer embarque de medicamento com controle de temperatura pelo modal marítimo na importação, incluindo biológicos, e neste artigo explicarei qual é o caminho para que você inclua esta qualificação já no registro do seu produto ou para que você possa tornar seus caros embarques aéreos em embarques marítimos, com um custo muito menor, sem comprometer a integridade do medicamento, matéria prima ou outro, em qualquer faixa de temperatura.

Mas biológico não precisa ser transportado no modal aéreo?

Quando ouvi a primeira pessoa dizendo que não era possível transportar biológico no modal marítimo eu fiquei bem curioso para entender mais sobre o tema. O profissional que me falou isso é farmacêutico e dirigia a área de Supply Chain de uma indústria global muito conhecida. Naquele momento imaginei que a Anvisa estabelecesse algum impedimento, mas li as RDS e toda informação que achei e não encontrei nada.
Decidi perguntar mais sobre o tema e soube que a dificuldade em acessar dados de temperatura dos contêineres era o impeditivo principal para qualificação do transporte. Segundo ele, os armadores sempre se recusaram a informar tais dados, alegando que isso poderia ser uma prova contra eles mesmos.

Acabei deixando isso em segundo plano, mas pouco tempo depois, fui procurado por um consultor, também farmacêutico, que me questionou se eu possuía detalhes sólidos sobre como é feita a qualificação e calibração dos contêineres utilizados para transporte de medicamentos. Eu sabia que certamente algum armador (ou mais que um) teria isso pronto, mas não conhecia o caminho.

Com uma pesquisa e alguns contatos feitos, tive acesso à um dossiê de mais de 200 páginas com todos os testes feitos em uma família de contêineres. Tratava-se da qualificação de instalação, operação e performance de uma linha de cinco mil contêineres distribuídos pelo mundo, todos novos, utilizados apenas para medicamentos, contendo dados precisos de cada detalhe e todos os certificados de calibração dos instrumentos utilizados.

Então, toda vez que um contêiner desta “série” fosse utilizado, o fabricante garante que o resultado será preciso e confiável, já que essa linha de contêineres recebeu a certificação GDP (good distribution practices) da Agência Europeia de Medicamentos, a EMA.

Claro que o fato de eu trabalhar para o maior agente de cargas da América Latina e ter acesso aos tomadores de decisão nos armadores facilitou um pouco minha vida, mas neste contato eu descobri que não apenas poderia acessar os dados completos de monitoramento do contêiner durante o transporte, mas que poderia fazê-lo em tempo real, de onde eu estivesse, pela internet. Soube também, que como plano de contingência, o armador possui um funcionário em cada embarcação com ferramentas e peças de reposição, pronto para efetuar uma manutenção de emergência, caso haja algum problema na unidade durante o transporte.

Em posse destes dados, levei as informações para o meu colega consultor, que por sua vez, me colocou em contato como um laboratório farmacêutico conceituado que estava tentando registrar um medicamento biológico no modal marítimo pois o transporte aéreo inviabilizaria o negócio e começamos a trabalhar diariamente juntos.

Em poucos dias, levantamos todas as informações para elaborar um dossiê completo de mapeamento de transportes desde a origem, na Europa, até a fábrica, na região da Grande S. Paulo, com informações detalhadas de como é feito o transporte da planta do fabricante até o porto europeu, como a carga fica armazenada e como é mantida a temperatura do registro, como é feito o carregamento do contêiner no navio e em quanto tempo, como são feitos os transbordos de navios durante o transporte e se há algum, como é o descarregamento no Brasil, qual é a maneira que o terminal alfandegado utiliza para manter a carga dentro da faixa de temperatura e como é o transporte no Brasil do porto até a planta.

Ufa...! Encontramos, então, os piores cenários e traçamos planos de contingência para todos eles, seguindo à risca todas as exigências da RDC 55/2010 que trata do registro de medicamentos biológicos e o Guia de Validação de Transportes da Anvisa de 201, além de todo o conhecimento de validação em transporte que meu colega farmacêutico neste projeto tem.

Tendo tudo isso em mãos, o registro do produto foi submetido à Anvisa e aprovado para o modal marítimo.

Mas não foi só isso, claro. Diversos dados além da qualificação de transporte também estavam no dossiê que diziam respeito à fabricação do produto, ou seja, todo o trabalho de pesquisa, desenvolvimento, tecnologia que esta empresa reuniu junto com os dados para qualificação do transporte que eu reuni e disponibilizei fizeram com que o registro do produto fosse aprovado.

De minha parte como prestador de serviço, o próximo passo foi elaborar um procedimento operacional padrão interno com todos os detalhes de como a operação deveria acontecer, contendo nele tudo o que dissemos à Anvisa, já que o contêiner precisa ser exclusivamente aquele de determinada série, o armador precisa ser o mesmo, assim como terminais de origem e destino e empresas de transporte rodoviário e qualquer prestador de serviço envolvido.

Como conclusão pode-se afirmar que é possível transportar qualquer produto biológico de qualquer temperatura no modal marítimo, incluindo vacinas contra o coronavírus, desde que a empresa importadora esteja comprometida em buscar empresas de logística especializadas e que possuam comprometimento e conheçam do seguimento de saúde.

FONTE: SITE PFARMA.COM.BR

Teletrabalho, home office ou trabalho remoto.

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

 

A pandemia da Covid-19 forçou muitas empresas a adotarem o teletrabalho por causa da exigência de isolamento social. Possível para 22,7% das ocupações no país, essa forma de trabalho trouxe polêmicas sobre as relações do capital com o trabalho.

 

Como garantir segurança, saúde e respeito às leis trabalhistas já tão precarizadas? Como manter a jornada de trabalho de 44 horas semanais, por exemplo? A questão é tão candente que existem inúmeros projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional com a intenção de regular essa forma de trabalhar.

Inclusive o MPT (Ministério Público do Trabalho) divulgou em setembro do ano passado a Norma Técnica 17/20 com instruções de procedimentos e obrigações para um bom andamento das funções de quem vende a força de trabalho.

O setor patronal critica as instruções do MPT como “impraticáveis” e “desfavoráveis” à manutenção do emprego e os representantes da classe trabalhadora lutam para garantir os direitos trabalhistas de todas e todos.

A discussão está apenas começando. Para a juíza do Trabalho, Valdete Souto Severo, presidente da AJD (Associação Juízes para a Democracia), não há necessidade de uma nova legislação porque “nós precisamos que as regras que temos sejam cumpridas e aí estou falando da Constituição de 1988, que garante relação de emprego e limite à jornada, ambiente saudável de trabalho, entre outras coisas”.

Em entrevista ao Portal CTB, Valdete afirma ser necessário combater a precarização do trabalho na sua integralidade. “A opção legislativa no Brasil foi exatamente o contrário disso. Foi inserir na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) com a reforma trabalhista mais um inciso no artigo 62 para dizer que também quem realiza teletrabalho não está atingido pelas normas de regulação e limitação do tempo de trabalho, o que a nossa jurisprudência e a doutrina majoritária entendem que essas pessoas não têm registro de horário de trabalho e em consequência não há pagamento de horas extras”.

Mas, para a juíza gaúcha, não é difícil de manter o teletrabalho em condições adequadas. “Não há dificuldade alguma em impor limitação de horário. Se nós temos tecnologia suficiente para que o trabalho seja exercido por meios virtuais, basta criar dispositivo que limite a possibilidade de acesso a esse ambiente virtual em que o trabalho é realizado”.

Muitos juristas concordam que a lei já regulou o teletrabalho, mas as divergências são grandes e o debate permanece aberto e as instruções do MPT para a sociedade e para quem atua na Justiça do Trabalho são importantes.

Em concordância com Valdete, a secretária de Políticas Sociais da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Vânia Marques Pinto lembra que “é muito comum acontecer de não notarmos o excesso de trabalho quando estamos em casa. Parece que dormimos com o computador e acordamos com o celular tamanho o excesso”.

De qualquer forma, não se pode cair no engodo da negociação entre patrão e empregado, que sempre deixa quem vive do trabalho em desvantagem, ainda mais na situação de alto índice de desemprego e necessidade de isolamento social por causa da pandemia.

De acordo com Valdete “a forma como estamos lidando com o teletrabalho no Brasil, aceitando que ele seja também uma forma de trabalho precarizado” ajuda a criar “uma sociedade de pessoas adoecidas” e “esse resultado já está aparecendo. Só que ele vai se agravar muito mais” se não “nos atentarmos para a necessidade de respeito às leis de convívio social”.

A pandemia trouxe a necessidade de se trabalhar em casa para muita gente, que transformações isso trouxe ao mundo do trabalho?

Valdete Souto Severo: O teletrabalho trouxe inúmeras e profundas mudanças que ainda não foram bem dimensionadas pelas pessoas porque mudou inclusive o que nós compreendemos como espaço de casa e espaço de trabalho.

Isso dificulta em larga medida a regulação do tempo de trabalho porque ao contrário do que nós podíamos fazer como opção política que é a criação de mecanismos para que os aplicativos, os e-mails, os programas saíssem do ar depois de determinado horário para evitar que as pessoas trabalhassem por mais tempo que a jornada prevista.

Na realidade o que ocorre não é o oposto?

A opção legislativa no Brasil foi exatamente o contrário disso. Foi inserir na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) com a reforma trabalhista mais um inciso no artigo 62 para dizer que também quem realiza teletrabalho não está atingido pelas normas de regulação e limitação do tempo de trabalho, o que a nossa jurisprudência e a doutrina majoritária entendem é que essas pessoas não têm registro de horário de trabalho e em consequência não há pagamento de horas extras e uma efetiva limitação porque sabemos muito bem o que acontece num país capitalista no qual nós já introjetamos de forma naturalizada a violência da lógica de metas.

Quais as consequências dessa opção?

As pessoas estão trabalhando bem mais, o que acarreta consequências de várias ordens. As consequências físicas e psíquicas pelo excesso de trabalho, pelo fato de permanecer muito tempo sentado, em vez de realizar uma atividade de se movimentar. Muitas pessoas que estão em teletrabalho já evitam sair de casa por estarmos em uma pandemia e o trabalho por meio telemático via de regra é exercido sentado, o que não é uma situação cômoda para o corpo humano. Isso gera uma série de adoecimentos físicos tanto quanto psíquicos e emocionais.

Como isso acontece?

As pessoas estão se relacionando através de uma tela de um computador ou de um telefone e isso pode parecer algo simples. Inclusive, as novas gerações vêm com certa naturalidade, mas isso não é natural. Isso tem uma implicação até no nosso inconsciente, na nossa forma de enxergar o outro.

Então somos um modelo de sociedade que já aposta no individualismo, o que já nos dificulta desde antes do nascimento e desde que nascemos através de vários mecanismos e estruturas como a competição na escola, a forma como a família é organizada nos dificulta ver o outro como alguém que nos complementa, como alguém que faz parte da nossa existência. Algo que hoje está sendo bastante discutido, especialmente no âmbito da doutrina feminista negra, da doutrina indígena, mas para a sociedade Ocidental isso é um desafio porque nós não somos ensinados a atuar como seres sociais, embora sejamos seres sociais. Soma-se a isso o trabalho atrás de uma tela de computador em que as pessoas não são mais de carne e osso, não têm cheiro, não têm proximidade.

O isolamento social adoece a sociedade ainda mais?

As pessoas se comunicam através de mensagens pelo WhatsApp ou no máximo por uma tela. É evidente que essa característica que é própria do sistema capitalista e se aprofunda. Essa também é uma tendência que gera problemas individuais, psíquicos, emocionais, mas que também gera um adoecimento social. Eu poderia dar inúmeros exemplos de adoecimento social.

A forma como as pessoas estão mais violentas, a impaciência com a dificuldade de determinadas pessoas, a facilidade com que uma briga no trânsito vira um crime de tentativa de homicídio porque um tiro é disparado, o aumento da violência doméstica. Tudo isso é em alguma medida consequência desse isolamento social que o teletrabalho potencializa.

A reforma trabalhista já precarizou as relações de trabalho. A atuação do MPT e uma legislação específica poderia mudar essa situação?

O MPT está fazendo o seu papel de determinar instruções aos patrões e empregados. Isso é legítimo.

Mas há uma discussão e inclusive existem inúmeros projetos de lei propostos para a regulamentação do teletrabalho, assim como existe também para regulamentação do trabalho através de plataformas digitais, que se convencionou chamar de uberização.

Isso me parece um grave equívoco. Pretender mais legislação como se isso, numa lógica ainda vinculada à racionalidade moderna liberal do século 17 fosse garantia de mudança cultural. Nós temos, sem dúvida nenhuma, um modelo social que ainda está ancorado nesses pressupostos.

Por exemplo, de que é preciso uma lei, portanto um texto que nos condicione a agir de determinada maneira, o que em alguma medida, por vezes, funciona. Basta pensarmos na lei que determina a obrigação do uso do cinto de segurança e como ela acabou mudando a nossa cultura em relação à forma de dirigir ou de estar dentro dos veículos automotores. Mas o que precisamos entender é que existem questões que são culturais e, por isso, não serão alteradas senão através da cultura, sobretudo quando nós já temos uma regra e esse é o caso do teletrabalho e do trabalho belisário (infeliz).

Então não precisamos de nova legislação sobre o tema?

Nós precisamos que as regras que já temos sejam cumpridas e aí estou falando da Constituição de 1988, que garante relação de emprego e limite à jornada, ambiente saudável de trabalho, entre outras coisas. Por que não observar esses direitos para quem está em teletrabalho? Não há dificuldade alguma em impor limitação de horário. Se temos tecnologia suficiente para que o trabalho seja exercido por meios virtuais, basta criar dispositivo que limite a possibilidade de acesso a esse ambiente virtual no qual o trabalho é realizado. Já temos as regras, portanto.

Então imagine que hoje no contexto de um Parlamento tão conservador, de um governo absolutamente hostil à classe trabalhadora e de um Poder Judiciário que tem, em alguma medida, ratificado o desmanche da legislação social, como seria essa legislação? Se fosse possível acreditar que uma legislação de teletrabalho para dizer da obrigação de quem emprega força de trabalho, de criar limites ao uso dos meios digitais e, portanto, limitar efetivamente a jornada, seria possível a aposta numa legislação como algo positivo para a classe trabalhadora?

Certamente não é o que vai acontecer porque não é isso o que os projetos de lei em tramitação preveem. Na minha opinião, portanto, não há nenhuma necessidade de nova legislação. O que precisamos é voltar a aplicar a CLT e a ter vontade de fazer valer a Constituição, as regras trabalhistas que estão na Constituição da República para todas as pessoas que vivem do trabalho, acabando com esses nichos onde o direito do trabalho não tem conseguido ingressar.

Como garantir segurança e saúde no teletrabalho então?

Na realidade não há nenhuma dificuldade insuperável para garantir a segurança e a saúde de quem trabalha através de meios telemáticos. O que acontece é que há sim uma opção política no sentido de precarizar todo o trabalho. Claro, quando pensamos no teletrabalho, por exemplo, todos os problemas físicos que decorrem do trabalho sentado diante de uma tela de computador, a primeira questão que vem à mente é de como o fiscal de trabalho ingressaria nas casas das pessoas para verificar a ergonomia ou como um agente de saúde pública faria esse controle para evitar, para prevenir o adoecimento.

Na realidade o nosso raciocínio ainda está invertido porque para a realização do teletrabalho é que quem emprega deveria demonstrar que forneceu os equipamentos adequados às instruções assim como ao acompanhamento.

Tem como exemplificar?

Se eu preciso, por exemplo, começar a dar aula por meio virtual, é a escola ou a universidade que precisam fornecer os meios telemáticos, inclusive acesso à internet e também verificar que os equipamentos sejam de tamanho e forma adequadas à minha altura, ao meu peso, etc. Também fornecer a manutenção feita por alguém da empresa que possa visitar a casa dos colegas e que faça esse trabalho por meio pessoal ou virtual, que dê orientação, como por exemplo, o Tribunal da 4ª região de Porto Alegre tem de orientação ergonômica. Isso é um dever do empregador.

O empregador não precisa de uma lei para cumprir com sua obrigação?

Não precisa de uma nova lei. Já está na Constituição. O que temos lá pode prevenir o problema. Seguindo as normas constitucionais podemos fazer a regulação efetiva da jornada de trabalho, tirando do ar o acesso a esses meios virtuais pelos quais se trabalha. Além do pagamento de eventuais horas extraordinárias e a atuação de quem emprega, criando condições ergonômicas de trabalho. Isso é mito complicado porque existem pessoas que não possuem em suas casas um local adequado, com iluminação adequada ou espaço com o silêncio necessário para trabalhar por meio telemático. Essas pessoas não podem simplesmente serem jogadas para a atividade do teletrabalho porque elas vão adoecer.

As condições adequadas de trabalho evitam o adoecimento?

Na verdade, elas já estão adoecendo. E isso não é um problema individual a ser tratado com o plano de saúde, mediante ao afastamento do trabalho. Nem terá solução efetiva se ficarmos apenas combatendo a consequência, ou seja, verificando os adoecimentos. E pensando em qual forma de tratamento essas pessoas precisam ter.

Para evitar que o adoecimento aconteça o melhor modo é garantir a essas trabalhadoras e trabalhadores a integralidade dos direitos que já estão previstos, repito, na Constituição e na CLT. Isso não é mera retórica. Isso significa, por exemplo, como consta no artigo 2º da CLT, o empregador deve fornecer os meios para execução do trabalho. Então precisa ter um teclado adequado e um adaptador. A cadeira deve ser ergonômica, a altura tem que estar certa, a tela do computador deve estar na forma correta. Se isso não acontece já estamos colocando a saúde dessa pessoa em risco e com isso o adoecimento acontecerá.

Da forma como estamos lidando com o teletrabalho no Brasil, aceitando que ele seja também uma forma de trabalho precarizado. O que está provocando uma sociedade adoecida. Esse resultado já está aparecendo só que ele vai se agravar muito mais. Vai se agravar com o tempo e vai se agravar com a soma dessas consequências que antes eu disse não terem sido ainda bem dimensionadas para o convívio familiar e social dessas pessoas que estão sendo obrigadas a trabalhar 8, 10, 12 horas por dia isoladas à frente da tela de um computador.

 

FONTE: DIAP

Marcos Aurélio Ruy,
no portal da CTB

Ricaços ficaram imunes à crise econômica provocada pela pandemia em uma das regiões mais desiguais do mundo.

IMAGEM: REPRODUÇÃO PIXABAY

 

Os dez maiores bilionários acumularam US$ 540 bilhões no período da pandemia – o suficiente para pagar pela vacina contra a Covid-19 para todo o mundo e garantir que ninguém chegue à situação de pobreza

Agência Brasil - As mil pessoas mais ricas do mundo levarão apenas nove meses para ver suas fortunas retornarem aos níveis pré-pandemia, enquanto os mais pobres vão levar 14 vezes mais, ou seja, mais de dez anos, para conseguir repor as perdas devido ao impacto econômico da doença. A conclusão é do relatório O Vírus da Desigualdade, que será lançado pela Oxfam nesta segunda-feira (25), na abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

Em fevereiro de 2020, foi identificado o valor da fortuna dos mais ricos, representando 100%. Em março, essa riqueza caiu para 70,3%, voltando aos 100% em novembro. Como base de comparação sobre a velocidade dessa recuperação, os mais ricos do mundo levaram cinco anos para recuperar o que perderam durante a crise financeira de 2008.

“A pandemia escancarou as desigualdades – no Brasil e no mundo. É revoltante ver um pequeno grupo de privilegiados acumular tanto em meio a uma das piores crises globais já ocorridas na história”, afirmou Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “Enquanto os super-ricos lucram, os mais pobres perdem empregos e renda, ficando à mercê da miséria e da fome.”

O relatório mostra que, em todo o mundo, os bilionários acumularam US$ 3,9 trilhões entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020, sendo que sua riqueza total hoje é de US$ 11,95 trilhões, o equivalente ao que os governos do G20 gastaram para enfrentar a pandemia. Apenas os dez maiores bilionários acumularam US$ 540 bilhões no período – o suficiente para pagar pela vacina contra a covid-19 para todo o mundo e garantir que ninguém chegue à situação de pobreza.

Por outro lado, a pandemia deu início a uma crise em relação aos empregos, que, segundo a Oxfam, é a pior em mais de 90 anos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que cerca de meio bilhão de pessoas estão agora subempregadas ou sem emprego, enfrentando miséria e fome. “Quando o coronavírus chegou, mais da metade dos trabalhadores e trabalhadoras dos países de baixa renda viviam na pobreza, e 75% dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo não tinham acesso a proteções sociais como auxílio-doença ou seguro-desemprego”, observa a entidade.

Diante desses dados, o relatório revela que a pandemia de covid-19 tem o potencial de aumentar a desigualdade econômica em quase todos os países ao mesmo tempo, o que acontece pela primeira vez desde que as desigualdades começaram a ser medidas há mais de 100 anos. Para a Oxfam, a sociedade, empresas, governos e instituições devem agir com base na urgência de criar um mundo mais igualitário e sustentável.

“A crise provocada pela pandemia expôs nossa fragilidade coletiva e a incapacidade da nossa economia profundamente desigual trabalhar para todos. No entanto, também nos mostrou a grande importância da ação governamental para proteger nossa saúde e meios de subsistência. Políticas transformadoras que pareciam impensáveis antes da crise, de repente se mostraram possíveis. Não pode haver retorno para onde estávamos antes da pandemia”, diz o texto.

Economias mais justas são a chave para uma recuperação econômica rápida da pandemia, segundo avaliação da Oxfam. A existência de um imposto temporário sobre os excessivos lucros obtidos pelas 32 corporações globais que mais lucraram durante a pandemia poderia arrecadar US$ 104 bilhões em 2020. O valor, conforme estima a Oxfam, seria o suficiente para providenciar auxílio-desemprego para todos os trabalhadores afetados durante a pandemia e para dar apoio financeiro a todas as crianças e idosos em países de renda baixa ou média.

“A desigualdade extrema não é inevitável, mas uma escolha política. Os governos pelo mundo precisam utilizar este momento de grande sofrimento para construir economias mais justas, igualitárias e inclusivas, que protejam o planeta e acabem com a pobreza. A nova fase pós-pandemia não pode ser uma repetição de tantos erros do passado, que nos legaram um mundo que beneficia poucos às custas de milhões”, acrescentou Katia.

Para ela, a recuperação econômica tem que incluir as pessoas em situação de vulnerabilidade e não pode haver recuperação econômica sem responsabilidade social. A necessidade de reparação da desigualdade se dá ainda diante de outro fator de alerta mostrado pelo documento: a insegurança alimentar.

O relatório concluiu que o impacto da pandemia sobre empregos e meios de subsistência fez, expandir de forma rápida e significativa, a crise alimentar. O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) estimou que o número de pessoas que passam fome aumentaria para 270 milhões no fim de 2020 por causa da pandemia, um aumento de 82% em comparação a 2019. A Oxfam considerou que isso poderia significar entre 6 mil e 12 mil pessoas morrendo a cada dia de fome, associada à crise até o fim de 2020.

“Enquanto uma em cada dez pessoas vai para a cama com fome, as oito maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo pagaram mais de US$ 18 bilhões a seus acionistas entre janeiro e julho de 2020. Isso é cinco vezes mais do que os valores arrecadados pela ONU, em novembro de 2020, com a chamada para doações para a covid-19”, diz o documento.

No que diz respeito ao gênero, as mulheres são as que mais sofrem neste contexto, conforme o documento. Elas são maioria nos empregos mais precários, que foram os mais impactados pela pandemia. Em todo o mundo, 740 milhões de mulheres trabalham na economia informal e, durante o primeiro mês da pandemia, sua renda caiu 60%, o equivalente a uma perda de mais de US$ 396 bilhões, segundo dados apresentado pela Oxfam.

Nos Estados Unidos, 22 mil pessoas negras e hispânicas ainda estariam vivas, até dezembro do ano passado, se tivessem a mesma taxa de mortalidade por covid-19 que as pessoas brancas. O relatório diz ainda que, no Brasil, pessoas negras têm 40% mais chance de morrer de covid-19 do que pessoas brancas. Se as taxas de mortalidade da doença nos dois grupos fossem as mesmas até junho de 2020, a entidade estima que mais de 9.200 afrodescendentes estariam vivos.

Ainda segundo a Oxfam, as taxas de contaminação e mortes por covid-19 são maiores em áreas mais pobres de países como França, Espanha e Índia. Na Inglaterra, essas taxas são o dobro nas regiões mais pobres em comparação com as mais ricas.

 

FONTE: AGÊNCIA BRASIL

Rio São Francisco chegou a níveis muito baixos e hidrelétricas tiveram de diminuir produção durante a longa estiagem iniciada em 2012. Foto: Lorena Maniçoba/Divulgação

IMAGEM: LORENA MANIÇOBA/DIVULGAÇÃO

 

Painel promovido pelo FSM discutiu estratégias em busca da democratização da economia, num cenário de crise internacional que combina fome com aquecimento global

São Paulo – A luta contra o neoliberalismo ganhou novas formas desde a primeira edição do Fórum Social Mundial (FSM), em 2001. Vinte anos depois, a crise climática global escancara a necessidade de mudanças no sistema produtivo. Baseado no livre comércio sob comando das grandes corporações internacionais, esse sistema vem aumentando as desigualdades sociais, a fome e a devastação do meio ambiente. A pandemia do novo coronavírus torna ainda mais agudo todos esses processos.

Para dar respostas a esses desafios, lideranças do movimentos sociais e especialistas de diversas partes do planeta participaram nesta segunda-feira (25) de um painel virtual promovido pelo FSM que discutiu estratégias em busca da democratização da economia.

Reforma agrária, justiça fiscal, suspensão do pagamento das dívidas e mudança do papel do estado foram algumas das saídas propostas. Uma economia feminista, baseada no cuidado, além de outras formas solidárias de organização e produção também foram apresentadas como alternativas.

Fome e clima

Para o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues, a pandemia agudizou os efeitos da crise financeira internacional que começou em 2008. Desde então, o capital financeiro internacional busca estratégias para “cobrir os rombos que eles mesmos criaram”. Em diversos países, da Espanha à Grécia, passando pelo Brasil, isso tem se dado na forma da retirada de direitos sociais. “Estamos vendo uma América Latina muito mais empobrecida nos dias de hoje do que há cinco ou seis anos atrás, fruto também dessa crise”, afirmou.

Além disso, a implementação das novas tecnologias no mundo do trabalho tem aprofundado o processo de precarização. Com a chamada “uberização”, a jornada de trabalho de oito horas diárias tem sido abandonada paulatinamente. “Com esse mundo do home office, não vamos ter apenas as 8 horas de trabalho. Vamos passar para dez, 15, 17 horas trabalhadas, sem que os trabalhadores tenham direito a essa mais-valia produzida”.

No campo, o mesmo se dá com a intensificação do uso de máquinas e tratores, combinados com a aplicação de agrotóxicos. Com a intensificação da produção de commodities em larga escala, como o milho e a soja, a tendência, segundo João Paulo, é de redução das áreas destinadas a produção de alimentos, como o arroz e o feijão.

Segundo ele, esse modelo de produção associado ao agravamento das condições climáticas deve produzir uma “combinação devastadora”. “Há um aumento da fome muito grande. A pandemia deixou mais evidenciado. No caso brasileiro, são aproximadamente 60 milhões rejeitados por esse modelo na fila do auxílio emergencial. (…) Não há possibilidade de haver, nos próximos cinco anos, uma baixa no preço do alimento”, afirmou.

Androcentrismo e feminismo

Para a colombiana Rosa Emilia Salamanca, diretora-executiva da Corporação de Investigação e Ação Social e Econômica (CIASE), a crise atual está relacionada ao “andocrentrismo” que predomina no funcionamento da economia. Essa estrutural, que coloca o homem no centro da produção, tem provocado a exclusão das mulheres, além da devastação ambiental.

Segundo ela, diversas correntes do feminismo na economia sugerem um outro modelo de integração, mais igualitário. A “economia do cuidado” é um dos “centros vitais” dessa mudança. “Não somente o cuidado diário com a própria comunidade, vital para reconstrução da economia, como também o cuidado com a natureza”, ressaltou.

Outra aposta, segundo ela, deve ser a “justiça fiscal”. Não apenas para que os tributos sejam cobrados de maneira mais equânime, mas também que sejam aplicados em políticas transformadoras. Dentre elas, Rosa Emilia citou a necessidade de implementação de uma renda básica. É uma ferramenta essencial, segundo ela, para conter a “exacerbação da violência econômica” contra as mulheres em toda a América Latina, quadro agravado pela pandemia.

Auditória da dívida

Para a economista Maria Lúcia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida, “outro mundo é possível”. Mas, para tanto, é preciso combater o modelo tributário injusto em vigor que ela vem chamando de “sistema da dívida”. São mecanismos criados pelas autoridades monetárias nos diversos países que desviam para o sistema financeiro os recursos arrecadados. “A dívida pública deveria ser um instrumento para possibilitar investimentos públicos. Mas não funciona assim. Esse instrumento foi cooptado”, declarou.

Esse esquema é comandado, segundo ela, por instituições como o Banco de Compensações Internacionais (conhecido pela sigla BIS – Bank for International Settlements) e pelo Fundo Monetário Internacional. Funciona de modo equivalente seja na Europa ou na América Latina. Ela citou que, no Equador, por exemplo, após uma completa auditoria, o então presidente Rafael Corrêa anulou cerca de 70% da dívida pública, considerada “fraudulenta”. O mesmo padrão se repete nos demais países da região.

No Brasil, ela afirmou que esse quadro tem se agravado com o processo que ela chamou de “securitização da dívida“. Com ele, “os fundos públicos desaparecem durante o caminho para a rede bancária, impedindo investimentos sociais necessários”. Ela diz que os movimentos sociais em todo o mundo precisam se interessar pelo tema. “São vários mecanismos que se repetem em diversas partes do mundo. Por isso necessitamos dar as mãos e lutar de maneira conjunta. Só assim, outro mundo possível, urgente e necessário terá lugar”.

Suspender a dívida

O presidente do Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, Eric Toussaint, também chamou a atenção para a explosão do nível de endividamento em todo mundo, por conta da pandemia. Mas ele alertou que os movimentos progressistas não devem comemorar esse fato. De acordo com ele, mais do que um reforço da capacidade do estado, o aumento da dívida reflete a indisposição para aumentar a tributação sobre os mais ricos.

Além disso, passado o período mais agudo da pandemia, o crescimento da dívida pública voltará a ser utilizado como pretexto para a aplicação de medidas de austeridade fiscal. Por outro lado, ele defendeu não apenas a suspensão do pagamento da dívida externa dos países em desenvolvimento, bem como o não pagamento de dívidas privadas, como no caso do crédito estudantil abusivo a estudantes em países como Estados Unidos e Chile.

Outros temas

A economista Luciana Ghiotto, integrante da Associação por uma Taxa às Transações Financeiras e pela Ação Cidadã (Atttac Argentina) afirmou que as corporações transnacionais lutam hoje para impor tratados de cooperação internacional que limitam os poderes de regulação dos estados nacionais. Trata-se, segundo ela, de um aprofundamento dos acordos de livre comércio e de livre circulação de capital. Todos esses tem sido “fatais” para os povos dos países em desenvolvimento, em especial na América Latina. Ela defendeu que esses acordos também precisam ser auditados e combatidos.

Já a pesquisadora de Justiça e Desenvolvimento Econômico da Universidade de Nova York (NYCU), Jéssica Gordon, traçou uma trajetória dos mecanismos de solidariedade econômica criados pela comunidade negra nos Estados Unidos, desde a escravidão até a década de 1960, quando os negros nos Estados Unidos lutavam por direitos civis.

Por outro lado, o professor da Lakhwinder Singh, da Universidade de Punjab, no Paquistão, destacou a luta dos agricultores indianos contra a aplicação da Nova Lei de Agricultura, que vai aumentar ainda mais os poderes das megacorporações agrícolas. Com essa nova legislação, essas empresas terão maior controle sobre a terra, além de poder ditar os preços dos alimentos. Pelo menos 120 produtores rurais foram mortos em protestos contra essa nova legislação.

FONTE: REDE BRASIL ATUAL

ONU: o que é a Organização das Nações Unidas? - Politize!

Emblema da Organização das Nações Unidas. Foto: Spiff / Wikicommons

 

Os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) “permanecerão moderados” em 2021 e os países em desenvolvimento poderão até mesmo ver um declínio acentuado nesse pilar crucial para seu crescimento, alertou a ONU.

Além disso, a recuperação não deve acontecer tão cedo e terá a forma de um “U”, explicou James Zhan, diretor da seção de investimentos e negócios da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), em coletiva de imprensa na qual apresentou o relatório anual, publicado neste domingo (24).

“Os fluxos globais de Investimento Estrangeiro Direto continuarão moderados em 2021”, sublinhou a Unctad, num contexto econômico ainda muito afetado, a nível mundial, pela pandemia da covid-19.

 A agência da ONU prevê uma nova queda entre 5 e 10% em relação ao ano anterior, que também foi marcado por um “colapso” de 42% em relação a 2019, para 859 bilhões de dólares.

É 30% menor que o nível mínimo durante a crise financeira de 2009 e traz o volume de investimentos aos níveis da década de 1990.

“A verdadeira recuperação começará em 2022”, disse Zhan.

“Os investidores provavelmente continuarão a ser prudentes na alocação de recursos para ativos produtivos no exterior”, prevê o relatório, também destacando que a queda acentuada em novos projetos em 2020 (-35%) é um indicador de que o IED está em queda neste ano.

– Ainda mais desfavorecidos –

Nos países em desenvolvimento, esse indicador está no vermelho e suas perspectivas para 2021 são “uma fonte de profunda preocupação”, segundo Zhan.

Embora o IED tenha se mantido relativamente bem em 2020, os anúncios de novos projetos criados caíram drasticamente, em 46%, nesses países.

O continente africano foi o mais afetado, com uma redução de 63%, visto que o financiamento internacional de projetos (como os dispositivos financeiros de vários parceiros para grandes projetos de infraestrutura) caiu 40%, enquanto no conjunto dos países em desenvolvimento o retrocesso foi de 7%.

“No entanto, investimentos deste tipo são fundamentais para as capacidades de produção, as infraestruturas de desenvolvimento e, portanto, para as perspectivas de uma recuperação duradoura”, insistiu a Unctad.

Na América Latina e no Caribe, os investimentos em novos projetos foram cortados pela metade e na Ásia caíram 38%.

– Fusão e aquisição –

“O aumento no fluxo de IED provavelmente se deve a fusões e aquisições internacionais do que a novos investimentos em ativos produtivos”, considerou a agência em seu relatório, com base na tendência de transações anunciadas, mas ainda não fechadas.

As fusões-aquisições aumentaram no segundo semestre, principalmente no setor de tecnologia e saúde, que não foram tão afetado pela pandemia, e as empresas em busca de bons negócios devem aproveitar as baixas taxas de juros e a alta das ações.

As empresas europeias devem atrair 60% das transações, mas Índia e Turquia também estão bem posicionadas, com número recorde de “vendas fechadas”. Cerca de 80% dos compradores vêm de países ricos, especialmente da Europa, onde a atividade de fusões e aquisições “está crescendo significativamente”.

FONTES: ISTOÉDINHEIRO/AFP

Decreto consolida convenções da OIT em um único documento – ANAMT

 

Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou que a pandemia de covid-19 causou a perda de 8,8% das horas de trabalho em todo o mundo, o equivalente a 255 milhões de empregos em tempo integral. O cálculo da OIT foi feito em horas de trabalho perdidas, considerando as jornadas de trabalho reduzidas e também aquelas pessoas que perderam o emprego. A comparação foi com o último trimestre de 2019.

A OIT estima que a renda caiu em US$7 trilhões em todo o mundo, o equivalente a 8,3% da renda global do trabalho, ou 4,4 % do Produto Interno Bruto (PIB) global. As mulheres foram mais afetadas que os homens na pandemia. Para elas, a perda de emprego ficou em 5% e, para eles, em 3,9%.

Entre os jovens, também houve forte impacto, ou por saírem do mercado de trabalho, ou por adiarem sua entrada nele. A perda de emprego entre os jovens (15-24 anos) foi de 8,7% e de 3,7 % na população adulta.

De acordo com o relatório, 71% das perdas de emprego ocorreram por causa da inatividade, e não pela falta de vagas. Ou seja, 81 milhões de pessoas deixaram o mercado por não conseguirem trabalhar, seja por restrições impostas durante a pandemia, seja por terem parado de procurar uma ocupação. No total, 114 milhões de pessoas foram afetadas.

Setores

Os setores mais afetados foram os de hospedagem e alimentação. Nas duas áreas, houve redução de mais de 20% do emprego. Os setores do varejo e da indústria aparecem em seguida.

Por outro lado, houve aumento de emprego nos setores de informação e comunicação e finanças e seguros nos segundo e terceiro trimestres de 2020.

Recuperação

As últimas projeções da OIT mostram que “a maioria dos países experimentará uma recuperação relativamente forte no segundo semestre do ano”, considerando o início da vacinação em vários países. A entidade apresentou três cenários, um pessimista, um otimista e um de referência.

No cenário pessimista, de vacinação lenta, a jornada de trabalho diminuiria 4,6%, enquanto no cenário otimista, a queda seria de 1,3 %. No cenário de referência (que se baseia nas previsões do Fundo Monetário Internacional de outubro de 2020), projeta-se perda de 3% das horas de trabalho globalmente em 2021 (em comparação com o quarto trimestre de 2019), o que equivale a 90 milhões de empregos em tempo integral.

Tudo dependerá de a pandemia estar sob controle e de haver uma renovada confiança entre consumidores e empresas, alerta a Organização Internacional do Trabalho.

A OIT faz recomendações para a recuperação do emprego, entre as quais destacam-se a manutenção de “políticas macroeconômicas flexíveis” em 2021 e em anos subsequentes, com incentivos fiscais e a adoção de medidas que estimulem a renda e o investimento; e a adoção de medidas específicas de apoio aos setores mais afetados e promoção do emprego nos setores em que os avanços são mais rápidos.

FONTE: AGÊNCIA BRASIL

AFP

IMAGEM: AFP

 

Nesta sexta-feira (22), a China aprovou uma lei que permite explicitamente a sua Guarda Costeira disparar contra navios estrangeiros, se necessário, uma medida que poderia tornar as águas contestadas em torno da China ainda mais agitadas.

Pequim tem disputas territoriais com Japão no mar da China Oriental e com várias nações do Sudeste Asiático no mar do Sul da China. O gigante asiático tem enviado navios da Guarda Costeira para afugentar os barcos pesqueiros de outros países.

De acordo com a mídia estatal Xinhua, a lei foi aprovada ontem (22) durante a reunião da Assembleia Popular Nacional, o máximo órgão legislativo do país asiático.

Li Zhanshu, presidente do Comitê Permanente da Assembleia, disse que a lei da Guarda Costeira "fornece garantias jurídicas para salvaguardar eficazmente a soberania, segurança e direitos e interesses marítimos" da China, aponta a agência.

De acordo com o projeto de lei publicado anteriormente, a Guarda Costeira está autorizada a utilizar "todos os meios necessários" para deter ou prevenir ameaças de navios estrangeiros, segundo escreve Reuters.
 

Além disso, o projeto de lei permite à Guarda Costeira demolir estruturas de outros países construídas em recifes reclamados pela China e abordar e inspecionar navios estrangeiros nas águas reivindicadas.

FONTE: SPUTNIK BRASIL

Reprodução

IMAGEM: REPRODUÇÃO

 

A resistência de três grandes grupos - Vale, Itaú e Petrobras – frustrou a iniciativa, iniciada por outras empresas,  de comprar pelo menos 11 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca. Pela proposta, discutida semana passada em grupo de WhatsApp, metade do lote iria em forma de doação para o SUS e a outra parte seria usada pelas próprias empresas, para vacinar seus funcionários.

A CNN apurou que Vale, Itaú e Petrobras discordaram da possiblidade de uso de vacinas pelas empresas. Na prática, isso permitiria a imunização fora dos grupos prioritários e diminuiria a disponibilidade de compra de vacinas por governos, entre eles, o brasileiro. A JBS também avaliou o assunto e decidiu deixar o grupo.

Em nota a Vale afirma ter sido "convidada a participar da discussão", mas que "declinou da iniciativa": "a determinação da companhia é de doar integralmente insumos que venham a ser adquiridos para apoiar os esforços oficiais de combate à Covid-19", disse. 

O Itaú informou que preferia não comentar o assunto e afirmou que não faz parte do grupo de empresas:  "O Itaú Unibanco, por meio do Todos pela Saúde, acompanha de perto as discussões sobre a compra de vacinas, que neste momento seguem sendo realizadas na esfera governamental", acrescentou. A Petrobras disse que não iria se manifestar.

Outro ponto que prejudicou a ideia de compra está relacionado a questionamentos sobre o fornecedor da vacina e a legalidade da compra. "Quem teria até 33 milhões de doses disponíveis hoje?", disse um executivo. 

Em sua notas, a Vale ressaltou que, desde o início da pandemia, vem oferecendo ajuda aos governos dos países em que atua. O Itaú  frisou que destinou R$ 100 milhões na construção das fábricas de vacinas da Fiocruz e do Instituto Butantan e investiu mais de R$ 1 bilhão "em outras ações de combate à covid-19". 

Do grupo de empresas faziam parte também, entre outras, Gerdau, Bradesco, Santander, Klabin, Vivo, Gol, Whirlpool e ADM Life.

FONTE: CNN

Após queixa anônima, MPT denuncia o Bahia por irregularidades

A pandemia de covid-19 praticamente fez dobrar no ano passado a quantidade de denúncias de negligência de empregadores nos cuidados com a saúde dos funcionários, de acordo com dados do Ministério Público do Trabalho (MPT). Apesar do crescimento de autuações e processos, o órgão ainda aponta muita resistência em alguns setores por medidas que evitem a propagação do novo coronavírus dentro das empresas.

O MPT recebeu 36.771 denúncias relacionadas à covid- 19 apenas no ano passado. Desse total, 9.976 resultaram em novos inquéritos e boa parte das demais foi incorporada a processos já abertos contra as mesmas empresas por outras razões. Esses inquéritos levaram a 420 ações civis públicas. Como resultado, 362 Termos de Ajuste de Conduta (TACs) foram firmados com o órgão, que emitiu ainda mais de 13,5 mil recomendações para a correção de problemas nas firmas.

“A quantidade de denúncias surpreendeu a todos os procuradores. Aumentou muito em relação a 2019, quase dobrou o volume, considerando que continuam chegando demandas que envolvem questões sem relação com a pandemia”, destaca a coordenadora nacional da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho do MPT, Márcia Kamei López Aliaga.

Ela lembra a obrigatoriedade de as empresas afastarem os trabalhadores com casos confirmados ou suspeitos de covid-19 para quebrar a cadeia de transmissão dentro do ambiente de trabalho. Segundo a procuradora, a identificação de doenças no trabalho já eram pontos frágeis dos programas de saúde implementados pelas empresas antes mesmo da pandemia do novo coronavírus.

“O Brasil tem um problema crônico em lidar com questões de saúde e segurança do trabalhador. A pandemia intensificou esse problema e o colocou em evidência. Os setores mais afetados pela covid-19 – serviços de saúde e frigoríficos – já eram setores que tinham muitos acidentes de trabalho antes mesmo da pandemia”, diz Márcia. “São ambientes de trabalho que já eram mal geridos em termos de saúde e segurança, com números significativos de casos de doenças e acidentes relacionados a esses riscos.”

Testes positivos

A coordenadora cita relatórios de órgãos de vigilância municipais que atestam que, mesmo pessoas com testes positivos, continuaram trabalhando normalmente após apresentarem apenas sintomas leves da doença. Nesses casos, até mesmo o prejuízo do empregador costuma ser maior, porque os trabalhadores que não foram afastados prematuramente espalharam o vírus para muitos outros funcionários, acarretando mais ausências nas linhas de produção.

“Notamos muita dificuldade para promover esse diálogo social. As tentativas de conciliação do MPT cresceram significativamente, mais de 500 procedimentos de mediação em 2020, mas não conseguimos chegar a um nível de entendimento que tivesse repercussão positiva nos números de contágio. Haverá outras pandemias e, por isso, pedimos reflexão às empresas”, afirma ela.

FONTE: ESTADÃO