Cidadãos aguardam em longa fila para votar, nesta terça-feira, em um colégio eleitoral de North Charleston, na Carolina do Sul (EUA).RICHARD ELLIS / EFE
“Vencer é fácil. Perder nunca é”, diz Trump. “Queremos a ciência em vez de ficção”, diz Biden sobre o comportamento do republicano na pandemia.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parece ter chegado à terça-feira (3), dia em que se encerra a votação para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, mais cauteloso, pelo menos nos pronunciamentos. Afirmou, por exemplo, que só declararia vitória “quando houver vitória, se houver vitória”. Nos últimos dias, ameaçou “melar” o processo eleitoral, falou em fraude e prometeu judicializar a eleição, provavelmente já consciente das dificuldades em que se encontra diante do democrata Joe Biden. “Vencer é fácil. Perder nunca é fácil. Não para mim”, disse hoje o presidente.
Com estilo conhecido e que inspira o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, Trump atacou a Suprema Corte (o STF do país) pela decisão, que chamou de “terrível”, que as cédulas eleitorais da Pensilvânia possam ser recebidas após a eleição. “Na noite do dia 3, vamos entrar com nossos advogados”, prometeu o presidente.
“Trump tem um exército de advogados para contestar o resultado. A não ser que leve de lavada, ele de fato pode contestar”, diz Thomas Heye, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Trumpismo: o supremacista branco, o desempregado, o terraplanista
“Mas, independentemente de ele perder ou ganhar, o fenômeno do trumpismo, infelizmente, vai continuar. Porque o supremacista branco, o desempregado, o terraplanista, que acha que a liberdade está numa arma de fogo, esse personagem não vai desaparecer por causa de Trump. Ele vai procurar outro ‘pastor’, outro ‘guia’ para seguir”, acrescenta Heye.
Para ele, se a eleição for judicializada e chegar à Suprema Corte, Trump não conseguirá reverter uma decisão do tribunal que lhe seja desfavorável. Mas o cenário que poderia evitar uma briga judicial em torno do resultado seria uma derrota, de fato, acachapante do republicano.” Nesse caso, não tem como ser ‘fraude’, e ele vai voltar a vender apartamentos”, ironiza o professor da UFF. Trump é um bilionário empresário do setor imobiliário.
Na opinião de Heye, se Biden ganhar, o que é esperado por todo o mundo democrático, haverá um retorno “rapidamente ao que Trump tentou destruir, o multilateralismo, o arranjo das relações entre estados mediados por instituições internacionais”. Os exemplos são as Nações Unidas, a Organização dos Estados Americanos (OEA), Fundo Monetário Internacional (FMI).
Durante a pandemia, assim como Bolsonaro, Trump combateu orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da ciência. Os Estados Unidos é o líder do ranking em número de casos e de óbitos por covid-19. Por isso, a pandemia pode ser um fator decisivo, contra Trump, na eleição. “Queremos a ciência em vez de ficção’, disse Biden nesta terça.
O fator Texas
Especialistas discutem ainda sobre as expectativas relativas ao Texas, estado historicamente republicano, mas que teve um comparecimento, considerado recorde, de 9,6 milhões de votos antecipados. Com a expectativa de mudar o quadro no estado, a vice da chapa de Joe Biden, a carismática Kamala Harris, se dedicou a fazer campanha entre os texanos, deixados em segundo plano nas eleições anteriores, na tentativa de levar os 38 delegados do estado ao Colégio Eleitoral.
A população jovem compareceu no Texas, o que pode indicar uma reviravolta na hegemonia republicana, onde cerca de 1 milhão de jovens votaram antes mesmo do dia 3. Alguns deles disseram à imprensa que sua motivação era “tirar” Trump da Casa Branca.
Mas, em se tratando de eleições norte-americanas, fazer previsões é um jogo arriscado, observa Thomas Heye. “O número de jovens do Texas que está indo votar surpreende. Isso vai ter um impacto. Mas esses caras estão indo votar em quem? Tem que esperar para ver. Pode-se ter uma surpresa desagradável (os votos irem pra Trump), mas vamos torcer para que não.”
O The New York Times observou, ao final deste dia 3, que, após meses “de suspense” e temor de problemas durante a votação, “tudo se desenrolou sem grandes interrupções até agora”. Segundo o jornal, “o país está caminhando para o maior comparecimento em um século”. A informação, aparentemente, é favorável a Biden.
O NYT destaca também que 101 milhões de americanos votaram antecipadamente, antes mesmo de as urnas abrirem nesta terça.Esse dado é importante e pode significar uma reação contra o “trumpismo”. Biden mantém, na reta final, uma vantagem de aproximadamente oito pontos percentuais nas pesquisas.
O mundo e o Brasil
Se, para o mundo, a vitória de Biden significaria a revalorização do multilateralismo, em relação ao Brasil, se eleito, o democrata vai colocar Bolsonaro de escanteio. Mas a retomada de parâmetros civilizados no comportamento da política externa brasileira só acontecerá após 2020, com a eleição de um novo presidente para o lugar de Bolsonaro.
“Temos uma boa diplomacia. Num próximo governo, o Brasil começa a trabalhar para reverter a péssima imagem que temos hoje no exterior. Vai levar tempo, e o país tem que ser hábil. Do jeito que estão acontecendo as coisas, vai se formar um eixo muito poderoso, os Estados Unidos e União Europeia, contra Bolsonaro”, afirma Heye.
Para ele, se Biden for o próximo presidente americano, o Brasil vai ser “punido” devido às relações de Bolsonaro com Trump. O brasileiro disse que sua preferência por Trump é uma questão de “lealdade”. “Mas a política e o mundo dos negócios são dinâmicos, ou flexíveis. A França, a Alemanha voltarão às boas com o Brasil. Os Estados Unidos passarão a não nos verem mais como vilões ambientais, mas como aliados na luta contra aquecimento global. Isso pode ser feito, mas vai levar um tempo.”
FONTE: REDE BRASIL ATUAL