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Novo avanço de dois dígitos no volume transportado e alta nos custos impulsionada pelo gasto com combustível de navegação, o bunker, e pela cotação do dólar, são os pontos de destaque no desempenho da cabotagem neste ano. A cabotagem é a navegação feita entre dois portos domésticos ou entre um porto fluvial e um marítimo.

O descasamento entre o aumento no volume de carga transportada via contêineres, ligada à atividade doméstica, e o fraco desempenho do PIB revela o ganho de espaço do setor na matriz de transporte brasileira. O subsídio que está sendo dado ao diesel para caminhões, após onda de protestos, não agrada o setor, sendo considerado um péssimo sinal para a cabotagem. Luís Fernando Resano, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma) avalia o subsídio como "muito ruim para a competição e o equilíbrio dos modais".

"Quando o governo atende apenas aos caminhoneiros cria uma distorção entre os modais, um gap artificial nos fretes que não é saudável", comenta. Sobre potenciais reflexos no curto prazo no desempenho da cabotagem, ele considera limitados. "Não é fácil mudar a matriz de uma hora para outra."

Dados do Syndarma, considerando apenas a cabotagem, mostram crescimento de 13,1% no volume transportado em TEUs - um contêiner de 20 pés - no primeiro semestre sobre igual período de 2017, com destaque para a chamada carga doméstica. "Os armadores têm trabalhado com sucesso na busca por novas cargas, como alimentos, eletroeletrônicos e remédios, que deixam as rodovias e optam pela cabotagem. O que queremos não é um benefício para a navegação, mas para o usuário e para o país", comenta o VP do Syndarma. Sobre o aumento dos custos por conta do combustível e do dólar, Resano comenta que a solução adotada pelas empresas de navegação, de criar uma taxa de bunker, é positiva. "É melhor do que elevar o custo do frete diretamente porque sobre ele incidem impostos e taxas. Se o preço do bunker recuar, basta tirar a taxa."

O gerente geral de cabotagem e Mercosul da Aliança, Marcus Voloch, explica que foi inevitável a cobrança extra. "Os custos por tonelada transportada subiram 32%. De janeiro até agora, gastamos a mais R$ 25 milhões", explica.

A Aliança, que integra o Grupo Hamburg Süd, pagava, em janeiro, US$ 380 pela tonelada de combustível, agora paga perto de US$ 460, uma alta de 18%. A cobrança, que começou no dia primeiro de junho, não é linear, mas dependerá do tamanho do percurso. "A taxa foi implementada com sucesso para todos os clientes. Neste mês, podemos revisá-la se houver variação significante no custo por tonelada, para mais ou para menos."

De janeiro a março, a Aliança registrou forte alta na cabotagem, de 24% no volume transportado sobre primeiro trimestre de 2017. "Foram 69 mil contêineres e estamos bem satisfeitos. Mas é difícil manter um crescimento tão forte até dezembro", comenta Voloch.

A Aliança vem avançando acima dos demais armadores e um dos motivos é o aumento da frota de navegação. No ano passado, foram investidos US$ 85 milhões em dois navios para substituir unidades menores, com ganho de 20% na capacidade. No primeiro trimestre deste ano, a Aliança aumentou em 13% o número de clientes. Em setembro, a empresa coloca em operação mais um navio, com capacidade para 1.700 TEUs. É uma embarcação menor para atender aos portos de Belém, que já estavam na rota, e outro no Maranhão, uma nova operação. "São portos menores e o navio é mais adequado."

Outra empresa que registrou alta na cabotagem foi a Log-In, com avanço de 6,8% no volume transportado no primeiro trimestre, para 28,5 mil TEUs, e receita crescendo 13,8%, para R$ 99 milhões.

A Log-In passa por fase de reestruturação. Este ano conseguiu renegociar com o BNDES vencimentos de R$ 55 milhões em dívidas que deveriam ser pagos em janeiro e dezembro de 2020. Os prazos agora são janeiro de 2021 e junho de 2031. A dívida líquida chega a R$ 1,234 bilhão. De um prejuízo de R$ 15 milhões no primeiro trimestre de 2017, a companhia conseguiu lucro de R$ 41,8 milhões em igual período deste ano.

O bom desempenho dos armadores reflete na Santos Brasil, operadora de terminais portuários. "O ano de 2018 está indo muito bem e só entre janeiro e abril crescemos em movimentação nos portos algo perto de 20% na carga para cabotagem", comenta Marcos Tourinho, diretor comercial da Santos Brasil.

O executivo destaca a diversificação da carga como fator do crescimento da cabotagem. "Saindo dos terminais de Vila do Conde, no Pará, por exemplo, temos manganês, óleo de palma e bebida optando pela cabotagem por conta do preço", comenta. Tourinho chama a atenção para o aumento da carga de eletroeletrônico, cujas vendas foram estimuladas pela Copa do Mundo. "Só em maio, houve alta de 40% na movimentação destes produtos."

Fonte: Valor