IMAGEM: TERRAÇO ECONÔMICO

Negociação deixaria para trás os demais membros do bloco

O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, anunciou na noite de terça-feira (7) que o país realiza "avanços concretos" para um acordo de livre-comércio com a China.

Trata-se do primeiro anúncio de negociações fora do Mercosul desde que o Uruguai comunicou a seus parceiros do bloco que, ao não poder avançar com a proposta de flexibilização do grupo, apostaria em iniciar conversas unilaterais com outros países com o objetivo de obter mais acordos comerciais.

O mandatário convocou líderes de todos os partidos políticos para transmitir a notícia sobre as negociações. O país passará agora a um período de análise sobre as possibilidades de o acordo ir adiante, e para isso, segundo afirmou o presidente, seria necessário o empenho das demais forças políticas, assim como de empresários e sindicatos.

Lacalle Pou afirmou que conversou com o líder chinês, Xi Jinping, e que a previsão de ambos é que o documento esteja pronto em novembro. 

Indagado em uma entrevista a jornalistas locais se isso causaria problemas com os demais membros do Mercosul, o uruguaio respondeu que acreditava que não.

"Se houver algum incômodo, não passará disso", afirmou. E acrescentou: "Temos uma vocação histórica de pertencer ao Mercosul e, ao mesmo tempo, de abrir nossas fronteiras ao mercado mundial. Já tínhamos dito a nossos sócios que iríamos avançar com relação a esse acordo, e isso fizemos." 

Lacalle Pou disse ainda que os ministros das relações exteriores de Paraguai, Brasil e Argentina já estão a par dos avanços da negociação com a China.

O governo do Uruguai entende que não precisa do aval dos demais sócios do bloco para avançar com esse acordo, algo que vem sendo contestado pela Argentina, o membro mais protecionista do Mercosul.

Na entrevista, Lacalle Pou afirmou que o Uruguai tem a intenção de fazer outros acordos de livre-comércio. "Queremos fazer com todos. Se os EUA quiserem, nós queremos fazer com eles também. Estamos passando da palavra à ação porque queremos a prosperidade para nossos compatriotas".

Num encontro comemorativo dos 30 anos do Mercosul, em março, o presidente argentino, Alberto Fernández, afirmou que o país não queria ser "um peso para ninguém, se somos um peso, que tomem outro barco" em resposta a uma colocação de Lacalle Pou sobre a necessidade de flexibilizar o Mercosul.

Lacalle Pou e Fernández tiveram dois encontros depois dessa ocasião, um no Uruguai e outro em Buenos Aires. Segundo o uruguaio, o argentino, apesar de contrariado, havia aceito a posição do vizinho. Apesar disso, na quarta-feira (8), o governo argentino se disse "surpreendido" pelo avanço do Uruguai.

A China é o principal parceiro comercial do país —27% dos produtos uruguaios, principalmente do setor agropecuário, como lácteos, carne e soja, são exportados para o gigante asiático.

Enquanto isso, continua o impasse com relação à proposta de redução da Tarifa Externa Comum por parte do Brasil. A Argentina afirma ser contra uma redução radical, defendendo uma transição gradual. A gestão de Fernández afirma querer proteger alguns setores da indústria, como o automobilísitico, a metalurgia e a indústria têxtil.

 

FONTE: FOLHA DE S.PAULO

 

Camelôs na Rua XV de Novembro, em Curitiba: trabalho que não contará tempo para a aposentadoria. | Antônio More/Gazeta do Povo

IMAGEM: ANTONIO MORE/GAZETA DO POVO

 

Quem está sem emprego regular, trabalhando por conta própria, ou mesmo desempregado, tem alternativas para manter a contribuição ao INSS e garantir uma renda na inatividade. Mas é preciso atenção aos detalhes, dizem especialistas

A pandemia levou o país a um índice recorde de desemprego. Atualmente, 14,4 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estão fora do mercado de trabalho. Além disso, o número de trabalhadores informais e por conta própria disparou. A taxa de informalidade no trimestre encerrado em junho foi de 40,6% — ou 35 milhões de informais no país, 2,5 milhões a mais que em 2020. Para garantir a aposentadoria, muitos informais se filiam à Previdência como contribuintes individuais ou facultativos. Mas é preciso analisar, com cuidado, aspectos como o percentual da contribuição e o valor futuro da renda mensal a que terão direito. Muita gente não sabe, por exemplo, que pode não fazer jus à aposentadoria por tempo de contribuição e, em alguns casos, receberá apenas o salário mínimo.

Como regra geral, quem está sem emprego regular pode se inscrever no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na modalidade “contribuinte facultativo”. Nesse caso, a base de cálculo da contribuição varia entre o valor do salário mínimo (R$ 1,1 mil atualmente) e o teto do INSS, de R$ 6.433,57. E há três opções de alíquotas: 20%, 11% e 5%.

A alíquota de 20% é a mais geral e permite, dependendo da base de contribuição, obter uma aposentadoria até o teto do INSS. A de 11% corresponde ao plano simplificado, e obriga o contribuinte a ter como base de cálculo o salário mínimo. Nesse caso, o cidadão deve contribuir com R$ 121 por mês e, ao se aposentar, receberá mensalmente o equivalente ao piso salarial.

A alíquota de 5% é voltada ao segurado facultativo que se enquadre como membro de família de baixa renda inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). A base de cálculo também é de um salário-mínimo. Logo, o contribuinte deve pagar R$ 55 mensalmente.

Detalhes

Os especialistas observam que é preciso ficar atento aos detalhes. Para os autônomos, ou contribuintes individuais, há dois planos e duas alíquotas de contribuição, de acordo com o INSS. O plano completo, com alíquota de 20%, dá direito a aposentadoria por tempo de contribuição e à possibilidade de ganho acima do salário mínimo. Já o plano simplificado tem alíquota de 11% sobre o salário mínimo — com direito a apenas um salário mínimo de renda na aposentadoria. Nesse caso, “não há possibilidade de aposentadoria por tempo de contribuição, mas, sim, de aposentadoria por idade”, informa o INSS.

O INSS explica que os trabalhadores por conta própria podem também contribuir como Microempreendedores Individuais (MEI). Para se tornar um MEI, é preciso fazer a inscrição no Portal do Trabalhador. Por meio do site, a pessoa recebe um número de CNPJ e caracteriza-se como pessoa jurídica.

Por se enquadrar como MEI o empreendedor que tenha faturamento de até R$ 81 mil por ano. “Dividindo esse valor por 12 meses, temos uma média de R$ 6.750 por mês. Após se formalizar, o empreendedor deve permanecer dentro desse limite anual e mensal, para garantir que a empresa fique regular e tenha acesso aos benefícios oferecidos pela categoria”, aponta Eduardo Marciano, gerente do Departamento Pessoal da King Contabilidade.

Quem está na informalidade e está pensando em se regularizar para ter direito a benefícios e à aposentadoria do INSS precisa se cadastrar e gerar o número de inscrição do trabalhador (NIT). “Se já for cadastrado no PIS, no Pasep e tiver o NIS (número de identificação social), esse já é o seu número de inscrição no INSS”, detalha Eduardo Marciano. A forma de contribuição do contribuinte individual para o INSS é por meio da Guia de Recolhimento da Previdência Social (GPS).

MEI oferece vantagens

Uma alternativa que tem sido muito usada, principalmente para autônomos e por quem está começando a empreender é a inscrição como Microempreendedor Individual (MEI). “A vantagem do MEI é poder recolher todos os impostos, como ISS e ICMS, em um valor muito baixo, além da contribuição previdenciária com uma alíquota reduzida de 5% sobre o salário mínimo. Mas o MEI só tem direito a aposentadoria por idade que, com a reforma da Previdência, para o ano de 2021, exige 65 anos dos homens e 61 das mulheres”, observa Thiago Luchin, sócio na Aith, Badari e Luchin Advogados.

A figura do MEI difere do autônomo, que é uma pessoa física e terá como identificação o número do CPF, para fins da emissão da Recibo de Pagamento de Autônomo (RPA), pelo qual serão feitos os recolhimentos do INSS, ISS e IRRF. Já o MEI é dono de um pequeno negócio, e tem um número de CNPJ que será usado para emissão de notas fiscais e tributos a pagar.

Renata Leal Ferrarezi, advogada tributarista e consultora empresarial, destaca, entre os benefícios do MEI, a aposentadoria por idade, desde que se comprove o recolhimento de 180 contribuições mensais (15 anos). O MEI tem direito ainda a aposentadoria por invalidez e auxílio doença, após pagamento de 12 contribuições; a salário-maternidade, depois de 10 parcelas; e a pensão por morte e a auxílio-reclusão, a partir do primeiro recolhimento.

Requisitos

Para obter a aposentadoria, o MEI que já era formalizado antes de 13 de novembro de 2019 deve comprovar idade de 60 anos (mulheres) ou 65 anos (homens). Para os que começaram a contribuir a partir de 2019, os requisitos são: idade de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres e tempo de contribuição de 20 anos para homens e de 15 anos para mulheres.

“Na hipótese de a pessoa já ter contribuído para a Previdência Social antes de ser formalizada como MEI, esse tempo é considerado para a concessão do benefício, e, na hipótese de o MEI exercer outra profissão, deve continuar recolhendo a contribuição previdenciária nas duas atividades”, ressalta Renata Leal Ferrarezi.

O MEI faz os recolhimentos mensais para o Simples Nacional, pois é através dele que é feita a fiscalização e a cobrança de tributos aplicados às empresas de pequeno porte. Para gerar os boletos e pagar, deve acessar o Portal do Empreendedor, na aba Carnê MEI–DAS, e informar o número do CNPJ para imprimir os boletos. Ou fazer a opção pelo débito automático no Portal do Simples Nacional, no menu “Simei Serviços”, opção Débito Automático.

 

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

IMAGEM: COMEX DO BRASIL

 

O presidente da República, Jair Bolsonaro, editou decreto que torna pública a decisão do Brasil de não renovar, a partir de 7 de outubro de 2021, a vigência do Convênio sobre Transporte Marítimo entre a República Federativa do Brasil e a República Oriental do Uruguai, celebrado em 12 de junho de 1975, e, a partir de 5 de fevereiro de 2022, a vigência do Acordo sobre Transportes Marítimos entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina, celebrado em 15 de agosto de 1985.

A medida contribui para o processo de acessão do Brasil à OCDE, que é uma das prioridades da política externa brasileira, além de incentivar a concorrência e a competitividade na prestação de serviços do setor.

A decisão foi tomada na 2ª Reunião Ordinária do Conselho de Estratégia Comercial da CAMEX, realizada em 09 de dezembro de 2020, tendo sido comunicada ao governo do Uruguai em 09.02.2021, bem como ao governo da Argentina em 03.02.2021. A possibilidade de não-renovação está prevista expressamente nos próprios tratados - Artigo XXXI do Convênio Brasil-Uruguai e Artigo XIV do Acordo Brasil-Argentina, bem como na Convenção de Viena de 1969 que, por sua vez, remete às disposições dos respectivos tratados.

Decreto nº 10.786, de 6 de setembro de 2021

Torna pública a decisão, pela República Federativa do Brasil, de não renovar a vigência do Convênio entre a República Federativa do Brasil e a República Oriental do Uruguai sobre Transporte Marítimo, firmado em Rivera, em 12 de junho de 1975, e do Acordo sobre Transportes Marítimos entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina, firmado em Buenos Aires, em 15 de agosto de 1985.

 

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, caput, incisos IV e VIII, da Constituição, e Considerando que o Convênio entre a República Federativa do Brasil e a República Oriental do Uruguai sobre Transporte Marítimo, firmado em Rivera, em 12 de junho de 1975, foi promulgado pelo Decreto nº 78.621, de 25 de outubro de 1976;

Considerando que o Acordo sobre Transportes Marítimos entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina, firmado em Buenos Aires, em 15 de agosto de 1985, foi promulgado pelo Decreto nº 99.040, de 6 de março de 1990;

Considerando que a República Federativa do Brasil comunicou a República Oriental do Uruguai, em 9 de fevereiro de 2021, acerca da decisão de não renovar o referido Convênio; e Considerando que a República Federativa do Brasil comunicou a República Argentina, em 3 de fevereiro de 2021, acerca da decisão de não renovar o referido Acordo;

DECRETA:

Art. 1º Torna pública a decisão, pela República Federativa do Brasil, de não renovar a vigência do: Ver tópico

- o Convênio entre a República Federativa do Brasil e a República Oriental do Uruguai sobre Transporte Marítimo, firmado em Rivera, em 12 de junho de 1975, promulgado pelo Decreto nº 78.621, de 25 de outubro de 1976; e Ver tópico

II - o Acordo sobre Transportes Marítimos entre a República Federativa do Brasil e a República Argentina, firmado em Buenos Aires, em 15 de agosto de 1985, promulgado pelo Decreto nº 99.040, de 6 de março de 1990. 

Art. 2º Ficam revogados: Ver tópico

- o Decreto nº 78.621, de 1976; e Ver tópico

II - o Decreto nº 99.040, de 1990. Ver tópico

Art. 3º Este Decreto entra em vigor: Ver tópico

- na data de sua publicação, quanto ao art. 1º; Ver tópico

II - em 7 de outubro de 2021, quanto ao inciso I do caput do art. 2º; e Ver tópico

III - em 5 de fevereiro de 2022, quanto ao inciso II do caput do art. 2º. Ver tópico

Brasília, 6 de setembro de 2021; 200º da Independência e 133º da República.

JAIR MESSIAS BOLSONARO

Carlos Alberto Franco França

Paulo Guedes

Este texto não substitui o publicado no DOU de 8.9.2021

 

FONTE: SECRETARIA GERAL PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Sindicalismo, STF e a sombra da ditadura

IMAGEM: DISPARADA

 

Nossa vitória contra a MP 1.045 no Senado e todas as mazelas e perversidades que a proposta aprovada pelos deputados traria para os trabalhadores não foi o êxito de uma batalha qualquer.

Nossa vitória, companheiros e companheiras, não foi por sorte. A vitória, maiúscula, coroou trabalho parlamentar que vem sendo construído com paciência e inteligência pelas centrais sindicais, sob as relevantes assessorias do Diap e do Dieese. Esse trabalho precisa continuar, se fortalecer e se consolidar no Congresso.

Para fazer frente e superar a profunda crise econômica que passa o Brasil, precisamos antes, superar a grave crise política que solapa o País e destrói as condições para superar as demais crises que puxaram o Brasil para o fundo do poço.

Para isso, precisamos centrar esforços na unidade de ações — das centrais aos sindicatos —, a fim de empreender vigoroso trabalho no Congresso e nas bases para não permitir que haja mais retrocesso, como o que a MP 1.045, aprovada na Câmara, queria impor aos trabalhadores.

São os empresários, com apoio da maioria neoliberal na Câmara, querendo impor aos trabalhadores, sempre mais perdas e sofrimentos.

Atuação no Senado
As centrais orientaram as regionais a falar com os senadores nas bases deles. Na Paraíba, por exemplo, os 3 senadores votaram contra a MP. Isso foi fruto do persistente trabalho que desenvolvemos no Senado.

As bancadas do Espírito Santo e Paraná também votaram em peso contra o governo e a favor dos trabalhadores. Merecem as nossas homenagens.

Nesta batalha avançamos, é fato. Mas cada caso é um caso. Cada votação é uma votação. De todo modo, temos que trabalhar muito, sempre, pois vencemos apenas uma batalha. Há várias outras em curso.

Esse êxito teve duplo significado. Ao mesmo tempo em que derrotamos a MP impusemos derrota também ao perverso governo de Bolsonaro/Guedes.

Para o êxito dessa luta vários senadores foram decisivos. Destaco Paulo Paim (PT-RS), Eduardo Braga (MDB-AM) e Oto Alencar (PSD-BA). O apoio de senadores do centro foi fundamental.

Diap e Dieese
Esse trabalho político-parlamentar-econômico das centrais sindicais conta com a assessoria de 2 institutos — Diap e Dieese. Sem estes órgãos de assessoramento não seria possível intervir com qualidade no processo legislativo, a fim de lutar pelas agendas do movimento sindical no Congresso.

De um lado, o Diap, que faz a análise das proposições em tramitação no Legislativo e nos subsidia para que sejamos certeiros no diagnóstico do processo. E também para atuar de forma a errar o mínimo possível e buscar êxito como o que tivemos na última quarta-feira (1º), quando derrotamos o governo ao mandar para o arquivo a perversa MP 1.045.

De outro, o Dieese, que nos subsidia com as análises econômicas tão imprescindíveis para entender, no plano da economia, os impactos das nefastas propostas do governo Bolsonaro/Guedes para os trabalhadores.

Precisamos voltar a financiar ambas as entidades, que são patrimônio do movimento sindical. Sem nosso apoio efetivo, ativo e financeiro, essas entidades continuarão a funcionar sob graves dificuldades de subsistência mínima.

É tarefa do movimento sindical soerguer ambas as entidades. Chega de discurso. É hora de voltar a contribuir com o Diap e o Dieese. A entidade que não for filiada tem obrigação de sê-la. O que falta para se compreender essa necessidade fundamental?

Não aos retrocessos
A vitória no Senado nos encheu de ânimo e força para dizer não aos retrocessos, ao ódio, ao autoritarismo, à violência, aos ataques aos direitos do povo e às instituições da democracia, como o Congresso, a Justiça, a imprensa e os sindicatos.

Aos trabalhadores só interessa a democracia, pois é neste regime político que poderemos nos mobilizar e lutar contra tudo aquilo que nos prejudica como classe social. Foi e é a democracia que nos permitiu ir ao Senado e dizer um rotundo “não” à “MP do Mal”.

Portanto, os trabalhadores, não devemos arredar nenhum milímetro em defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito, pois só nesse ambiente político que poderemos manter nossa luta por vida melhor e contra retrocessos de quaisquer natureza. A Luta faz a Lei!

(*) Presidente da Força Sindical, da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos) e do Sindicato do Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.

Miguel Torres*

FONTE: DIAP

A pesca do atum foi mais fraca em 2015. Foto: FAO

IMAGEM: FAO/ONU NEWS

 

Com a pandemia do coronavírus e as restrições das atividades econômicas em muitos países, o Rio Grande do Norte se destacou ainda mais nas exportações de atum nos últimos tempos, por ser um dos peixes mais demandados pelos consumidores internacionais. Em 2021 a produção potiguar, até o fim do mês de julho, foi de 2.500 toneladas. Desse total, 1.700 toneladas foram para exportação, principalmente para os Estados Unidos. 

Atualmente 70% das capturas da pesca industrial - atum, meca e lagosta - no Rio Grande do Norte vão para exportação e 30% ficam no mercado interno. De 1 de Janeiro a 31 de Julho deste ano, a produção gerou um montante de aproximadamente US$ 20 milhões de dólares, com US$ 14 milhões referentes ao comércio dos peixes e US$ 6 milhões das lagostas. No ano passado, a produção total representou um faturamento de aproximadamente 9 milhões de dólares.
 
A evolução no setor no estado é explicada diante do aumento de empresas de pequeno e médio porte com o crescimento de embarcações trabalhando especificamente na pesca do atum. "A produção foi sensacional e a procura também. Trabalhamos duro, mas conseguimos gerar empregos, mesmo em meio a uma pandemia", disse o empresário Marcelo Martini, proprietário de empresa que atua no mercado há quatro anos e tem produção média de 10 toneladas por mês.  
 
O empresário explicou que sua empresa, a Martuna Pescados, faz a captura e o beneficiamento e comercializa pescados nobres. A pesca é feita pela modalidade Espinhel Horizontal, tendo como foco a pesca oceânica, de forma sustentável. Os barcos são equipados com tecnologia de última geração, operando na zona econômica exclusiva brasileira, como também em águas internacionais. "Hoje, temos 20 colaboradores na Martuna Pescados e, além de exportar para os EUA, também comercializamos para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte", destaca o empresário. 
 
Brasil
 
Com o esgotamento dos recursos pesqueiros costeiros, a principal alternativa para o desenvolvimento do setor pesqueiro nacional, excetuando-se a aqüicultura, reside na pesca oceânica, voltada para a captura de atuns e peixes afins. Tanto que mesmo com entraves, como falta de mão-de-obra especializada, tecnologia e embarcações adequadas, ainda existem vantagens para essa modalidade. Entre elas, a localização geográfica. As frotas operando a partir de portos brasileiros alcançam cardumes mais rapidamente, enquanto que países com tradição pesqueira, como Japão, Taiwan, Coréia, Espanha e Portugal são obrigados a viajar mais de 20.000 km para atingir áreas de pesca.
 
FONTE: TRIBUNA DO NORTE

 

IMAGEM: ELECTRIVE.COM

 

O nome da embarcação é Alphenaar e usa uma inovadora tecnologia com contêineres com baterias de íon de lítio para entregar sua carga sem emissões de carbono. O primeiro cliente do navio elétrico será a Heineken, que planeja ser uma empresa neutra em carbono até 2030.

O Alphenaar usa contêineres de tamanho padrão de 6 metros com uma bateria no total de 2 MWh, o equivalente a 36 carros. Elas podem – e aqui está a maior inovação – serem trocadas em uma estação portuário, com a mesma facilidade que os contêineres de cerveja.

Ambições para navios elétricos

A fabricante, Zero Emission Services, pretende criar uma frota fluvial com oito navios, oito estações de recarga, e 14 contêineres de bateria. Eventualmente, a empresa pretende ter 30 rotas diferentes com seus veículos.

Neste momento, há um trajeto só, usado pela Heineken, e as baterias serão trocadas no porto fluvial de Alphen aan den Rijn, e há apenas duas delas: uma para ida, outra para volta. 

Os Países Baixos tem o maior porto da Europa, em Rotterdam, que é ligado por rios não só ao país inteiro, como à França, Alemanha e Suíça. Para distribuir a produção nacional, por um intrincado sistema de rios, canais e estuários que cobre o país inteiro, conta com a maior frota fluvial do planeta.

Com isso, a ZES calcula que 5% das emissões de carbono do país são por navios fluviais. A frota completa da ZES, por seus cálculos, devem economizar 360 mil toneladas de CO2 na atmosfera por ano. No mundo todo, navios representam cerca 3% das emissões de gases-estufa. Mas, como é um setor que cresce e como ainda é totalmente sujo, usando combustível fóssil da pior qualidade, esse número pode chegar a 10% até 2050.

 

FONTE: OLHAR DIGITAL

 

 Aerial view cargo container ship sailing, container cargo ship in import export and business logistic and transportation of international by container ship in the open sea.  -----------  Navio de carga, importação e exportação, leva containers

IMAGEM: AVIGATOR PHOTOGRAPHER/íSTOCKPHOTO

 

As companhias de transporte marítimo de conteineres atingiram lucros de 28,6 bilhões de dólares só no segundo trimestre.

A estimativa é da Blue Alpha Capital, partindo dos resultados tornados públicos por 11 das maiores companhias do setor, e que juntas lucraram 18,44 bilhões de dólares no trimestre. Considerando que aquelas controlam 64,5% da capacidade mundial, e assumindo que as demais terão alcançado idênticas performance, chega-se aos 28,6 bilhões de dólares de lucros.

O resultado agregado do segundo trimestre supera largamente os 19,1 bilhões de dólares de lucros já apurados (seguindo o mesmo critério) no primeiro trimestre, e que constituíram um recorde histórico.

No segundo semestre, as companhias de transporte marítimo de conteineres terão realizado um volume de receitas de 88,9 bilhões de dólares. Um número impressionante, mas mais impressionante, como sublinha o fundador da Blue Alpha Capital, é todo um setor ter atingido uma taxa de rentabilidade média de 32,1%.

 

FONTE: TRANSPORTES&NEGÓCIOS

 

Participantes de mobilizações anteriores dizem que motoristas nos atos desta terça não representam autônomos

Mesmo com a participação de caminhoneiros na manifestações bolsonaristas desta terça (7), líderes da categoria que costumam atuar na organização das tentativas de greve dizem que não acreditam na formação de uma nova paralisação nesta semana.

Para eles, as pautas defendidas nas manifestações não diziam respeito aos pleitos do grupo, por isso não houve incentivo à adesão.

Marconi França, de Pernambuco, diz que "não vai ter paralisação nem no Nordeste, nem em parte alguma do país". O que acontece são protestos bolsonaristas em pontos isolados, segundo ele. 

Nelson de Carvalho Junior, de Barra Mansa, diz que os caminhoneiros nos protestos não equivalem nem a 10% da categoria. Também afirma que eles representam empresas do agronegócio, não demandas de trabalhadores autônomos.

Carlos Alberto Litti Dahmer, caminhoneiro de Ijuí (RS) e diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), também atribui as mobilizações ao agronegócio. "O futuro vai depender do que as grandes empresas que embarcam cargas vão fazer. Acredito que amanhã já é vida normal", afirma.

 

FONTE: FOLHA DE S.PAULO

 

IMAGEM: SITE PT

 

De um lado, 42 novos bilionários, em plena pandemia. De outro, a pobreza extrema não para de subir. A divulgação da nova lista da revista Forbes, com alta no número de bilionários no Brasil, acontece semanas depois de cenas de pessoas comprando ossos para fazer sopa gerarem comoção no país. O que explica tanta desigualdade?.

"É um país que já é muito desigual, integra sempre os primeiros lugares nos rankings de organizações multilaterais em termos de desigualdades, como um dos mais desiguais do mundo. Quando vem um choque totalmente adverso como esse, na economia, acaba por exacerbar ainda mais esse problema pré-existente", resume o economista Gedeão Locks, pesquisador sobre o tema no Centre d'Économie de la Sorbonne (CES), em Paris.

A maioria desses novos bilionários ascendeu ao posto graças à abertura de capital das suas empresas na bolsa — no chamado "boom" dos IPOs, na sigla em inglês para a operação. Eles se beneficiaram de uma conjuntura mundial favorável, com a abundância de liquidez nos mercados financeiros — especialmente os que se posicionam na área de tecnologia e saúde.

"Essa notícia dos bilionários em plena crise diz muito sobre o novo perfil dos ricos. A riqueza hoje está concentrada principalmente nos frutos das atividades no mercado financeiro. E isso, no Brasil, representa de fato muito da nossa concentração de riquezas", afirma Débora Freire, também especialista no tema e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Isso exacerba ainda mais o fato de que são os ricos que detêm ações no mercado financeiro e, se elas se valorizaram, eles ficam mais ricos durante a pandemia", complementa Locks.

Economia real

O problema é que, ao se tornarem bilionários pela valorização de ações, a maior riqueza dessa parcela da população não significa ganhos para a economia como um todo — não gerou mais empregos, tampouco mais distribuição de renda pela arrecadação de impostos.

"Enquanto o setor financeiro se beneficiou, a economia real foi impactada fortemente. A produção, os investimentos, que de fato ampliam a capacidade produtiva da economia, os empregos, a renda gerada no trabalho, foram fortemente impactados", indica Freire. "E esses setores — comércio, serviços — são os que empregam a mão de obra menos qualificada. Então a maior parte da população, e mais vulnerável, que trabalha sem carteira assinada, para ganhar um salário mínimo, foi tremendamente abalada.".

Reforma tributária não corrige distorções

Um instrumento de correção dessas distorções seria uma tabela de Imposto de Renda mais progressiva. A alíquota máxima no Brasil é de 27,5% e atinge todos os que ganham mais de R$ 5,3 mil por mês — uma situação que a reforma tributária apresentada pelo governo não alterou.

"A alíquota marginal efetiva, ou seja, o quanto que é efetivamente o imposto dos mais ricos do Brasil, é insignificante. Especialistas do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) calcularam entre 7 e 8%, enquanto que uma pessoa que ganha um salário mínimo paga quase a metade da renda em impostos diretos e indiretos. É algo que não faz sentido algum", aponta Locks.

A reforma pautada pelo Ministério da Economia também propõe a isenção de impostos de pessoas jurídicas e autônomos cujas empresas faturam até R$ 4,8 milhões. Trabalhadores com renda até R$ 2,5 mil também ficam isentos, mas a medida se revela pouco efetiva, num país em que 41% dos trabalhadores estão na informalidade, segundo o IBGE.

Por outro lado, a tributação dos dividendos finalmente entrou na pauta — embora de maneira limitada, ao atingir apenas os ganhos superiores a R$ 2,8 milhões. "Por mais que a reforma seja um pouco bagunçada, é um avanço institucional que haja a cobrança de impostos sobre dividendos. Apesar de não ser uma grande arrecadação, isso é um passo na direção correta da progressividade tributária no Brasil", observa o pesquisador da Sorbonne.

Recuperação desigual

Da mesma forma em que a crise atingiu os brasileiros de maneira desigual, a recuperação econômica também será mais demorada para a base da pirâmide, que naturalmente fica mais exposta a uma depressão. A reabertura de postos de trabalho ainda é lenta, ressalta Freire.

"A recuperação foi para poucos. Recuperar o tecido social perdido, pessoas que estavam num emprego formal que foi perdido ou que, mesmo na informalidade, tinham rendimentos menos voláteis, é muito mais difícil e demorado", ressalta a professora da UFMG. "Quanto mais a gente aprofunda a pobreza — voltamos para o mapa da fome, por exemplo, e temos visto um aumento muito significativo da pobreza extrema —, mais difícil é de recuperar."

 

FONTE: rfi

Estiagem afeta o transporte de carga na Hidrovia Tietê-Paraná — Foto: TV TEM/ Reprodução

 IMAGEM: TV TEM/ Reprodução

Setor reclama de atraso em obra que eliminaria principal gargalo da rota

 

seca sobre a bacia do rio Paraná já interrompeu a principal rota de grãos da Hidrovia Tietê-Paraná, que liga produtores do Centro-Oeste a um terminal ferroviário em Pederneiras (SP), limitando as operações a um trecho da via mais próximo ao rio Paraná.

Segundo a Fenavega (Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária), o último comboio de grãos do Centro-Oeste fez o trajeto até Pederneiras na semana passada. O setor trabalha agora para tentar garantir o retorno o mais rápido possível.

É a segunda suspensão da rota devido ao baixo nível das águas e o mercado critica atrasos na conclusão de obras prometidas pelo governo federal após a primeira paralisação, entre 2014 e 2015, que gerou um prejuízo de R$ 700 milhões.

As obras que garantiriam o fluxo mesmo com nível de águas mais baixo deveriam ser concluídas em 2017, mas o prazo já foi adiado duas vezes. O objetivo do projeto é aumentar em dois metros a profundidade de um trecho próximo à hidrelétrica Nova Avanhandava, em Buritama.
 

"O que acontece ali é falta de investimento", diz o presidente da Fenavega, Raimundo Holanda, que também ocupa uma das vice-presidências da CNT (Confederação Nacional do Transporte). "Existe projeto mas não existe recurso, porque navegação não dá voto, não chama a atenção do povo."

A obra atrasada compreende a implosão de um pedral na rota das barcaças para a eclusa de Nova Avanhandava. A rocha reduz a profundidade do rio e, desde que as águas começaram a baixar, os comboios vinham operando com capacidade de carga reduzida. 

Para garantir o tráfego com o nível mais baixo, o trecho vinha operando sob um esquema especial de "pulsos" de água: quando o comboio se aproximava, a hidrelétrica liberava água para aumentar o nível rio abaixo e permitir a passagem das barcaças sobre o pedral.

Mas o nível baixou tanto que os transportadores já não consideram vantajoso trafegar com tão pouca carga. "Chegou no limite", diz Holanda. O tráfego é mantido apenas no chamado corredor sul da hidrovia, já depois do encontro do Tietê com o Paraná.

Ainda assim, de maneira precária, com a capacidade das barcaças também limitada. Operadora neste trecho, a Hidrovias do Brasil diz que segue tomando todas as medidas possíveis para tentar evitar uma parada de suas rotas.

"A situação dos rios da região segue atípica, com nível de calado abaixo das médias históricas", disse a empresa, em nota divulgada nesta quarta (1), na qual diz que vem enfrentando grandes restrições operacionais.

A região, que passa pela pior seca desde que os registros começaram a ser feitos, é também de fundamental importância para o setor elétrico, já que os reservatórios de suas hidrelétricas concentram dois terços da capacidade de armazenamento de energia do subsistema elétrico Sudeste/Centro-Oeste. 

Com a paralisação do transporte de cargas entre o Centro-Oeste e Pederneiras, espera-se aumento do custo logístico da produção agrícola e elevação no fluxo de caminhões nas estradas paulistas. Segundo estatísticas do governo paulista, em 2020 passaram pela hidrovia 6,16 milhões de toneladas de carga.

"Perde todo mundo", diz Holanda. "Estamos numa crise hídrica sem precedentes. Não tem chovido nos últimos anos e não está acumulado água. E não existe planejamento para combater crises hídricas e energéticas."

Convênio assinado em dezembro de 2014 pelo governo de São Paulo e pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) previa a transferência de R$ 313 milhões (R$ 452 milhões a valores de hoje) em recursos federais para as obras no canal de Nova Avanhandava.

O texto estipulava um prazo de 916 dias, que terminaria em julho de 2017. Em 2019, já após o primeiro adiamento do prazo, o contrato entre o governo estadual e a construtora responsável pelas obras foi rompido por dificuldades financeiras do fornecedor.

Desde então os governos Jair Bolsonaro e João Doria discutem a retomada do projeto — para o governo paulista, o impasse indica má vontade do governo federal com o adversário político. Em janeiro de 2020, o prazo das obras foi estendido em mais 1.346 dias, com vigência até setembro de 2023.

Agora, o governo Bolsonaro prevê usar recursos da capitalização da Eletrobras para concluir a obra, incluída entre as obrigações financeiras que a estatal terá após a venda de ações prevista para o primeiro trimestre de 2022.

Ela é parte de um orçamento de R$ 230 milhões reservados para melhoria na área de influência de hidrelétricas de Furnas. O projeto prevê também aportes para melhorar a navegabilidade dos rios Madeira e Tocantins, este último também restrito por um pedral.

 

FONTE: FOLHA DE S.PAULO

 

IMAGEM: CLIQUEDIARIO.COM.BR

 

A democracia brasileira saiu mais fraca do seu 199º aniversário da independência do Brasil, analisa a cientista política Amy Erica Smith, especialista em democracia e regimes autoritários na América Latina, particularmente no Brasil.

Em protestos que atraíram centenas de milhares de pessoas neste 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não cumprirá decisões judiciais, ameaçou fechar o Supremo Tribunal Federal, disse que um dos ministros, Alexandre de Moraes, "açoita a democracia", chamou o processo eleitoral sem voto impresso de "farsa" e disse que apenas Deus pode tirá-lo da Presidência.

"É possível que as coisas agora tenham chegado a um ponto tão ruim que forcem a ação de outros poderes", opina ela.

Após Bolsonaro intensificar os ataques ao Supremo e ameaçar não cumprir decisões do ministro Alexandre de Moraes, aumentaram as cobranças pela abertura de um processo de impeachment no Congresso.

Para a estudiosa, a demonstração de força de Bolsonaro não foi um "fracasso total", dado o número de pessoas que ele atraiu e a disseminação de suas palavras, mas deixou claro que Bolsonaro não reúne condições de dar um golpe. "Se tivesse, ele já teria dado".

Smith observa que Bolsonaro e seus apoiadores tentam projetar uma imagem de lideranças da direita global, com placas em inglês contra o STF e apoio de ex-assessores de Trump em suas empreitadas, mas, para a maioria da audiência internacional, "Bolsonaro pinta o Brasil como uma república das bananas".

Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Amy Erica Smith à BBC News Brasil, editadas por clareza e concisão.

BBC News Brasil - Como qualifica os acontecimentos desse 7 de setembro?

Amy Erica Smith - A multidão tinha um tamanho razoável e o discurso de Bolsonaro está mais radical, talvez o mais radical que se possa ser sem provocar um confronto direto e imediato. O tipo de ataque que ele fez ao ministro Alexandre de Moraes hoje cruza a linha da democracia. As coisas que Bolsonaro disse não satisfazem os mínimos requisitos da democracia e, se for permitido que ele continue a fazer esse tipo de declaração, as coisas ficarão muito ruins no Brasil.

Ele até poderia recuar, mas não acredito que irá. A essa altura, nós já vimos o suficiente pra identificar um padrão de alguém que vai gradualmente ficando mais e mais radical. Declarações como "só saio da presidência morto" são extremamente anti-democráticas, assim como tudo o que ele disse hoje. Desse ponto em diante, as coisas só pioram.

BBC News Brasil - Alguns analistas, como o filósofo Marcos Nobre, veem nos movimentos de Bolsonaro em 7 de setembro uma espécie de ensaio do golpe, um teste de quão longe se pode ir. A senhora concorda?

Smith - Se Bolsonaro tivesse apoio para um golpe, provavelmente ele já teria dado um golpe. Muito do que ele faz é projetado para tentar atrair mais pessoas para o seu lado e viabilizar um golpe. Está claro que, se pudesse ter fechado o Supremo Tribunal Federal há um ano, ele já teria feito isso.

Mas ele não tem apoio institucional para fazer isso, nem dos militares nem de outros políticos. E se tentasse, não conseguiria se segurar no poder. Então acho que o termo ensaio não cabe, porque a verdade é que se ele tivesse tido condições de dar um golpe ontem, ele teria dado. E seus apoiadores também teriam apoiado o golpe se ele tivesse tentado.

O que eu acho que Bolsonaro está fazendo é deliberadamente mostrando que seu interesse é golpista e tentando arregimentar pessoas pra sua causa. Isso é mais um alerta do que ele gostaria de fazer se conseguisse obter mais poder. E eu acho que foi uma tentativa também de satisfazer alguns de seus apoiadores mais radicais, que pediam por esse tipo de comportamento. Então ele manda uma mensagem para esses apoiadores ao mesmo tempo em que tenta intimidar o Supremo e Congresso. E, honestamente, não vejo como isso possa ter funcionado, nem para intimidar, nem para ganhar novos apoiadores.

BBC News Brasil - Bolsonaro terminou o sete de setembro mais forte ou mais fraco do que começou o dia?

Smith - Não acho que foi um fracasso completo. Ele conseguiu reunir uma massa moderadamente grande. Não foi uma massa esmagadora, mas atraiu público e conseguiu levar seus discursos à TV. Mas em termos eleitorais práticos, a popularidade dele ainda está na casa de 20% e não houve ali nenhum sinal de que ele tem poder suficiente para mobilizar eleitores a ponto de alterar o cálculo eleitoral dos partidos em favor dele.

Já em relação à crise institucional, ao conflito com outros poderes, Bolsonaro termina o dia bem mais radical e aparentemente tendo dito coisas que podem levar a ações legais contra ele no Supremo e ao seu impeachment no Congresso. Esses são cenários possíveis. Então, ele sai do sete de setembro mais vulnerável em relação aos demais poderes. E podemos esperar resposta ao menos da Suprema Corte, com certeza.

BBC News Brasil - O Brasil vive uma crise institucional grave. Hoje o presidente disse que só Deus o tira do cargo, que não cumprirá decisões judiciais de um dos ministros do Supremo e que não participará do que chamou de "farsa" das eleições sem votos impresso. Com isso, afrontou o Congresso e a Suprema Corte. Como fica a democracia depois disso?

Smith - O que está claro é que a democracia brasileira saiu do sete de setembro mais fraca, em uma crise maior. Mas é possível que agora as coisas tenham chegado a um ponto tão ruim que forcem a ação de outros poderes. A democracia brasileira está em grande risco, especialmente com as ameaças ao Supremo.

BBC News Brasil - Alguns líderes partidários voltaram a falar em impeachment, e esse é um assunto que tem rondado a gestão Bolsonaro, mas nunca como algo viável. Isso pode ter mudado ontem?

Smith - As coisas que Bolsonaro falou ontem certamente aumentam suas chances de sofrer um impeachment. O sete de setembro pode ser o começo do fim pra ele.

Ele chamou o Conselho da República (órgão que decide sobre intervenção federal) e disse que mostraria a eles a fotografia do povo. Isso, em outras condições, seria o chamamento para o golpe. Mas as pessoas que compõem esse Conselho da República não dirão: 'sim, senhor, vamos dar um golpe'. Então é difícil entender os reais efeitos do que Bolsonaro diz. É bizarro imaginar que ele pense que os demais chefes de poderes vão coadunar com essa ideia. Não é possível que ele próprio acredite nisso. Pode ser um teatro político, mas não deixa de ser perigoso.

BBC News Brasil - A economia brasileira patina, e investidores estrangeiros não se sentem confortáveis em trazer seu dinheiro ao país. Como diferentes observadores internacionais veem o que acontece no Brasil e o que esperam do país?

Smith - É terrível para os negócios e os manifestos do agronegócio e de empresários brasileiros contra as ações de Bolsonaro mostram isso. Bolsonaro pinta o Brasil como uma república das bananas. O que estamos vendo hoje é uma instabilidade extrema e o que o presidente promete aos investidores é ainda mais instabilidade por vir. O comportamento de Bolsonaro em si é péssimo para atrair os investimentos. Essa instabilidade política poderia ser resolvida com um novo presidente, mas parte dos danos à imagem do Brasil no exterior, a relações com os EUA e a Europa, essas coisas demoram mais tempo a serem reparadas.

BBC News Brasil - Ainda em relação às relações internacionais, como vê o fato de ex-assessores de Trump, como Jason Miller e Steve Bannon, mostrarem tanta proximidade e interesse com o governo - e a campanha - de Bolsonaro?

Smith - Não são só os assessores, mas também chama a atenção a quantidade de placas em inglês carregadas por bolsonaristas. E isso acontece porque a direita, e especialmente a extrema-direita, da qual Bolsonaro faz parte, é um movimento de laços internacionais muito fortes. Isso é muito emblemático de que o presidente se vê como parte de uma direita global e acredita que ela poderá ajudá-lo. Mas a verdade é que a direita global - e especialmente a americana - não é mais tão poderosa quanto já foi e não será capaz de ajudá-lo nessa crise institucional. Todo o apoio do mundo de Trump e seu grupo não salvarão Bolsonaro. E isso seria verdade mesmo se Trump ainda fosse presidente, mas é ainda mais óbvio agora que Trump está fora do poder.

BBC News Brasil - Vimos manifestações contra e a favor de Bolsonaro no sete de setembro. Ambas diziam defender a democracia. O que significa essa contradição?

Smith - Isso é algo muito perigoso para a democracia, porque a situação de polarização e partidarização atingiu tal nível que pessoas com ideias totalmente opostas do que democracia signifique estejam dispostas a lutar até o fim umas com as outras enquanto supostamente defendem a mesma coisa. Isso é uma prova da tensão do estado de coisas na democracia brasileira.

 

FONTE: BBC

Carteira de trabalho — Foto: Jorge Júnior

IMAGEM: JORGE JÚNIOR/G1

Centrais propõem “debate sobre políticas de geração, proteção e recuperação de empregos e de renda”

Ainda sob as comemorações pela derrota imposta ao governo pelo Senado, ao rejeitar a MP 1.045/21 na quarta-feira (1º), as centrais sindicais editaram nota sobre a importante vitória dessa batalha contra a precarização do trabalho que a MP aprovada pelos deputados impunha aos trabalhadores.

“A derrota desta nefasta artimanha do governo resulta da organização das entidades sindicais, da unidade das centrais sindicais, da persistência dos sindicatos, federações, confederações, que não pouparam esforços em buscar um diálogo com o Senado e expor rapidamente os prejuízos sociais e econômicos contemplados na medida”, consta na nota divulgada nesta quinta-feira (2) pelas entidades.

A derrota da MP, “Resulta [, portanto,] do compromisso do Senado Federal, como Casa revisora, com a sociedade, evitando uma nova onda de retirada de direitos dos trabalhadores.”

 

 

MP 1045: Trabalhadores pressionam e Senado rejeita nova retirada de direitos

As Centrais Sindicais comemoram a vitória contra a Medida Provisória 1.045/2021, ocorrida no senado federal no dia 01/09/2021.

A medida, com seus jabutis que configuravam uma minirreforma trabalhista, propunha o aumento da desproteção social e previdenciária e a desvalorização dos sindicatos e da negociação coletiva, precarizando ainda mais as condições de trabalho.

Defendemos sim a manutenção e o incremento de medidas emergenciais para trabalhadores, empregadores e para a população mais vulnerável durante a vigência da pandemia do coronavírus. Acusamos, entretanto, o governo federal de aproveitar-se das necessidades de uma crise que tem levado milhares de brasileiros à morte precoce, para tentar aprovar, sem o devido debate social, dispositivos impopulares, que prejudicariam ainda mais o povo que já sofre com o desemprego, a carestia e o vírus.

A derrota desta nefasta artimanha do governo resulta da organização das entidades sindicais, da unidade das centrais sindicais, da persistência dos sindicatos, federações, confederações, que não pouparam esforços em buscar um diálogo com o Senado e expor rapidamente os prejuízos sociais e econômicos contemplados na medida. Resulta do compromisso do Senado Federal, como Casa Revisora, com a sociedade, evitando uma nova onda de retirada de direitos dos trabalhadores.

Em abril de 2020 a equipe de Paulo Guedes já havia tentado emplacar a famigerada “carteira verde e amarela” que, assim como a MP 1045, promovia a redução de direitos trabalhistas. Naquela ocasião o governo também sofreu uma grande derrota no Senado, impulsionada pela resistência dos trabalhadores.

Reiteramos que qualquer mudança na lei que interfira na vida dos cidadãos e na economia do país deve ser devidamente analisada e debatida no Congresso Nacional, com ampla participação da sociedade, dos trabalhadores, dos empregadores e do governo.

Propomos, desde já, que se abra um debate sobre políticas de geração, proteção e recuperação de empregos e de renda, de economia solidária e popular, de concessão de crédito e valorização de micro e pequenas empresas. Um debate sobre o fortalecimento de políticas públicas com vistas a um desenvolvimento justo e humanitário para o Brasil.

Estamos alertas e preparados para enfrentar qualquer nova ofensiva antissocial tramada pelo ministro da economia em conluio com o presidente da República.

Nossa luta evitou a retirada de direitos!

São Paulo, 03 de setembro de 2021.

Sérgio Nobre, Presidente da Central Única dos Trabalhadores – CUT

Miguel Torres, Presidente da Força Sindical – FS

Ricardo Patah, Presidente da União Geral dos Trabalhadores – UGT

Adilson Araújo, Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB

Antonio Neto, Presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros – CSB

José Reginaldo Inácio, Presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores – NCST

Atnágoras Lopes, Secretário Executivo Nacional da CSP – Conlutas

Edson Carneiro Índio, Secretário Geral da Intersindical, Central da Classe Trabalhadora

Emanuel Melato, Coordenador da Intersindical, Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora

José Gozze, Presidente da Pública Central do Servidor

FONTE: DIAP