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Consultorias se especializam em ajudar empresas a ampliarem o debate sobre a temárica LGBT

Era junho de 2016 quando Ariel Nobre e Gustavo Bonfiglioli participaram de uma propaganda da Avon interpretando a si próprios em uma campanha de cosméticos para todas as pessoas, independente de gênero, idade e cor. No dia em que o vídeo completava um ano no ar, os dois estavam no pátio de uma fábrica da Avon promovendo um debate sobre gênero e sexualidade. Eles são fundadores da Pajubá, consultoria que prepara empresas e agências de publicidade para tratar de questões de diversidade – um modelo de negócios que começa a crescer no País.
Nobre e Bonfiglioli contam que perceberam que, apesar do preparo da Avon para gravar o vídeo, a equipe técnica da campanha era predominantemente formada por homens, heterossexuais e brancos. “Vimos que as portas (para a inclusão) estavam abertas, mas que ainda havia coisa para melhorar”, diz Bonfiglioli, que já tinha passagem por agências de publicidade. Para Nobre, também era importante que bissexuais, homossexuais e transexuais passassem a contar sua própria história, e não fossem apenas objetos de narrativas feitas por terceiros. Do lado da demanda, os sócios viam uma preocupação das empresas de “perderem no bolso”. “Um funcionário pode sofrer uma agressão no trabalho e acabar processando a companhia”, afirma Bonfiglioli.
Desde que foi fundada, em 2016, a Pajubá, entre outros trabalhos, já fez um workshop de conscientização no Instituto Criar de TV, Cinema e Novas Mídias – fundado pelo apresentador Luciano Huck e que forma profissionais de audiovisual –, organizou um debate na sorveteria Ben & Jerry’s na Oscar Freire, em São Paulo, e deu consultoria para uma produtora que está gravando uma série com a temática LGBT.
Na Avon, a intenção era promover o núcleo interno Rede de Diversidade, que discute se mulheres, negros, deficientes e profissionais LGBT têm as mesmas oportunidades que os demais trabalhadores da empresa. “Achamos que seria importante contratar uma consultoria porque o assunto tem muitas nuances. Há o risco de não acertar a mão, mesmo tendo boa intenção”, diz o diretor de comunicação da Avon, Hélio Muniz.
No projeto desenvolvido para o Instituto Criar, foi organizado um workshop para alunos e profissionais sobre a representatividade LGBT na TV e no cinema. A necessidade do evento surgiu após dois alunos procurarem a direção do instituto e afirmarem que eram transexuais e que não queriam mais ser tratados pelo nome de batismo – feminino –, e sim pelo nome que haviam escolhido – masculino. “Precisávamos nos preparar para tratar do assunto e não poderíamos fazer isso sozinhos de modo profissional”, conta a gerente de projetos Celia Pecci.
De acordo com Reinaldo Bulgarelli, sócio-diretor da Txai Consultoria, que atua na área de responsabilidade social e também na de inclusão de profissionais LGBT no mundo corporativo, questões relacionadas a transexuais são mais delicadas e incluem, por exemplo, a solicitação de certificado de reservista quando se contrata uma mulher transexual. Para Bulgarelli, porém, apesar do aumento da demanda nos últimos anos por consultoria na área, ainda são “raríssimas” as empresas que têm se preocupado com o assunto.
Posicionamento. A consultora Anna Castanha, da Iden, especializada em assuntos LGBT, conta que também vê uma demanda crescente no setor sobretudo porque os próprios consumidores têm exigido um posicionamento das empresas. Anna afirma que vários publicitários insatisfeitos com o trabalho na área têm deixado as agências para prestar consultoria.
Entre os trabalhos recentes da Iden, está uma consultoria para uma agência que criou a ação da Skol na Parada do Orgulho LGBT e o desenvolvimento de todo o projeto da Castro Burguer, uma hamburgueria de São Paulo que abraça a causa da diversidade e conta com banheiros sem distinção de gênero, além de cinco profissionais transexuais.
 
Fonte: O Estado de S. Paulo