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Rosângela Buzanelli destaca que nos “tempos áureos”, antes da Lava Jato, setor naval chegou a empregar mais de 80 mil trabalhadores no Brasil
A representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, Rosângela Buzanelli, comemorou a intenção da estatal de voltar a construir plataformas e embarcações de apoio no Brasil. Ela também destacou que a retomada da política de conteúdo local deve estimular não apenas a indústria naval, mas toda a cadeia produtiva de óleo e gás no país.
“A revitalização desse segmento representa a geração de milhares de empregos no país. Lembremos que a indústria naval brasileira já viveu tempos áureos, mas foi vítima de um duro golpe de destruição e hoje encontra-se abandonada”, disse a conselheira, em nota, nesta terça-feira (14).
No início do mês, durante entrevista coletiva, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que a companhia vai voltar a construir no Brasil, e defendeu políticas públicas para estimular novamente o setor naval brasileiro. De acordo com ele, é preciso fortalecer os estaleiros e a indústria naval como um todo, para que possam competir com o exterior.
“Se você fizer um levantamento, hoje, talvez, um equipamento bem complexo integralmente feito no Brasil saia três ou quatro vezes mais caro. Então, quando há uma discrepância a esse nível, é preciso política pública e outro tipo de abordagem a esse problema”, afirmou.
Prates também considerou que, nos últimos anos, houve uma “destruição” do ciclo virtuoso da indústria naval, que resultou no encarecimento do custo dos projetos em estaleiros nacionais e fez com que os avanços alcançados pelo setor nos anos 2000 praticamente voltassem à estaca zero.
Dos “tempos áureos” à “destruição”
Rosângela ressalta que a indústria naval brasileira “já viveu tempos áureos, mas foi vítima de um duro golpe de destruição e hoje encontra-se abandonada”. Ela destaca que foi a partir da descoberta do pré-sal, em 2007, que o governo Lula decidiu incentivar a política de conteúdo local para estimular a indústria naval brasileira. Como resultado, os postos de trabalho se multiplicaram. Em 2014, a indústria naval empregava cerca de 82 mil trabalhadores. A partir de 2016, no entanto, a Operação Lava Jato “paralisou obras e contratos, penalizou empresas e desmontou a indústria naval”.
Ela cita um estudo recente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), que revelou o tamanho da crise no setor. Há 10 anos, os valores contratados de projetos nos estaleiros brasileiros somaram cerca de R$ 9,5 bilhões. Em 2021, essa cifra foi drasticamente reduzida para R$ 570 milhões – queda de cerca de 96%. Além disso, dos 13 estaleiros de grande porte do país, a maior parte está operando abaixo da capacidade ou apenas atuando em serviços de reparos navais.
No mês passado, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) defendeu que a Petrobras aumente o nível de conteúdo nacional em suas encomendas de plataformas de petróleo. Atualmente, o índice de conteúdo local nas licitações de plataformas da estatal é de 25%. Já foi de 40% no passado. Essa redução ocorreu em 2017, durante o governo Temer.
Fertilizantes: FUP denuncia chantagem
A FUP também disse que vem recebendo denúncias sobre pressões do grupo Unigel junto ao governo, em Brasília, para concessão de subsídios ao gás. Em agosto de 2020, durante o governo Bolsonaro, a Petrobras arrendou à Unigel duas unidades de fertilizantes, uma na Bahia e outra em Sergipe. De acordo com os petroleiros, a empresa ameaça parar as unidades, caso não consigam obter mais benefícios governamentais.
“O Brasil, grande produtor agrícola, precisa alcançar autossuficiência na produção de fertilizantes nitrogenados, mas não às custas de subsídios que visam apenas aumentar lucro de empresa do setor”, criticou o diretor de Relações Internacionais da (FUP), Gerson Castellano.
Além disso, de acordo com informações recebidas pela FUP, a Unigel estaria travando uma “campanha” contra a reabertura da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) – que o atual governo promete retomar. A unidade foi fechada também em 2020.
“Por trás disso está o receio de concorrência e de que a retomada da Fafen-PR absorva mão de obra das unidades da BA e SE”, ressalta Castellano. A capacidade de produção da unidade paranaense é maior do que a das duas unidades controladas pela Unigel. A FUP defende que a Petrobras volte a operar as fábricas de fertilizantes e amplie os investimentos no setor, reduzindo assim a dependência do setor privado.
FONTE: REDE BRASIL ATUAL