Governo deseja alterar trechos da nova CLT por medida provisória, mas presidente da Câmara quer que os acertos sejam feitos por projeto de lei para que o Congresso possa debater o tema
Um impasse político atrasa o ajuste de pontos da reforma trabalhista, em vigor desde sábado, 11. Enquanto o governo Michel Temer defende a edição de medida provisória (MP) para alterar alguns trechos da nova Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer um projeto de lei (PL) para que o Congresso debata o tema e não sirva apenas de carimbador do texto do Palácio do Planalto. O conteúdo do ajuste está pacificado e será o mesmo, seja MP ou PL.
O principal argumento de Maia é que o ajuste por MP causará insegurança jurídica. “Para mim é inconstitucional, além de gerar grande insegurança para o trabalhador e criar um precedente: se ninguém fizer nada (para impedir a MP), qualquer presidente que entrar poderá mudar essa legislação por MP”, disse Maia ontem, ao acusar essa alternativa de “enfraquecer a relação entre Poderes”.
As diferenças entre Temer e Maia já duram mais de quatro meses. Em julho, o presidente da Câmara se voltou contra a ideia do governo de alterar pontos da reforma por MP. Essa proposta surgiu para evitar atrasos na tramitação do texto no Senado. Antes de avalizar o projeto, o governo pediu a aprovação integral do texto. Em troca, prometeu alterar trechos reclamados pelos senadores por meio de MP.
A iniciativa foi costurada sem participação da Câmara e a reação foi rápida. “A Câmara não aceitará nenhuma mudança na lei. Qualquer MP não será reconhecida pela Casa”, afirmou Maia pelo Twitter em 12 de julho. Essa disputa não trata do conteúdo do ajuste, já que Temer e Maia parecem concordar com modificações pontuais (ler quadro ao lado) A briga é meramente política.
O governo tentou colocar panos quentes nessa briga, mas as diferenças nunca diminuíram efetivamente. O clima entre Temer e Maia, ao contrário, azedou ainda mais em meio à tramitação da segunda denúncia contra o presidente.
O Planalto teme que o debate em torno de um projeto de lei mude radicalmente o conteúdo da reforma trabalhista – uma das bandeiras de Temer para a retomada do emprego. No meio desse debate, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, prometeu conversar com Temer e Maia. O senador afirmou que, apesar de não ter participado do acordo entre governo e parlamentares, acredita que o presidente deve enviar uma MP.
Fonte: O Estado de S. Paulo