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Nos países mais desenvolvidos do mundo, as pessoas já vivem na era pós-industrial, trabalhando principalmente em indústrias de serviços ou conhecimento. Os fabricantes dependem cada vez mais de tecnologias como sensores, robôs, inteligência artificial e aprendizado de máquina, que substituem o trabalho humano ou o tornam mais eficiente. Os agricultores monitoram a saúde das plantações via satélite e aplicam pesticidas e fertilizantes com drones.

Mas a pesca comercial, uma das indústrias mais antigas do mundo, permanece como uma exceção a essa regra. A pesca industrial, com navios-fábrica e traineiras de alto mar que capturam milhares de toneladas de peixes de uma só vez, ainda é o tipo de operação dominante em grande parte do mundo.

Essa técnica levou à pesca excessiva, ao esgotamento dos cardumes, à destruição de habitats, à matança sem sentido de espécies acessórias indesejadas e ao desperdício de 30% a 40% dos peixes desembarcados. A pesca industrial devastou as frotas artesanais pré-industriais na Ásia, África e Pacífico. Muitas vezes, o produto final da pesca industrial é uma mercadoria que viajou pelo mundo como se fosse uma peça fabricada – em vez de produtos frescos, vindos do mar local.

 Mas esses padrões estão começando a mudar. A pesca comercial tem passado por uma mudança encorajadora em direção a uma era pós-industrial, menos destrutiva e mais transparente. Essa mudança já é visível nos EUA, na Escandinávia, na maior parte da União Europeia, na Islândia, Nova Zelândia, Austrália, Coreia do Sul, Filipinas e em grande parte da América do Sul.

PESCANDO COM DADOS

Mudanças tecnológicas, políticas e comportamentais estão ocorrendo em toda a indústria pesqueira. Aqui estão alguns exemplos:

  • A Global Fishing Watch, organização internacional sem fins lucrativos, monitora a atividade pesqueira global e disponibiliza dados com acesso aberto na internet, com defasagem de 72 horas. Esse avanço na transparência levou à prisão e condenação de proprietários e capitães de barcos que pescavam ilegalmente.
  • O Diálogo Global sobre Rastreabilidade de Frutos do Mar, uma iniciativa internacional business-to-business, cria padrões voluntários da indústria para rastreabilidade de frutos do mar. Esses padrões são projetados para ajudar a harmonizar vários sistemas que rastreiam frutos do mar ao longo da cadeia de suprimentos, de modo que todos coletem as mesmas informações e dependam das mesmas fontes de dados. Essas informações permitem que os compradores saibam de onde vêm os frutos do mar e se foram produzidos de forma sustentável.
  • Um movimento crescente de pesca ecológica espelha os movimentos foodie e locavore, que vêm ganhando força há mais de uma década. Os foodies e os locavores procuram consumir alimentos sazonais e artesanais, de origem local. Assinantes pagam antecipadamente por entregas regulares de pescadores locais. Esse envolvimento comunitário está começando a moldar os padrões de compra e a apresentar aos consumidores novos tipos de peixes que são abundantes, mas pouco conhecidos.

AQUICULTURA EM TERRA

A aquicultura – produção de organismos aquáticos, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis e plantas aquáticas para consumo humano – é a forma de produção de alimentos que mais cresce no mundo, liderada pela China. O setor de pesca de mariscos e algas é o terceiro maior na região do Grande Atlântico, vindo logo depois de lagostas e vieiras. Os empresários também estão criando peixes em grandes sistemas de recirculação terrestres, que reutilizam 95% ou mais da água. Praticamente todas as novas fazendas de salmão nos Estados Unidos – na Flórida, Wisconsin, Indiana e em várias já planejadas para Maine e Califórnia – são baseadas em terra firme.

O PODER DE RESTAURAÇÃO DO OCEANO

O que não falta são informações desanimadoras sobre como a pesca excessiva, juntamente com outros estresses ambientais, como as mudanças climáticas, está afetando os oceanos. No entanto, vale a pena enfatizar que, de acordo com as Nações Unidas, mais de 78% dos atuais desembarques de peixes marinhos vêm de estoques biologicamente sustentáveis. Além disso, a pesca com excesso de captura geralmente pode se recuperar se houver um gerenciamento inteligente.

Por exemplo: a pesca de vieiras da costa leste dos EUA, que foi praticamente extinta em meados da década de 1990, agora é uma indústria sustentável, que gera US$ 570 milhões por ano.

Outra história de sucesso é a de Cabo Pulmo, um trecho de oito quilômetros de costa no extremo sudeste da Península de Baja, no México. Outrora um pesqueiro vital, Cabo Pulmo chegou a ficar estéril no início da década de 1990, após intensa pesca excessiva. Em seguida, as comunidades locais persuadiram o governo mexicano a transformar a área em um parque marinho onde a pesca fosse proibida.

“Em 1999, Cabo Pulmo era um deserto submarino. Dez anos depois, era um caleidoscópio de vida e cor”, diz o ecologista Enric Sala, diretor do Pristine Seas Project da National Geographic.

Os cientistas atestaram que, graças a uma gestão eficaz, a vida marinha em Cabo Pulmo se recuperou em um nível que torna a reserva comparável a locais remotos e intocados, onde nunca houve atividade pesqueira. A pesca fora do refúgio também se recuperou, mostrando que conservação e pesca não são incompatíveis. Na minha opinião, essa é uma boa referência para um futuro oceânico pós-industrial.

Nicholas P. Sullivan é pesquisador sênior do Fletcher Maritime Studies Program e membro sênior do Council on Emerging Market Enterprises, da Tufts University.

FONTE: FASTCOMPANY BRASIL