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O sindicalismo brasileiro, que foi alvo de violentos ataques nos últimos anos, está diante de novo cenário político mais favorável à luta dos trabalhadores. A derrota do neofascista Jair Bolsonaro (PL), inimigo declarado dos movimentos sociais, e a vitória do ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abrem perspectivas positivas para o revigoramento da organização coletiva de classe e para a conquista de emprego, renda e direitos.
Altamiro Borges*
Nesse contexto carregado de esperança, 3 grandes desafios estão colocados. O primeiro é o de esmagar as forças de extrema-direita do capital, que ganharam força no mundo e no Brasil combinando várias perversões — fascismo na política, obscurantismo nos valores e ultraneoliberalismo na economia. Não dá para vacilar diante desse perigo.
O fascismo foi derrotado no pleito presidencial, mas cresceu nos executivos estaduais, no Senado e na Câmara Federal e permanece influente na sociedade, inclusive entre as camadas populares.
O segundo desafio é o de contribuir para o êxito do governo Lula, viabilizando as mudanças que empolgaram os brasileiros na eleição. Não será uma batalha fácil. O novo governo está sob cerco: no mundo, em crise e em guerra; na economia, estagnada e sabotada; no Parlamento, sob domínio de forças direitistas e fisiológicas. A frente ampla que foi decisiva para garantir a vitória eleitoral também enseja contradições, com intensa disputa de rumos no governo. Como alertou Lula em dezembro: “Quero dizer em alto e bom som: nós não precisamos de puxa-saco. O governo não precisa de tapinha nas costas. Um governo tem que ser cobrado todo santo dia.”
Ganhar musculatura no sindicalismo
O terceiro grande desafio é o de aproveitar o cenário mais favorável para revigorar o sindicalismo. Na fase que se abre é preciso apostar tudo em mais mobilização, mais conscientização e mais organização de classe. Essa é oportunidade ímpar para retomar o fôlego e ganhar musculatura no enfrentamento aos novos dilemas do mundo do trabalho. Nos últimos anos, a classe sofreu duros golpes na sua materialidade e subjetividade.
Só para ilustrar, o índice de sindicalização no Brasil caiu de 24% nos anos 1990 para 11,2% no ano passado. Já a participação institucional dos trabalhadores também refluiu: em 2010, o sindicalismo elegeu 83 deputados federais; em 2014, caiu para 51; em 2018, despencou para 33; e no ano passado, manteve-se estagnado com 34 deputados. Atualmente, a estrutura do movimento sindical é bem mais precária. A “deforma trabalhista” de 2017 visou, entre outros retrocessos, asfixiar a organização de classe. Naquele ano, o sindicalismo arrecadou R$ 2,24 bilhões com a contribuição sindical; no ano passado, o sustento despencou para R$ 207 milhões.
A batalha de ideias é estratégica
É nesse ponto nevrálgico para o sindicalismo, sobre como recuperar o fôlego e ganhar musculatura, que entra o debate sobre a importância da comunicação e formação. Essas 2 frentes estão relacionadas à batalha de ideias na sociedade, à disputa de hegemonia, que mais do que nunca é estratégica. Sem avançar nesse campo, não haverá avanços na rudimentar luta econômica-sindical ou nas decisivas batalhas políticas da classe. No cotidiano, os trabalhadores enfrentam a artilharia ideológica do capital — no local de trabalho, pela mídia tradicional e agora na mídia digital. Se o sindicalismo não investir nessas frentes estará fadado à inanição!
No caso da comunicação, é preciso partir do rico acúmulo do sindicalismo brasileiro. Com longa história, este construiu forte imprensa sindical, com boletins permanentes, alguns jornais diários ou semanais, uso de rádios comunitárias, TV dos Trabalhadores. Mas é preciso avançar ainda mais nesse terreno. De imediato, superando o grave equívoco de tratar a comunicação como gasto. Não é gasto, é investimento — investimento na luta de ideias. É preciso investir cada vez mais recursos financeiros nessa frente estratégica.
O ideal é combinar todos os instrumentos — da bicicleta de som às redes digitais. Cada ferramenta tem a sua função e seu alcance, o jornal impresso, por exemplo, garante o contato direto com a base, a conversa tête a tête. A rádio — comunitária e comercial — atinge lugares mais dispersos. Os espaços na TV, inclusive os publicitários, alcançam grandes públicos.
Nos últimos tempos, a internet tem ganhado cada vez maior importância. Pesquisa recente aponta que mais de 80% dos brasileiros utilizam as redes digitais e de mensageria. Esse vasto campo, porém, exige repensar a linguagem e os formatos. O sindicalismo ainda é analógico e leva surra na internet, conforme comprovam os serviços de ranking. Mais vídeos, memes e emoção nas redes dos trabalhadores!
Por último, no que se refere à formação, suspeita que exige comprovação: a de que houve recuo nesse campo nos últimos anos. Com as dificuldades vivenciadas pelo sindicalismo, ocorreu queda no número de cursos, de seminários, de escolas e até de responsáveis pela formação nas diretorias das entidades.
Se isso for verdade, é urgente repensar o planejamento. O sindicalismo não recuperará fôlego e ganhará musculatura sem investir na formação de novos quadros e na reciclagem dos mais antigos. Sem priorizar a formação o processo de envelhecimento do movimento sindical, que já é grande, será ainda mais acelerado. É preciso repensar as grades da formação para despertar o interesse e atrair a juventude.
(*) Jornalista. É coordenador do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé. Exposição apresentada no Encontro Sindical Nacional do PCdoB, realizado em Salvador (BA) em 16 de junho.
FONTE: DIAP