IMAGEM: Ricardo Stuckert

 

“Vai passar
Nessa avenida um samba
Popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram
Sambas imortais
Que aqui sangraram pelos
Nossos pés
Que aqui sambaram
Nossos ancestrais”

Nosso país já passou por por momentos muito difíceis. Em cada um deles, a potência da vontade popular se mostrou capaz de virar a infeliz página de nossa história. Sobrevivemos ao saque e à exploração de seres humanos enquanto colônia. Saímos mais fortes do processo que culminou com a independência e com o fim do período de exceção. Concessões foram feitas e o Brasil foi escalando seu caminho para a democracia com coragem e determinação.

Um golpe, em 2016, interrompeu essa escalada. Deixou marcas. Dividiu o país. Minou um terreno antes fértil e livre com ódio, intolerância e mentiras. Esse povo raivoso e que grita palavras criminosas nas ruas hoje, já estava presente naquele triste dia em que uma barreira foi colocada na Esplanada dos Ministérios para separar os que acreditavam na legitimidade do voto popular e os que queriam acabar com ela.

Essa barreira permaneceu de forma invisível e foi alimentada para que chegasse ao poder um candidato que vociferava o que parte da população queria, mas, até então, não tinha coragem de expressar. As portas dos armários da intolerância, do preconceito e do autoritarismo foram abertas. E delas saíram pessoas que não mais tinham os limites constitucionais para cometer crimes e satisfazer seus instintos mais baixos. Um ataque à civilidade.

Deve ser muito difícil para essa parcela da sociedade retornar à vida onde a lei os obriga a uma convivência saudável. Onde o racismo, a misoginia e a homofobia são crimes. Onde a vida é direito fundamental. Onde o voto da maioria determina o futuro do país e não o da minoria. Mais difícil ainda quando o exemplo que vem de seu líder supremo, apoiador de ditadura e tortura, é o pior possível.

Suportamos muito, choramos a perda de quase 700 mil vidas, resistimos com a coluna ereta, e fomos à luta pela democracia junto com o povo brasileiro, que entendeu o que estava em risco e se levantou.

Contra tudo e contra toda a máquina estatal, ontra uma grande estrutura de compra de votos, Lula foi legitimamente eleito. A leveza na alma é sentida, a democracia será fortalecida. A repercussão para dentro e fora do Brasil já é intensa.

Vai governar para todos, inclusive para os arruaceiros que ainda não se cansaram de protestar causando danos para a circulação das pessoas, seu direito de ir e vir, e para o abastecimento das cidades. O mundo paralelo criado pelas noticias falsas ainda mobiliza pessoas que, em algum momento, vão entender que a pauta deles não terá qualquer resposta. Uma cena ridícula e preocupante. Vão espernear porque não toleram a democracia. Isso está claro pelos cartazes e pelos ataques ao Supremo Tribunal Federal e seus ministros.

Ao largo disso, Lula trabalhará pelo fim da fome. Constituirá uma equipe ampla, como foi a frente vitoriosa, capaz de fazer o país gerar empregos e renda, fortalecer o SUS e garantir educação de qualidade, apostar na ciência.

Vai levantar o Ministério da Cultura do chão e politicamente mobilizar este Brasil profundo e seus valores mais bonitos da diversidade, expressando-os em políticas públicas que gere direitos, transformação e potencialização econômica. Lutará pela redução das desigualdades e fará o Brasil ser reconhecido mundialmente como exemplo na condução de uma política externa altiva e que trará desenvolvimento com respeito ao meio ambiente.

Nossa gente quer sorrir!

Como bem disse Lula em seu primeiro pronunciamento como presidente eleito, “não existem dois Brasis”.

O muro invisível da discórdia, elevado para fazer chegar ao poder o autoritarismo, será derrubado. Aos inconformados também chegarão os benefícios de um governo que incluirá o povo no orçamento. E a vida melhor mostrará a eles que nada justifica se perfilar ao ódio e à mentira.

Vai demorar? Talvez. Mas, o estandarte do sanatório geral vai passar.

FONTE: CARTA CAPITAL/JANDIRA FEGHALI