O partido que poderia desempenhar o centro mediador, o MDB, não teve condições de fazê-lo porque também estava em 1 dos polos na disputa do impeachment, inclusive como protagonista, já que o vice-presidente da República, Michel Temer, tinha interesse direto na queda de Dilma. Desse modo, com o esvaziamento do centro político, a eleição marcha indelevelmente, como todas as anteriores, desde a redemocratização do País, para confirmar que a polarização continua sendo, insofismavelmente, entre a esquerda e a direita.
Marcos Verlaine*
A divulgação, na quinta-feira (30), de pesquisa de intenção de voto para presidente da República realizada pelo DataPoder360 revela ou confirma aspectos muito interessantes que merecem análise. E muitas interrogações também.
A cada pesquisa fica mais evidente que a polarização continua nos chamados “extremos” do debate político, isto é, entre a esquerda e a direita. A expressão está entre aspas, porque a rigor, por mais que a grande mídia insista que as posições são extremadas de ambos os lados, na realidade, o extremismo é só pela direita. Imputar a Lula ou ao seu substituto, Fernando Haddad, radicalismos é querer confundir o debate e os eleitores.
“Lula é um mediador, está longe de ser um radical”, disse, em 10 de janeiro de 2018, o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
O chamado “centro político” não tem empolgado o debate sucessório e nem se apresenta, até o momento, com a robustez necessária que possa, efetivamente, tirar o protagonismo dos candidatos que representam os seus extremos. Por que o caminho do meio, sempre tão desejado e cortejado por aqueles que querem evitar os confrontos inerentes aos processos, como o que ora se vive no Brasil, não se sobressai?
Talvez porque o chamado “centro político” tenha sido escanteado no processo que redundou no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Quais foram as forças políticas que tentaram fazer mediações para evitar a ruptura com a ordem democrática e o Estado de Direito? Não me lembro de nenhum partido ou chefe de poder que tenha tentado evitar as radicalizações e as consequências que redundaram no impedimento da ex-presidente Dilma. Daí, talvez, derive o fato de o centro não ter condições, nesse momento histórico, de apresentar-se como alternativa de poder real e estável para o País.
Todos os partidos e instituições do Estado se posicionaram num dos polos que estavam em disputa, contra ou a favor do impeachment. Não sobrou espaços para mediações ou entendimentos que pudessem evitar o caos que se instalou no País, antes, durante e depois da decisão do Senado Federal de interromper o mandato presidencial de Dilma Rousseff. Então, o centro, que talvez pudesse desempenhar esse papel se omitiu ou não existia de fato para atuar sob a lógica da manutenção da ordem política e institucional visando o melhor para o País, as instituições, a própria política, a economia e, finalmente, o povo.
A realidade, salvo melhor juízo, indica a inexistência do centro mediador naquele processo e agora também no processo sucessório. As posições contra e a favor se sobressaíram, com a prevalência e consolidação da segunda posição, que por óbvio contaminou a sociedade e as instituições e desaguou na disputa eleitoral.
Até tentaram ressuscitar ou mesmo “inventar” o centro político para apresentá-lo no processo sucessório. Mas, esse movimento nasceu no seio do partido que liderou e açulou o impeachment, o PSDB. Tornando-se assim a iniciativa artificial. Não é à toa que o seu candidato, o tucano Geraldo Alckmin, até o momento não conseguiu empolgar o debate e alçar voos mais altos nas pesquisas de intenção de voto, mesmo dispondo da maior coligação de partidos e de ampla e forte estrutura partidária nacional e nos estados. A pesquisa do DataPoder360 confere-lhe, com Lula figurando na lista de candidatos, apenas um 4º lugar, com míseros 7%. Empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), também com 7%, bem atrás de Bolsonaro que figura com 21%, e Lula, com 30%.
Alckmin é de centro? O PSDB é de centro? Não para ambas as perguntas. Não eram de direita, entretanto tentando se diferenciar do PT e com a radicalização do processo político, hoje estão à direita do espectro político. Não à toa, grande parte dos eleitores de Aécio Neves em 2014 migraram para a candidatura de Bolsonaro.
Outro dado interessante e relevante desta eleição é o fato de que todos os candidatos têm altos índices de rejeição. O que indica que será uma eleição em que o escolhido ou vitorioso será pelo método da exclusão, isto é, elimina-se aquele ou aquela que não se quer de jeito nenhum e fica-se ou escolhe-se o que seria o “menos ruim”.
Nesse quesito, o chamado candidato do centro, Geraldo Alckmin, tem 62% de rejeição. Ou seja, figura dentre os que os eleitores “não votariam de jeito nenhum”. O mais rejeitado, segundo a pesquisa, é o deputado Jair Bolsonaro, com 67% dos que “não votariam [nele] de jeito nenhum”. Ciro Gomes e Marina Silva aparecem com 61% e Lula com 60%. Os menos rejeitados, ainda segundo a pesquisa DataPoder360, são Fernando Haddad (PT), que poderá ser o substituto de Lula, e Alvaro Dias (Pode), ambos com 52%.
O partido que talvez pudesse desempenhar o papel de centro mediador, o MDB, não teve condições de fazê-lo porque também estava em 1 dos polos na disputa do impeachment, inclusive como protagonista, já que o vice-presidente da República, Michel Temer, tinha interesse direto na queda de Dilma. Desse modo, com o esvaziamento do centro político, a eleição marcha indelevelmente, como todas as anteriores, desde a redemocratização do País, para confirmar que a polarização continua sendo, insofismavelmente, entre a esquerda e a direita.
(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap