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Estatal projeta recorde na fabricação de módulos de plataformas no país em 2025 e vê demanda crescente por descomissionamento.
A fabricação de módulos para plataformas de petróleo, nos estaleiros brasileiros, deve atingir em 2025 um nível recorde de atividades, próximo às 70 mil toneladas/ano, de acordo com projeções da Petrobras.
O pico de contratação desse tipo de serviço na indústria naval ocorreu entre 2014 e 2015, quando a contratação de módulos ultrapassou a barreira das 60 mil toneladas/ano. Em seguida, as atividades entraram em declínio e, entre 2018 e 2021, viveram um vale, com um nível inferior a 10 mil toneladas/ano no período.
A estatal estima que a curva de contratação de módulos para as unidades de produção que entrarão em operação nos próximos anos deve saltar rapidamente – para efeitos de comparação, em 2023, a demanda do setor deve ficar abaixo das 50 mil toneladas/ano.
Além da fabricação de módulos para as novas plataformas, a Petrobras acredita que o descomissionamento das unidades que chegam ao fim da vida útil serão suficientes para manter os estaleiros nacionais ocupados – e, inclusive, gerar oportunidades para novos entrantes – mesmo sem mudanças nos níveis de conteúdo local.
E antecipa que as encomendas para a indústria de máquinas e equipamentos vão além dos projetos navais, puxada pela modernização nas áreas de refino, gás e energia.
Existe ainda a expectativa em torno do novo programa de renovação da frota da Transpetro, que está em elaboração e cujas primeiras encomendas devem começar em 2024.
A retomada de obras de construção de cascos para plataformas, por sua vez, não está no radar e é vista hoje como uma realidade distante para a indústria naval brasileira.
Plataformas maiores, encomendas maiores
As projeções sobre a ocupação dos estaleiros foram divulgadas pelo diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Carlos Travassos, em apresentação recente na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Os dados levam em conta os projetos previstos no plano estratégico 2023-2027 – em revisão.
“Estamos frente a uma demanda crescente, muito grande, e a indústria vai precisar se preparar”, disse o executivo, este mês, em entrevista coletiva.
Segundo Travassos, o aquecimento da demanda nacional está ligado também ao aumento do tamanho das plantas de processo das plataformas da Petrobras – o que ajudará a manter os estaleiros ocupados, mesmo com índices de conteúdo local mais baixos, atualmente, em relação aos da década passada.
Se no início do século as plantas tinham em média 15 mil toneladas, as novas unidades chegam a 50 mil toneladas, como é o caso da P-84 (Atapu) e da P-85 (Sépia).
Ambas as plataformas estão previstas para entrar em operação após 2028, com capacidade para produzir mais de 225 mil barris/dia de petróleo cada, e devem constar no novo plano de negócios da companhia.
“Quando se fala de conteúdo local, imaginando [um percentual] de 25%, estamos falando de 25% não mais de 15 mil toneladas, mas de 50 mil toneladas”, complementou Travassos na conversa com jornalistas.
Entre os estaleiros, a intensificação das encomendas da Petrobras é vista como uma oportunidade para alimentar a curva de produtividade do setor, afetado na última década por uma profunda crise.
A ideia é usar as novas demandas para que os canteiros nacionais voltem a ganhar impulso e, futuramente, assumam projetos maiores. Nos últimos anos, os estaleiros brasileiros têm tido dificuldade de competir, sobretudo frente aos asiáticos.
Petrobras vê oportunidades em descomissionamento
A demanda na indústria naval, na visão da Petrobras, deve ser impulsionada também pelo descomissionamento de plataformas. A estatal vai descontinuar 26 unidades entre 2023 e 2027.
A previsão é destinar US$ 9,8 bilhões para essas atividades, que devem incluir ainda desmobilização em 360 poços e de mais de 2.500 quilômetros de risers e linhas.
A estatal vai adotar uma política de “reciclagem verde” para esses projetos. Este mês, a companhia fez o primeiro leilão de destinação sustentável de uma plataforma, a P-32, que produziu no campo de Viola, na Bacia de Campos.
Executivos da companhia têm destacado que essa também é uma oportunidade para os estaleiros nacionais. Hoje, apenas oito países têm estaleiros certificados pela União Europeia com capacidade técnica para desmantelar unidades do porte das embarcações da Petrobras: Estados Unidos, Noruega, Turquia, Irlanda do Norte, Dinamarca, Holanda, Itália e Lituânia.
“Como o Brasil é importador desse tipo de material metálico, identificamos como uma boa oportunidade para o mercado, ao mesmo tempo em que conseguimos promover uma destinação verde para plataformas desativadas e gerar empregos diretos e indiretos dentro desse processo”, disse Travassos, após o leilão da P-32.
O descomissionamento é visto como uma oportunidade de manter as atividades nos canteiros brasileiros mesmo em momentos futuros de arrefecimento na contratação de novas plataformas. A maior previsibilidade e continuidade na demanda é um dos principais pleitos dos estaleiros brasileiros.
A indústria metalmecânica também deve se beneficiar desse novo momento, com a retomada de obras nas áreas de Gás e Energia.
É o caso das obras no Polo Gaslub, em Itaboraí (RJ), assim como as expansões previstas para Reduc (RJ), Rnest (PE), Replan, Revap (SP) e RPBC (SP) até 2027.
A demanda para essa indústria pode ser reforçada ainda por outros projetos em análise de viabilidade, que poderão ser incluídos no Plano de Negócios 2024-2028, a ser divulgado ainda este ano. A estatal avalia, por exemplo, a construção de uma usina termelétrica no Gaslub.