Hidrovias do Brasil

IMAGEM: HIDROVIAS DO BRASIL/DIVULGAÇÃO

 

Na esteira da descarbonização do planeta, a Hidrovias do Brasil (HBSA3), empresa de logística que tem como sócia a gestora de recursos Pátria, iniciou um processo para eletrificação de parte de sua frota.

Até o fim do ano, dois empurradores de manobra desse tipo estarão em operação na Amazônia, onde a companhia opera o transporte hidroviário, sobretudo de grãos.

Só com as duas máquinas, a empresa deixará de emitir 2.168 toneladas de gás carbônico (CO2) na atmosfera – isso equivale às emissões de 472 automóveis ao longo de um ano.

Segundo o presidente da empresa, Fabio Schettino, o projeto é totalmente nacional e inédito no mundo. Há duas semanas, ocorreu a montagem dos racks de baterias que vão abastecer o empurrador.

No total, são 152 baterias com autonomia para cinco ou seis horas. Por isso, essas máquinas serão destinadas ao apoio portuário nos terminais do Pará.

Mas a expectativa é de que, com a evolução tecnológica, esse tempo de autonomia aumente e seja possível fazer viagens mais longas. “Estamos deixando espaço disponível nas embarcações para que futuramente possamos ampliar a capacidade das embarcações e colocar mais baterias”, afirma Schettino.

A diretora de Inovação, Engenharia e TI, Mariana Yoshioka, afirma que a intenção é continuar estudando o assunto para expandir o projeto. Ela explica que hoje o tamanho das baterias ainda é um limitante para a longa distância – entre Miritituba e Vila do Conde, no Pará, onde a empresa tem terminais, são cerca de 1.000 km pela hidrovia, o que exigiria pontos de parada para abastecimento. “Mas essa limitação é uma questão de tempo. A tecnologia está avançando muito rapidamente.”

Schettino destaca que, além de ser eficiente e uma fonte limpa, o projeto é economicamente viável, pois o custo de operação é menor. “Num momento em que o diesel estava na metade do preço do que é hoje, já era viável. Agora, a situação é ainda mais vantajosa.”

A embarcação está sendo construída no estaleiro da Belov, localizado na Bahia. As baterias são da Weg. As embarcações serão batizadas de Poraquê e Enguia, nomes de peixes da Amazônia.

Avanço

O processo de transição energética tem elevado o interesse do mundo por máquinas elétricas. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), em 2019 o mundo somava 10,7 GW de capacidade de armazenamento instalada.

Mas a expectativa é de que esse mercado tenha um crescimento exponencial nos próximos anos, alcançando 1 mil GW em 2040. Isso inclui o armazenamento de energia eólica e solar, os veículos elétricos e outras aplicações.

Segundo os estudos das consultorias Greener e Newcharge, desde 2010 o preço das baterias de lítio caiu 89%, de US$ 1.183 para US$ 135 o quilowatt-hora (kWh).

A expectativa é de que em 2024 o preço esteja em US$ 94 e, em 2030, em US$ 62 – o que deve atrair novos usos no mundo todo.

 

FONTE: ESTADÃO CONTEÚDO

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Empresa que comprou Rlam chegou anunciar retomada do abastecimento, mas isso nunca ocorreu

A Acelen, empresa que comprou da Petrobras a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), em São Francisco do Conde (BA), descumpriu sua promessa e não retomou o abastecimento de navios que passam pelo Porto de Salvador.

O fornecimento de óleo combustível a embarcações parou em 1º de dezembro, quando a Petrobras repassou à companhia privada o controle da Rlam, agora chamada de Refinaria de Mataripe. O fato gerou queixas de oficiais da Marinha Mercante e uma denúncia do Sindicato das Agências de Navegação do Estado da Bahia (Sindinave) à Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O Brasil de Fato tratou das reclamações em reportagem em fevereiro. Na época, a Acelen informou que empenhava todos seus esforços para retomar o serviço até o fim de março.

Dias depois da reportagem, ainda em fevereiro, Acelen chegou a divulgar uma nota pública informando que, no dia 21 daquele mês, o abastecimento havia sido retomado. Segundo a empresa, na época, a operação era feita apenas por meio de barcaças, as quais retirariam o combustível de um terminal administrado pela Acelen e o levariam a navios.

Acontece que, segundo Gonzalo Jorrín, diretor-executivo do Sindinave, isso nunca ocorreu. “Não é verdade [que o abastecimento foi retomado]. Não houve nenhuma novidade sobre isso”, afirmou Jorrín.

O Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro) e trabalhadores do próprio terminal da Acelen, o Terminal de Madre de Deus (Temadre), também negaram o abastecimento. “Já ouvi no terminal pessoas dizendo que irá voltar. Mas até então não apresentaram data nem nada que leve a crer que estão trabalhando nisso”, relatou um trabalhador do Temadre, o qual não quis se identificar.

A própria ANP também indica que o reabastecimento não foi restabelecido. Segundo a agência, a Acelen já se comprometeu “a solucionar todas as questões e retomar o fornecimento em situação semelhante à que ocorria anteriormente, com prioridade e no menor tempo possível”. Faltariam agora questões burocráticas para solucionar a questão.

Transtorno e prejuízo

De acordo com o Sindinave, cerca de 220 embarcações passam pelo Porto de Salvador por mês. Cerca de 40 aproveitavam a parada ali para abastecer até a privatização da Rlam.

A refinaria produzia o óleo combustível para navios e o enviava por dutos até o Temadre, o qual era administrado pela Transpetro. De lá, seguia para os navios por barcaças ou por abastecimento direto.

A Rlam, junto com os dutos e o próprio Temadre, foi comprada pelo Mudabala Capital em março do ano passado por US$ 1,65 bilhão  (cerca de R$ 8,25 bilhões à época). Desde então, a transferência da administração de todas essas estruturas passou a ser discutida entre a Petrobras e a Acelen.

A Acelen é quem controla tudo isso atualmente. Funcionários da Petrobras, no entanto, ainda trabalham na refinaria e no Temadre numa transição.

Mesmo com essa integração, a Acelen declarou que não conseguiu continuar abastecendo navios como a estatal fazia. “Os ativos logísticos necessários para a comercialização do Bunker Oil [óleo combustível] ao mercado local não fizeram parte da compra da refinaria”, justificou, na época da interrupção do serviço.

“Os navios agora têm que abastecer em outros portos”, reclamou Jorrín, do Sindinave. “A programação das viagens precisa mudar para levar em conta a falta do abastecimento no Porto de Salvador.”

Exportações a todo vapor

Mesmo sem fornecer combustível aos navios, a Acelen continua produzindo óleo combustível na antiga Rlam. De acordo com a ANP, aliás, a produção desse combustível é maior do que na época da Petrobras.

Em janeiro de 2022, já durante a gestão Acelen, o crescimento foi de 1,4% na comparação com janeiro de 2021, na época da estatal. Em março de 2021 contra março de 2022, o crescimento foi ainda maior: 14,7%.

Quem trabalha no Temadre, contudo, diz que essa produção é destinada à exportação. “O combustível que carregamos no terminal vai para grandes embarcações, sendo maioria para exportação”, disse um trabalhador.

Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), já havia alertado ainda em fevereiro que a falta de abastecimento de navios na Bahia era uma decisão empresarial da Acelen.

“Houve desabastecimento de navios porque o produto [óleo combustível] foi destinado para exportação”, disse Bacelar, na época.

A Acelen mantém em seu site informações sobre o abastecimento de navios. Segundo a página, ele ocorre após agendamento com dois dias de antecedência e se dá no sistema “ex-wharf”, ou seja, o cliente é responsável por tirar o combustível do Temadre em barcaças para que possa levá-lo até um navio.

A informação do site condiz com a nota pública emitida pela Acelen em fevereiro. Procurada desde a segunda-feira (23) a empresa comentou nesta sexta (27) que " o contrato foi assinado com o distribuidor que ficará responsável pela operação do bunker oil. A operação está prevista para iniciar no mês que vem".

Privatização contestada

A venda da Rlam por US$ 1,65 bilhão foi contestada pois, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), ela valia pelo menos o dobro disso.

A antiga Rlam é a primeira refinaria nacional, tendo sido criada em 1950, antes mesmo da fundação da Petrobras, em 1953.

A planta é capaz de produzir mais de 30 produtos diferentes, incluindo gasolina, diesel, lubrificantes e querosene de aviação. Também é produtora nacional de uma parafina usada na indústria de chocolates e chicletes.

Desde que foi privatizada, passou a vender combustível mais caro que a Petrobras. Aproveitando-se da falta de concorrência na Bahia, a Acelen inclusive já vendeu gasolina e diesel mais caros em território baiano do que em outros estados, mesmo nos casos em que a empresa pagava para transportar o combustível para fora da Bahia.

Mais privatizações

A venda da Rlam faz parte do programa de desinvestimentos da Petrobras. Das 14 refinarias que a estatal tinha, oito foram postas à venda nesse programa, sendo que quatro foram oficialmente vendidas. A Rlam foi a primeira cuja administração já foi transferida da estatal à iniciativa privada.

Oficialmente, a intenção do governo federal é vender as refinarias da Petrobras a outras companhias para que elas passem a concorrer com a estatal. Isso, para o governo, tenderia a reduzir os preços de derivados de petróleo no Brasil.

Nesta semana, por exemplo, a Petrobras assinou o contrato de venda da Refinaria Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), no Fortaleza (CE). A FUP recorreu à Justiça para tentar reverter o negócio.

FONTE: BRASIL DE FATO


	Estaleiro Inhaúma: quatro navios deveriam ter seus cascos convertidos, mas apenas um deles foi feito no Brasil, com atraso de dois anos
 (Reprodução/Enseada Indústria Naval S.A)

IMAGEM: Reprodução/Enseada Indústria Naval S.A

Para Sinaval, indústria já provou qualidade técnica, mas estaleiros brasileiros enfrentam dificuldades devido à falta de incentivos e à alta carga de impostos paga no Brasil.

Armadores de cabotagem consideram que a indústria naval precisa encontrar formas de caminhar com as próprias pernas e buscar competitividade a nível internacional, sem depender de garantias de demandas de empresas que operam na navegação costeira. A Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac) entende que, mesmo que houvesse encomendas de navios para transportar toda a carga brasileira na cabotagem, a demanda anual de navios para operar na cabotagem no Brasil não seria suficiente para manter todos os atuais estaleiros brasileiros funcionando.

“A indústria naval precisa andar com suas próprias pernas. Não conseguimos colocar encomendas em quantidade suficiente para sustentar a indústria naval (…). Os estaleiros precisam ser competitivos internacionalmente também”, afirmou o diretor-executivo da Abac, Luis Fernando Resano, na última quarta-feira (25), durante painel sobre a regulamentação do BR do Mar do XII Workshop de Direito Marítimo promovido pelo Tribunal Marítimo, no Rio de Janeiro.

A participação da Abac destacou que a lei 14.301/2022, que cria o programa federal que visa o estímulo à cabotagem, trouxe alterações no marco regulatório do setor (Lei 9432/1997), com regras mais flexíveis para o afretamento de navios de bandeira estrangeira, mantendo a limitação do transporte por cabotagem no Brasil às empresas brasileiras de navegação (EBNs), que não precisam ser proprietárias de navios. A lei permite que as EBNs possam operar com embarcações próprias ou afretadas.

“Não é preciso encomendar embarcação seja no Brasil, seja no exterior. É possível apenas afretar”, explicou Resano. As alterações na legislação mantiveram a exigência de embarcação própria sem limitação do local de construção e a possibilidade de afretamento com 50% da tonelagem da frota própria, na modalidade a casco nu com suspensão de bandeira.

Ficou garantido o afretamento de, pelo menos, uma embarcação de porte equivalente, acrescentando o afretamento de uma embarcação estrangeira a casco nu com suspensão de bandeira, independentemente de contrato de construção em eficácia ou de propriedade de embarcação brasileira. O limite de afretamento de uma embarcação estrangeira a casco nu com suspensão de bandeira será ampliado gradativamente, desde duas embarcações após um ano de vigência contratual, até qualquer quantidade de embarcações após quatro anos de vigência do contrato.

Para o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), é impossível que estaleiros brasileiros consigam ser competitivos, principalmente com a China, devido à carga de impostos que os construtores precisam pagar no Brasil. A entidade afirmou que os estaleiros pagam os mesmos impostos pagos pelos armadores e que podem vir a receber incentivos do governo, assim como os donos e operadores de navios podem obter recursos do governo federal para reparos, por meio das contas vinculadas.

“Há um equívoco falar que a indústria naval precisa caminhar com as próprias pernas. Já provamos que somos competentes e conseguimos construir”, disse o vice-presidente executivo do Sinaval, Sérgio Bacci, à Portos e Navios. Ele citou que as empresas de apoio offshore construíram em torno de 250 embarcações no Brasil, chegando a ser a segunda maior quantidade desse tipo de embarcação por um período, enquanto empresas de cabotagem construíram poucas embarcações no país, dando preferência a trazer navios do exterior sem pagar impostos. Bacci disse que os armadores sabem que o problema de competitividade internacional não está nos estaleiros. “Não deixamos de ser competitivos porque queremos. Se tivermos demanda e incentivo do governo, conseguiremos ser competitivos, tanto que fomos competitivos nos barcos de apoio”, afirmou.

Ele avalia que a regulamentação da lei 14.301/2022, ao criar a possibilidade de afretamento de três embarcações de bandeira estrangeira para cada embarcação própria de bandeira brasileira, afasta a possibilidade de se ter uma indústria naval no Brasil, permitindo que os armadores possam trazer navios de fora sem pagar impostos. “Essa regulamentação do Ministério da Infraestrutura é um absurdo. É não querer realmente que se tenha indústria naval no Brasil. Isso tudo é uma ‘cortina de fumaça’ para [armadores] poderem trazer navios para o Brasil sem pagar imposto”, comentou Bacci.

FONTE: Portos e Navios – Danilo Oliveira

 

IMAGEM: ESQUERDA.NET

 

Em 2021 a luta laboral nos EUA intensificou-se. Muitos trabalhadores abandonaram publicamente empregos mal pagos e com más condições e houve uma onda grevista. 2022 é o ano da sindicalização. Amazon, Apple, Starbucks e outros locais onde os sindicatos não se conseguiam organizar assistem a processos liderados por jovens não filiados nos sindicatos tradicionais.

Em meados de 2021, dois fenómenos agitavam o mundo laboral norte-americano. Passou a falar-se em “grande demissão” e em “greve geral não declarada”. Por um lado, uma onda inédita de trabalhadores estavam, publicamente e nas redes sociais, a despedir-se, levando a hashtag #QuitMyJob a subir nas tendências das redes sociais. Denunciavam os baixos salários e o assédio laboral sem medo e abandonavam os empregos com estrondo.

Por outro, os EUA assistiam a uma vaga grevista de uma dimensão inaudita nos tempos mais recentes. Em outubro, cunhou-se mesmo um neologismo, o striketober, para descrever toda a mobilização desse mês.

Sonali Kolhatkar explicava-nos o que estava a acontecer e como, em empresas emblemáticas do capitalismo norte-americano como a Kellogg’s e a Deere por exemplo, os trabalhadores se estavam a organizar para processos de luta prolongados e como em muitos locais recusavam as propostas iniciais de acordo das entidades patronais, forçando-as a ir mais longe nas cedências.

A jornalista apontava então a baixa taxa de sindicalização no país como um dos limites destes movimentos: a "grande demissão" era afinal uma resposta corajosa mas individual onde falhavam respostas coletivas e as lutas coletivas que despontavam, mesmo quando radicais e vitoriosas, estavam contidas nos estritos limites do pequeno universo de trabalhadores sindicalizados.

Mas o ambiente estava sem dúvida a mudar. Como mostrava Kim Moody, que dizia tratar-se de uma viragem nas lutas de classes na principal potência capitalista, aproveitando a força dada pela escassez da mão de obra e pelas vicissitudes de uma pandemia que mostrou aos trabalhadores desqualificados o quão eram essenciais apesar dos patrões os manterem em condições laborais péssimas.

E, por essas alturas, a questão da sindicalização tinha voltado também a estar na ordem do dia. Em março/abril desse ano, tinha despontado uma esperança de renascimento do movimento sindical norte-americano. Com uma diminuição sucessiva do número de sindicalizados, com muitas direções sindicais burocratizadas e/ou acomodadas e dependentes da política mainstream e alguns sindicatos com passados obscuros, com muitos locais onde o acesso estava bloqueado aos sindicalistas pelas leis laborais anti-sindicais e contra a liberdade de organização que caracterizam aquele país, o sindicalismo norte-americano parecia num impasse duradouro.

As esperanças de um momento que quebrasse este impasse começaram por ser canalizadas para Bessemer, no Alabama, onde num armazém da Amazon decorria o processo de campanha, votação e lenta contagem de votos que poderia levar à criação do primeiro sindicato no gigante da distribuição online Amazon. As leis dos EUA ditam que, caso o patrão não aceda à criação de um sindicato, é necessário que a maioria dos trabalhadores num local votem para que este se torne realidade. Esta condição terá de ser ainda posteriormente ratificada por um organismo estatal. Este entrave é um elemento perene do bloqueio na sindicalização.

Apesar destas esperanças e do mediatismo nacional, os esforços sindicais nessa votação foram derrotados. E Dan Le Botz questionava as razões disto ter acontecido: a empresa lançou uma milionária e sofisticada campanha para derrotar o sindicato e os principais organizadores sindicais vinham de fora. Contudo, descobriram-se várias irregularidades nos procedimentos da Amazon durante o processo e as autoridades determinaram que o escrutínio fosse repetido. Votos contados, a repetição resultou num aumento do lado pró-sindicalização mas não o suficiente para uma vitória. Contudo, no momento de publicação deste dossier, o desfecho do processo continua incerto porque há centenas de votos contestados e o assunto voltou a ser relegado para o regulador estatal que decidirá.

Mas o momento simbólico acabou por chegar passado um ano, na mesma empresa, noutra parte do país. A 1 de abril de 2022, a potente imagem de trabalhadores abraçados a saltar de felicidade percorreu o mundo. Finalmente nascia um sindicato na Amazon, no Armazém JFK8 de Nova Iorque, a partir de um grupo de trabalhadores jovens e não ligados ao sindicalismo tradicional.

Estas são características identificadas por Harold Meyerson não só neste caso mas também em vários dos outros processos de sindicalização que já estavam a decorrer e nos outros desencadeados pelos exemplos de vitórias recentes como esta. Se ao longo dos últimos dois anos até já se tinham registado alguns avanços com processos de sindicalização em setores de trabalhadores com “empregos protegidos”, ou seja aqueles em que, pelas suas competências particulares, estarão mais protegidos do despedimento, agora passava-se a outro patamar.

A grande diferença é que, ancorados, para além do momento do mercado de trabalho, também na politização que o precedeu, salienta o editor do The American Prospect, a revolta estendeu-se aos millenials que os empregadores podiam facilmente substituir e entrou em locais de trabalho e empresas até agora inalcançáveis.

Para além da Amazon, o outro exemplo sintomático é o da Starbucks, onde há “uma mão de obra desproporcionalmente jovem e altamente escolarizada mas submetida a todos os caprichos de horários e a todas as ameaças de despedimento que a direção possa fazer”. Aí, depois da primeira vitória de uma votação de sindicalização no final do ano passado, em Buffalo, Nova Iorque, há já cem lojas com votações de sindicalização ganhas e decorrem ainda outras centenas.

análise de John Logan vai no mesmo sentido do que esta, destacando “a natureza não convencional das campanhas de organização”, a forma como estão a conseguir quebrar o medo instalado e a desfazer os argumentos tradicionais dos patrões que costumam insistir na ideia de que os sindicatos são elementos estranhos à empresa e que só querem ganhar dinheiro com as quotas. Desta vez, são pessoas de dentro das empresas, com “um grau significativo de auto-organização”, o que marca, de acordo com este especialista em relações laborais, “uma mudança profunda relativamente à forma como o movimento sindical operava tradicionalmente, tendendo a ser mais centralizado e dirigido por dirigentes sindicais experientes”.

Alex N. Press junta o setor do retalho a estas duas experiências e fala sua importância mo “contágio” que faz com que uma vitória desencadeie novos processos de ação coletiva. Empresas como a Target e a Trader Joe’s estão a assistir agora a processos de sindicalização um pouco por todos os Estados Unidos.

Onde também isto está a acontecer é na Apple. Em abril uma primeira loja da empresa, em Atlanta, desencadeou o processo que vai a votos no início de junho e as perspetivas são de vitória: 70 dos 100 trabalhadores desse local de trabalho assinaram o pedido de realização da votação num sinal claro da sua vontade. Várias outras lojas estão a juntar-se ao movimento.

Em todas estas empresas, e nisso os autores que participam neste dossier são unânimes, os patrões não estão dispostos a ceder facilmente à vaga de sindicalização. Alex N. Press conta como lançam campanhas anti-sindicais apoiadas nos gestores locais, despedem pessoas que acham que estejam a liderar os movimentos e fazem contratos milionários com escritórios de advogados e empresas de consultadoria para tentar evitar que os trabalhadores possam organizar-se.

Para ela, os trabalhadores da Amazon e da Starbucks “enfrentam empresas que farão tudo o que estiver ao seu alcance para quebrar a sua determinação e ímpeto”. E o momento é decisivo: se “há sempre uma guerra de classes”, estas campanhas são uma ofensiva há muito esperada pela classe trabalhadora e "será um golpe para todos nós se elas não forem bem sucedidas”.

FONTE: ESQUERDA.NET

Um porto no mar de Azov - Sputnik Brasil

IMAGEM: Sputnik / Vitaly Timkiv

Localizado no Mar de Azov, porto era o segundo mais importante da Ucrânia antes da guerra. Região está sob domínio russo desde abril

Um primeiro navio comercial, carregado com metal, saiu do porto ucraniano de Mariupol — sob controle das forças de Moscou —, com destino à localidade russa de Rostov-Don, anunciou nesta terça-feira (31) o líder separatista Denys Pushilin.

"Hoje saíram do porto de Mariupol 2,5 mil toneladas de bobinas de chapa laminada", escreveu no Telegram o líder dos separatistas pró-Moscou na região de Donetsk. 

"Este centro de transporte é muito importante para o Donbass", disse Pushilin. "É um porto muito importante no Mar de Azov e o único onde é possível carregar todo tipo de mercadorias, também no inverno", explicou.

O líder pró-Rússia afirmou que parte dos navios do porto de Mariupol passará a integrar a frota comercial da autoproclamada república de Donetsk (DNR).

Localizado no Mar de Azov, que por sua vez se conecta com o Mar Negro, o porto de Mariupol era, antes da ofensiva militar russa, o segundo porto civil mais importante da Ucrânia, atrás apenas de Odessa. A infraestrutura permitia a exportação em larga escala de cereais ucranianos, agora bloqueados no país devido ao conflito que ameaça provocar uma crise alimentar mundial.

O Kremlin anunciou a conquista de Mariupol em 21 de abril, após quase dois meses de combates que deixaram grande parte da cidade destruída. Mas os últimos defensores ucranianos no local, entrincheirados na siderúrgica Azovstal, se renderam apenas depois de um mês do anúncio.

FONTE: AFP

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IMAGEM: Gabriel Cabral/Folhapress

Especialistas recomendam contato com a empresa para confirmar oferta

Olá, você foi selecionado para um trabalho de meio período online, com salário diário de R$ 500 - R$ 1000. Entre em contato comigo pelo link..." Se você recebeu uma mensagem similar a esta, prometendo empregos remotos com alta remuneração diária, tome cuidado: provavelmente é uma tentativa de golpe.

Há casos em que o esquema é relativamente simples. O golpista entra em contato anunciando a seleção para uma vaga, mas pede um pagamento, supostamente para a realização de um exame admissional ou de um curso necessário ao trabalho. Em versões mais complexas, o golpe pode envolver esquemas de pirâmide, manipulação de avaliações em plataformas digitais, fraude e roubo de dinheiro e de dados.

Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil, explica que tudo começa com uma mensagem: "Eles estão usando todas as plataformas possíveis. Começou muito forte no WhatsApp e por SMS, hoje a gente já tem visto usando contas no iCloud, para proprietários de iPhone, e até no Telegram." 

As mensagens normalmente contam com um número de telefone ou link para iniciar uma conversa, em que o usuário recebe um endereço para cadastro em uma plataforma. "A maioria destes cadastros tem um código passado para a pessoa, que é o código do afiliado, para identificar quem é o recrutador e para que ele receba uma parte", relata Assolini. O analista explica que quem recruta pessoas para a plataforma ganha um valor, aumentando o alcance do golpe.

Após o cadastro, é solicitado ao usuário que faça uma transferência inicial via PIX. "É um valor baixo, pode ser de R$ 20, para uma conta física que você não sabe de quem é. E eles fazem a promessa de que ao fazer este aporte você receberá de volta este valor e mais uma comissão, só por ter se cadastrado."

Esta etapa serve para ganhar a confiança do usuário: "Eles realmente cumprem com esse combinado. Você recebe o primeiro aporte e a comissão, que pode até dobrar o valor enviado", afirma Assolini.

Cadastrado, o usuário passa a receber tarefas diárias. "Dentro dessa plataforma, eles pedem para que você simule a compra de um produto e o classifique com cinco estrelas, para receber o dinheiro aportado e mais um valor de volta."

Assolini diz que o esquema usa a gamificação, ou seja, estratégias de jogos para motivar o envolvimento e participação do usuário. Mas, conforme as tarefas são executadas, são solicitados aportes maiores e tarefas mais difíceis, para que os golpistas ganhem tempo e aumentem o número de recrutados. Em determinado ponto, quando a plataforma já recebeu muitos cadastros, as plataformas são encerradas e as pessoas perdem o dinheiro aportado.

Além do dinheiro não devolvido, que fica com os criminosos quando encerram a plataforma, há ganhos com a manipulação de avaliações de produtos, tarefas realizadas pelos usuários como condição para o pagamento. "Quando você simula a compra, dá estrelas, na verdade, você está manipulando reputações em lojas online", explica Assolini.

"Isso faz com que você crie um número inflado e irreal de vendas, especialmente em marketplaces, e se uma loja tem um número muito alto de avaliações cinco estrelas ou de vendas, a probabilidade do algoritmo colocar o produto em primeiro lugar nas buscas reais é maior."

COMO RECONHECER O GOLPE?

Assolini recomenda desconfiar de ofertas muito generosas, enviadas por desconhecidos. Mesmo se a mensagem incluir o nome de uma empresa conhecida, entre em contato pelos canais oficiais para confirmar a oferta.

Maria Sartori, diretora associada da empresa de consultoria em recursos humanos Robert Half, indica acessar o LinkedIn da organização e verificar se você tem conexões em comum com a empresa, com quem você pode falar para obter referências.

Ela ressalta que exames admissionais são necessariamente pagos pela empresa que está contratando. Além disso, é muito raro ser necessária a realização de um curso profissionalizante por conta do profissional durante a seleção. "Nenhum candidato nunca deveria desembolsar nenhum tipo de dinheiro para participar de um processo seletivo", diz.

O delegado Laércio Ceneviva Filho, da Deic (Divisão de Crimes Cibernéticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil de São Paulo, complementa: "Na dúvida, procure a própria empresa e cheque qual o destinatário do pagamento solicitado. Se não for no nome da empresa, jamais faça qualquer tipo de pagamento."

CAÍ. E AGORA?

"Se a pessoa caiu no golpe, a gente recomenda que ela imediatamente procure registrar os fatos em uma delegacia de polícia ou pela delegacia eletrônica, no site da Polícia Civil. Se houver suspeita de envolver uma organização criminosa, que procure a Divisão de Crimes Cibernéticos do Deic", orienta o delegado. "Nós da Polícia Civil e do Deic temos condição, uma vez registradas as ocorrências, de fazer o rastreamento dessas informações e tentar chegar no autor dos fatos."

Assolini diz que é importante que a vítima contate o banco e peça o ressarcimento o mais rápido possível. "Os golpistas são imediatistas, então quando recebem o valor, não o deixam na conta por muito tempo." Também sugere ficar atento a contatos futuros que possam ser feitos utilizando os dados da vítima.

O WhatsApp recomenda que as pessoas reportem condutas inapropriadas diretamente nas conversas, por meio da opção "denunciar" disponível no menu do aplicativo (menu > mais > denunciar). Os usuários também podem enviar denúncias para o email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo., detalhando o ocorrido com o máximo de informações possível e anexando uma captura de tela.

COMO ENCONTRAR VAGAS DE EMPREGO CONFIÁVEIS?

Muitas empresas utilizam plataformas online, como Gupy, Vagas.com e 99jobs para anunciar vagas. Plataformas como LinkedIn também podem servir como intermediadoras, além de iniciativas governamentais, como o Portal Emprega São Paulo, o Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (Cate) de São Paulo e o Portal Emprega Brasil.

FONTE: FOLHA DE S.PAULO

 

 

Caio Mário Paes de Andrade foi indicado para a presidência da Petrobras

IMAGEM: Ueslei Marcelino/Reuters

Estudos serão feitos por comitê interministerial; mercado vê com operação com ceticismo

O Ministério de Minas e Energia informou na noite desta segunda-feira (30) que formalizou ao Ministério da Economia o pedido de inclusão da Petrobras na carteira do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), de olho em uma futura privatização da companhia.

A qualificação da Petrobras ao PPI depende de aval do conselho do programa e seria o primeiro passo de um processo longo e que desde já enfrenta resistências no Congresso.

No setor de combustíveis, o anúncio da privatização é visto como mais uma cortina de fumaça do governo no momento em que a alta nos preços pesa nas perspectivas eleitorais do presidente Jair Bolsonaro (PL).

O chefe do Executivo já disse publicamente ter vontade de privatizar a empresa diante do desgaste político sofrido pelo governo devido aos reajustes. 

A ideia tornou-se uma bandeira oficial do governo após a troca de comando no MME. Dias depois de a Petrobras anunciar mais um reajuste no preço do diesel, Bolsonaro demitiu o então ministro Bento Albuquerque e indicou o economista Adolfo Sachsida como seu sucessor.

Autodeclarado bolsonarista e de viés liberal, Sachsida anunciou a intenção de privatizar a Petrobras em seu primeiro discurso como novo ministro.

Para isso, no entanto, o governo precisa de uma emenda constitucional que flexibilize o monopólio que a União detém hoje sobre a exploração de petróleo.

Uma alteração constitucional requer apoio de 308 dos 513 deputados e de 49 dos 81 senadores, quórum alto e que demanda coesão da base governista no Congresso.

O próprio mercado financeiro não vê chances de aprovação do processo ainda neste mandato.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República, é crítico da privatização. "Quem se meter a comprar a Petrobras vai ter que conversar conosco depois das eleições", disse em evento em Juiz de Fora (MG).

Segundo o MME, os estudos sobre as ações necessárias à desestatização da empresa serão produzidos por um comitê interministerial a ser instituído entre o Ministério de Minas e Energia e o Ministério da Economia.

"O processo é fundamental à atração de investimentos para o País e para a criação de um mercado plural, dinâmico e competitivo, o qual promoverá ganhos de eficiência no setor energético e uma vigorosa geração de empregos para os brasileiros", diz o ministério.

"A proposta é oportuna devido à conjuntura energética corrente, em face da situação geopolítica mundial, das discussões sobre o ritmo da transição energética e do realinhamento global dos investimentos", acrescenta.

FONTE: FOLHA DE S.PAULO

A importância do acordo coletivo de trabalho

IMAGEM: SINTRACOOP


STF reúne o plenário para discutir importantes temas. STJ terá sessão da Corte Especial.

O STF e o STJ dão sequência, nesta semana, às sessões de julgamento. O STF reúne-se em plenário; o STJ terá sessão da Corte Especial.

STF
Na quarta-feira, 1º, o STF prossegue com o julgamento que visa definir se os acordos coletivos prevalecem sobre lei trabalhista. (ADPF 381)

O julgamento se iniciou na última semana e, até o momento, quatro ministros entenderam pela validade do acordo coletivo firmado (Gilmar, Kássio, André e Alexandre), enquanto cinco ministros concluíram que as convenções não prevalecem sobre a legislação trabalhista (Rosa, Fachin, Barroso, Cármen e Lewandowski).

Ainda na pauta de quarta, os ministros podem analisar a validade de norma coletiva de trabalho que suprimiu direitos relativos às chamadas horas in itinere, tempo gasto pelo trabalhador em seu deslocamento entre casa e trabalho. (ARE 1.121.633)

Consta em pauta na quinta-feira, 2, ação direta de inconstitucionalidade que questiona alteração introduzida pela "minirreforma eleitoral".

O objeto do questionamento é a alteração introduzida na legislação para que as ações eleitorais propostas por partes diversas sobre o mesmo fato sejam reunidas para julgamento comum, sendo competente para apreciá-las o juiz ou relator que tiver recebido a primeira. (ADI 5.507)

STJ
O STJ reunirá a Corte Especial na quarta-feira, 1º, para analisar recebimento de denúncia contra o conselheiro do TCE/RJ José Gomes Graciosa e sua esposa, Flávia Graciosa, pela prática do crime de lavagem de dinheiro.

Segundo o MPF, um esquema criminoso instalado no TCE/RJ funcionou durante 17 anos - entre 1999 e 2016 - e consistiu na cobrança e no respectivo pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos, incluindo os integrantes da Corte de Contas.

A denúncia aponta que os valores obtidos ilicitamente eram enviados ao exterior pelo conselheiro com a ajuda de sua esposa. Foram identificadas nove contas pertencentes a ele em um banco suíço que, juntas, receberam depósitos totalizando mais de um milhão de francos suíço. (APn 927)

Ainda em pauta, os ministros podem analisar recurso do governador do RJ Claudio Castro para que seja mantido no STJ o processo contra ele.

Ele foi denunciado por participação em esquema de desvio de verbas da saúde quando ainda ocupava o cargo de vice-governador. O relator determinou a remessa dos autos para a primeira instância da Justiça Federal, em razão da perda de foro de Wilson Witzel. (APn 973)

https://www.migalhas.com.br/quentes/366945/pauta-saiba-o-que-o-stf-e-o-stj-vao-julgar-nesta-semana

FONTE: MIGALHAS

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Dados do IBGE são relativos ao trimestre até abril

taxa de desemprego no Brasil recuou para 10,5% no trimestre encerrado em abril deste ano, informou nesta terça-feira (31) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Nos três meses imediatamente anteriores (novembro a janeiro), o indicador estava em 11,2%.

O novo resultado veio abaixo das estimativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 10,9%. 

"Estamos diante da manutenção do processo de retração da taxa de desocupação, que vem ocorrendo desde o trimestre encerrado em julho de 2021, em função, principalmente, do avanço da população ocupada nos últimos trimestres", disse Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE.

O número de desempregados recuou para 11,3 milhões no trimestre até abril, apontou o IBGE. O contingente estava em 12 milhões nos três meses imediatamente anteriores.

Pelas estatísticas oficiais, a população desempregada reúne quem está sem trabalho e segue à procura de novas vagas. Quem não tem emprego e não está buscando oportunidades não entra no cálculo.

Os dados divulgados pelo IBGE integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

O levantamento retrata tanto o mercado de trabalho formal quanto o informal. Ou seja, são avaliados desde empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.

Após o baque gerado pela pandemia, o mercado de trabalho tenta se recuperar no Brasil. Segundo a Pnad, o número de desocupados chegou a romper a faixa dos 15 milhões no começo de 2021, sob efeito da crise sanitária.

Com a derrubada de restrições e a reabertura da economia, houve um processo de retorno ao trabalho, e o desemprego passou a ceder ao longo do ano passado.

A reabertura de vagas, contudo, foi marcada  por uma sequência de quedas na renda média dos trabalhadores.

FONTE: FOLHA DE S.PAULO

 

 

Salário mínimo

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Para o economista Marcelo Medeiros, professor visitante na Universidade Columbia (EUA) que há décadas se dedica a pesquisar a desigualdade social brasileira, garantir que o salário mínimo não perca poder de compra em tempos de inflação alta não é apenas uma questão importante para reduzir a pobreza de um país.

Isso porque toda vez que o salário "encolhe", crescendo em ritmo mais fraco que o do aumento dos preços, espalha também um efeito recessivo sobre toda a economia.

"A redução (do salário mínimo) diminui o consumo e desacelera a economia. A inflação brasileira é uma inflação de custos - o preço das coisas, como contas e compras, vai aumentando. Então, se o salário mínimo diminui, isso pode ter efeito recessivo, que é algo que o Brasil não quer de jeito nenhum nesse momento", pondera o economista.

No governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), há três anos não há reajuste do piso salarial acima da inflação. O último foi em 2019, quando ainda prevalecia a regra de correção que considerava a inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.

O debate sobre o salário mínimo voltou a esquentar com a divulgação no começo de maio de relatório da corretora Tullett Prebon Brasil, que estima que o mínimo perderá 1,7% em poder de compra até o fim do atual mandato do presidente, passando de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022, descontada a inflação prevista no Boletim Focus.

Tal cenário tornaria Bolsonaro o primeiro presidente da República desde o Plano Real a concluir o mandato com o mínimo com menos poder de compra do que quando assumiu o cargo.

Embora Medeiros considere que ainda é cedo para estimar qual será de fato a perda real do mínimo no governo Bolsonaro, ele destaca que, no passado, a queda no poder de compra mostrou-se prejudicial ao funcionamento da economia e impactou negativamente o dia a dia dos brasileiros.

"O ponto é que nós não temos que combater apenas a pobreza, mas também melhorar a situação de todos os brasileiros que têm renda", afirmou.

A BBC News Brasil conversou com o especialista sobre os principais impactos - históricos e atuais - do salário mínimo no Brasil. Veja a seguir.

BBC News Brasil - O aumento do salário mínimo é a melhor forma de combate à pobreza?

Marcelo Medeiros - Há estratégias que apresentam uma taxa ainda maior de sucesso, mas o ponto é que nós não temos que combater apenas a pobreza, mas também melhorar a situação de todos os brasileiros que têm renda. São pessoas que não estão na condição extrema da pobreza, mas ainda assim têm renda baixa o suficiente para merecer atenção das políticas sociais.

Parte do custo é absorvido pelo estado e parte do custo é redistribuído por todo o mercado de trabalho. Todo mundo que contrata alguém com salário mínimo absorve parte desse custo. É por isso que você dá o aumento no momento que a economia está crescendo, para acompanhar o crescimento da economia. Supondo que esse crescimento está melhorando a condição das pessoas, então você distribui esse crescimento, de alguma maneira, também para as pessoas mais pobres. Essa é a lógica por trás dos aumentos, e é bem fundamentada.

BBC News Brasil - Aumento do salário mínimo pode ter efeito reverso, gerando pobreza, como alegam os críticos?

Medeiros - Há uma discussão, já considerada obsoleta, de que ao subir o salário mínimo, as empresas não conseguiriam pagar e demitiriam - fazendo com que o aumento do valor do salário mínimo, na verdade, gerasse pobreza.

Há casos isolados onde isso acontece, mas em geral não é o que ocorre, até porque economia não se regula dessa maneira. O desemprego no Brasil é determinado por outros fatores, principalmente por problemas do desempenho geral da economia e não especificamente pelo custo isolado do trabalhador.

Além disso, não estamos falando em um aumento de 30%, mas sim em um ganho real que gira entre 1% e 3%. O mercado não reage com desemprego quando se trata de aumentos pequenos."

BBC News Brasil - A redução do salário mínimo pode ser considerada perigosa para a economia brasileira?

Medeiros - É certamente uma péssima ideia. Porque a redução, entre outras coisas, é recessiva. Ela diminui o consumo e desacelera a economia. A inflação brasileira é uma inflação de custos - o preço das coisas, como contas e compras, vai aumentando. Então se o salário mínimo diminui, isso pode ter efeito recessivo, que é algo que o Brasil não quer de jeito nenhum nesse momento.

Além disso, vai aumentar a pobreza, a não ser que seja compensado pela expansão grupal de outras políticas para compensar as perdas que você terá, cujo custo fiscal vai ser mais alto.

BBC News Brasil - Do ponto de vista de políticas públicas, programas como o Auxílio Brasil, o antigo Bolsa Família, é considerado mais útil para combater a pobreza do que ajustes do salário mínimo?

Medeiros - Não necessariamente. Essa discussão só olha para o impacto pela medida de pobreza. É necessário pensar como funciona o mercado de trabalho como um todo, em que todas as medidas que vão afetar o mercado de trabalho.

[Programas como o antigo] Bolsa Família ajuda pobres e extremamente pobres. A eficiência do programa aumentaria se o benefício dos pobres fosse retirado e passado para os extremamente pobres. Mas isso não é desejável. O custo social disso é muito alto.

BBC News Brasil - Aumento do salário mínimo só surte efeito para quem trabalha no regime CLT?

Medeiros - Ele afeta todos os trabalhadores informais que ganham um salário fixo, então, mesmo quem não tem carteira de trabalho assinada. Os empregadores não assinam a carteira para não pagar previdência, não para não pagar o salário mínimo. Sinais de que temos 13º.

BBC News Brasil - O que fazer se o salário mínimo para de funcionar para combate da pobreza?

Medeiros - Não há nem sinal de que o Brasil esteja perto desse ponto, e existe uma vantagem nesse tipo de política.

Se houver um sinal de que o salário mínimo está causando pobreza em vez de reduzir, basta interromper os aumentos, porque a inflação vai se encarregar de reduzir, rapidamente, os valores. Política facilmente reversível, então não é necessário se preocupar agora. O que é importante é ter uma boa rede de informação sobre trabalho no Brasil, algo que é desprezado no governo atual - planejamento e monitoramento do mercado de trabalho.

E, nesse tipo de política, se o limite for alcançado basta interromper novos aumentos, a inflação reverte o resultado.

FONTE: BBC NEWS BRASIL

 

 

Anthony Albanese, do Partido Trabalhista, será o novo primeiro-ministro da Austrália

IMAGEM: Lisa Maree Williams/Getty Images

 

A Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes comemorou a eleição de um Governo Federal Trabalhista na Austrália, descrevendo-a como uma oportunidade para elevar os padrões para os trabalhadores e melhorar a segurança no local de trabalho em toda a cadeia de suprimentos do transporte.

Afiliados da ITF em todo o mundo parabenizaram os sindicatos australianos pelo seu papel na derrota do governo conservador de Morrison. 

“A eleição do novo governo trabalhista de Albanese é o resultado de uma longa luta por justiça e respeito dos membros do sindicato”, disse Paddy Crumlin, presidente da ITF e presidente da Seção dos Portuários da ITF. Crumlin é também secretário nacional do Sindicato dos Marítimos da Austrália. 

“Durante nove longos anos, Tony Abbott, Malcolm Turnbull e Scott Morrison, todos fizeram sua parte para perseguir, difamar e minar os trabalhadores em transportes e seus sindicatos. O resultado claro desta eleição primordial é que, agora, todos podemos trabalhar de forma construtiva para reparar o dano causado às comunidades trabalhadoras, abordando as questões da maior importância para o público australiano e, principalmente, para os trabalhadores em transportes”, disse Crumlin.

Frota Estratégica Nacional para revitalizar o setor marítimo australiano

Crumlin observou que os compromissos do Partido Trabalhista de reformar as regras de cabotagem no país e criar uma Frota Estratégica Nacional de navios com tripulação e bandeira australianas são importantes para a criação de empregos locais, garantir o futuro econômico do país e combustível para a nação.

“Essas são as políticas que alguns de nós temos nos empenhado por décadas para conseguir. É uma vitória importante para todos os sindicatos marítimos da Austrália. É o primeiro passo para a criação de empregos locais e para garantir o suprimento de combustível de que a Austrália precisará ao avançarmos em um século de incertezas”, disse Crumlin.

“Após um longo período e após vender os marítimos australianos e dizimar suas carreiras, os conservadores finalmente melhoraram e apoiaram uma frota estratégica”, disse Crumlin. “A vitória eleitoral e, agora o apoio bipartidário, são cruciais para a revitalização desta indústria crítica”, acrescentou ele. 

Com a vitória do Partido Trabalhista, sindicatos garantem Tarifas Seguras para os caminhoneiros

O Partido Trabalhista (Australian Labor Party – ALP) também prometeu introduzir um órgão independente para definir padrões obrigatórios universais no setor de caminhões, criado para tornar a indústria mais segura e justa para os trabalhadores e operadores.

A indústria precisa urgentemente de reformas, após um inquérito de dois anos do parlamento federal que expôs os problemas de segurança generalizados e mortais enfrentados pelos motoristas. Em 2016, os conservadores aboliram o órgão australiano de segurança nas estradas. Desde então, 1061 pessoas morreram em acidentes de caminhão, incluindo 257 caminhoneiros. 

O afiliado da ITF, Sindicato dos Trabalhadores em Transportes da Austrália (TWU), acolheu o plano do novo governo trabalhista para lidar com a indústria mais mortal da Austrália.

“Damos as boas-vindas ao compromisso do novo governo de Albanese de reinstaurar o sistema ‘Tarifas Seguras'. Vimos as trágicas consequências resultantes da decisão do governo anterior de acabar com o órgão fiscalizador de segurança nas estradas”, disse o secretário das Seções de Transporte Interior da ITF, Noel Coard.

“Esta é uma decisão que irá salvar vidas e garantir que as estradas australianas sejam mais seguras para todos, e garantirá também que todos os empregadores em todos os pontos da cadeia de suprimentos sejam responsabilizados, principalmente os maus atores como a Amazon Flex, estilo economia gig, que tem baixado os padrões e incentivado uma espiral descendente na indústria”, disse Coard.

“No mundo inteiro, temos visto o modelo da Amazon Flex de baixa remuneração e controle dos trabalhadores em transportes por meio de aplicativos e algoritmos. Multinacionais, como a Amazon, precisam ser controladas e estamos felizes que o novo governo esteja comprometido em trabalhar com os sindicatos para fazer isso”, disse Coard.

Os trabalhadores da aviação respiram aliviados

A eleição do novo governo é também um alívio para os trabalhadores da aviação na Austrália, que têm sido demitidos e terceirizados em ações ilegais dos empregadores que os conservadores não fizeram nada para impedir. O trabalhista Albanese prometeu trazer mais estabilidade para a indústria, que foi gravemente afetada pela pandemia. O trabalhista disse que a espiral descendente de salários e condições na indústria também deve ser abordada.

O coordenador da ITF em Sydney, Scott McDine, disse que a aviação precisava de um plano nacional do governo: “Os trabalhadores da aviação têm carregado cada vez mais o fardo para o governo Morrison, cuja indiferença insensível durante a pandemia deixou os trabalhadores em crescente insegurança. Eles foram dispensados, ilegalmente demitidos e sujeitos a uma insegurança cada vez maior.”

A aviação é essencial para um país grande como a Austrália, disse o secretário da Seção de Aviação da ITF, Gabriel Mocho Rodriguez. “A Austrália depende da aviação e precisamos de uma indústria que seja segura e atraente para atrair trabalhadores qualificados para a aviação. Isso não ocorrerá enquanto o governo atual permitir que a indústria seja conhecida somente por seus cortes de tripulantes, segurança e compromisso de terceirizar.”

ALP trará o “público” de volta ao transporte

Os afiliados da ITF, o Sindicato de Bondes e Ônibus (RTBU) e o TWU, fizeram campanha para que o Partido Trabalhista prometesse melhor transporte público. Com a mudança de governo, deveremos ver mais trens, bondes e ônibus sendo fabricados e entregues nas malhas australianas através do compromisso do partido de aquisição local. 

“Acolhemos a eleição do Partido Trabalhista e seus compromissos de trabalhar com nossos afiliados para conseguir investimento em transporte público, investimentos que criarão empregos decentes e sindicalizados. Isso dará aos australianos melhor acesso a serviços e a oportunidade de reduzir sua dependência de veículos privados com alta emissão de carbono”, disse Alana Dave, diretora de Transportes Urbanos da ITF.

O secretário-geral da ITF, Steve Cotton, concluiu: “Esta é uma vitória para os trabalhadores em transportes australianos e seus sindicatos, que fizeram campanhas, mantiveram a fé e trabalharam arduamente para ver não só uma mudança de governo – mas uma mudança de direção que terá um impacto relevante sobre a vida dos trabalhadores em transportes.

FONTE: ITF

 (crédito: D.A.Press/Arte)

IMAGEM: D.A.Press/Arte

Segundo Datafolha, 53% dão muita importância à economia na hora de escolher candidato; e 52% dizem que vida está pior

A situação econômica do país está sendo determinante para a maioria dos brasileiros decidir em quem votar neste ano —e, para a maior parte dos eleitores, o quadro piorou nos últimos meses.

Segundo pesquisa Datafolha, 53% dos brasileiros consideram que a situação econômica está tendo "muita influência" na sua decisão de voto.

Somados aos que acham que a economia tem "um pouco de influência" (24%) nessa escolha, a importância do tema atinge 77% —enquanto 21% não veem influência alguma.

A importância atribuída pelos eleitores à economia e a deterioração na percepção da condição pessoal ajudam a explicar o fraco desempenho eleitoral, até aqui, do presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Segundo o Datafolha, se a eleição fosse hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria o pleito de 2022 no primeiro turno, com 54% dos votos válidos, ante 30% de Bolsonaro.

O percentual de votos válidos, que exclui brancos e nulos, é o considerado pela Justiça Eleitoral para declarar o resultado final —são necessários 50% dos votos válidos mais um.

Se não vencer, Bolsonaro será o primeiro presidente a não se reeleger entre todos os que puderam concorrer, desde a redemocratização, a um segundo mandato. Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff se reelegeram.

A pesquisa mostra ainda que cerca de 7 em cada 10 eleitores não alterariam seu voto se a situação econômica do país piorar —ou a de alguns indicadores econômicos.

No caso dos eleitores de Bolsonaro, no entanto, a possibilidade de mudarem o voto devido a uma piora é cerca de dez pontos percentuais maior do que entre os simpatizantes de Lula.

Se a inflação aumentar, por exemplo, 32% dos eleitores do presidente podem mudar o voto. Entre os de Lula, são 23%.

Bolsonaro concorre à reeleição com dois dos principais indicadores econômicos —inflação desemprego— na casa dos dois dígitos; e com o Banco Central subindo os juros para controlar a escalada dos preços, o que encarece financiamentos ao consumo e desestimula investimentos empresariais.

No acumulado em 12 meses até abril, o IPCA (índice oficial de inflação) ficou em 12,13%, maior nível desde outubro de 2003. Alguns bancos e consultorias consideram que a taxa possa recuar para a faixa de um dígito somente no último trimestre deste ano.

Já o desemprego encerrou o primeiro trimestre em 11,1%, mesmo nível do quarto trimestre de 2021, o equivalente a 11,9 milhões de desocupados.

Cerca de 2 em cada 3 eleitores (66%) avaliam que a situação econômica do país piorou nos últimos meses, mesmo índice captado pela pesquisa em março. 

A taxa é mais alta entre as mulheres dos que entre os homens (71% e 61%, respectivamente), entre moradores do Nordeste (72%) e entre os eleitores de Lula (84%, ante 27% entre os simpatizantes de Bolsonaro). Entre os que reprovam o governo Bolsonaro, o índice chega a 91%.

Já a influência da economia na decisão do voto alcança índices mais altos entre os homens do que entre as mulheres (80%, ante 74%), entre os mais jovens (85%) e os mais instruídos (87%).

Para o levantamento, o Datafolha ouviu 2.556 pessoas acima de 16 anos em 181 municípios do país nos dias 25 e 26 de maio. Contratada pela Folha, a pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos e está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-05166/2022.

FONTE: FOLHA DE S.PAULO