Em reunião com a bancada do MDB, o presidente eleito Jair Bolsonaro disse: “Quero cumprimentar quem votou na reforma trabalhista. Devemos aprofundar isso daí. É horrível ser patrão no Brasil com essa legislação que está aí”. Por óbvio, se a frase fosse dita a um trabalhador assalariado comum, a resposta seria imediata: “Não, Bolsonaro, horrível é ser empregado num país com essa classe patronal que está aí. Horrível, é ser desempregado, Bolsonaro”.
Mas quem ouviu esse disparate não foi um trabalhador comum, foram deputados e senadores do MDB. Não por acaso o partido que mais se beneficiou com o golpe de 2016 e que, uma vez no poder, apresentou a proposta de uma reforma que modificou mais de 100 itens da Consolidação das Leis do Trabalho, sem que nenhum deles beneficiasse o empregado.
Ou seja, ninguém, no encontro que reuniu Bolsonaro e o MDB, sentiu qualquer constrangimento quando foi chamado a aprovar a retirada de direitos históricos dos trabalhadores brasileiros. Portanto, não partiria de um encontro com o partido de Temer qualquer oposição ao anúncio que seria feito horas depois pela equipe de Bolsonaro: a extinção do Ministério do Trabalho. A propósito, alguém já disse: Bolsonaro será o Temer piorado.
Apenas para efeito de comparação, nos Estados Unidos, país a quem o novo presidente presta reiteradas continências, há um órgão que cuida exclusivamente do tema Trabalho – o Departament of Labor – e que conta, atualmente, com cerca de 17 mil funcionários públicos. E nem a heterodoxia político-gerencial de Trump teve a ousadia de sequer cogitar extingui-lo. Por uma razão elementar: o mundo civilizado inteiro entende que organizar, fomentar e fiscalizar o trabalho está entre os deveres fundamentais de qualquer governo.
Num país como o Brasil, que entre outras vergonhas civilizatórias ainda registra casos de trabalho infantil e trabalho análogo à escravidão, além de ter, atualmente, uma Bélgica (12 milhões) de desempregados e uma Austrália (24 milhões) de desalentados, extinguir o Ministério do Trabalho é um disparate.
Mais do que isso, é uma combinação de despreparo gerencial, desconhecimento da realidade e desrespeito com a massa assalariada do país. Se bem que ter ideias absurdas, demonstrar inaptidão, distorcer fatos, afrontar quem trabalha, enfim, ser “horrível”, parece um elemento essencial no currículo de todos os que já toparam fazer parte do governo Bolsonaro. Ou apoiá-lo.
FONTE: 247