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A alta da inflação, crise do petróleo, calote da dívida externa, entre outros problemas que ocorreram nas últimas cinco décadas, reduziram tanto a renda per capita brasileira que, ainda que o país fizesse reformas e elevasse o crescimento potencial, de 1,5% para 3,5%, levaria 66 anos para atingir a renda atual dos Estados Unidos.
 
A convergência para a renda do Chile levaria menos, 16 anos. Para a da Coreia do Sul, 40 anos. O cálculo, presente em um estudo do Itaú , leva em conta um aumento de 0,7% ao ano na população brasileira e exclui efeitos do câmbio.
Autores do trabalho, os economistas Artur Manoel Passos e Alexandre Gomes da Cunha estimam que a renda brasileira caiu 25% de 1961 a 2016. "Desarranjos macroeconômicos têm efeito permanente sobre a produtividade e sobre o nível da renda per capita."
Para chegar a essa queda, o estudo calcula que os episódios de default na dívida externa reduzem a produtividade em 1% a 2% no ano em que ocorre, e no seguinte. Se o default incluir componentes da dívida doméstica (exemplo é o Plano Collor, em 1990), há um choque adicional de 2% a 3% no ano. Por fim, altas relevantes da inflação reduzem a produtividade em 2%.
"Somando o efeito de todos os choques desde 1961, estimamos queda acumulada de 25% da renda do país. Esse é o efeito direto. Se considerarmos que os efeitos citados se reforçam mutuamente, o impacto sobre a renda per capita tende a ser substancialmente maior", afirmam os economistas.
Essa queda brutal na renda ocorreu apesar de o crescimento médio ao ano do período ter sido de 3,9% e apesar das fases de bonança, como o "milagre econômico" (1967 a 1974), de estabilização e reformas (1995 a 2002), de consolidação do tripé econômico e boom das commodities (2003 a 2010), intervalos em que o crescimento médio foi de 9,4%, 2,6% e 4% ao ano, respectivamente.
O estudo afirma que um ajuste fiscal focado no corte de gastos e a realização de uma série de reformas microeconômicas elevaria o crescimento potencial do Produto Interno Bruto (PIB) a um nível sustentável de 3,5%. Sem isso, o potencial de crescimento do PIB ficaria ao redor do nível atual, em 1,5%.
"Esse crescimento baixo dificultaria a estabilização da dívida pública, aumentando a probabilidade dos desarranjos macroeconômicos e seus choques permanentes sobre a produtividade. E, claro, implicaria que o Brasil seguiria sendo um país relativamente pobre", afirmam os economistas.
Entre as reformas microeconômicas necessárias, algumas já foram realizadas, como a trabalhista, e outras estão em andamento. Reformas que envolvam mudanças na estrutura tributária e regulatória e que melhorem a educação também entram nessa conta.
O ajuste focado nos gastos elevaria a poupança doméstica e a capacidade de investimento e daria sustentabilidade à dívida pública, algo que um PIB potencial de 1,5% não seria capaz de garantir.
O Itaú calculou o PIB potencial com dois cenários de poupança doméstica, e com e sem reformas microeconômicas. O primeiro considera a poupança em 15% do PIB, similar à observada em 2015 (14,8%) e 2016 (15,1%), que seria compatível com a ausência de um ajuste fiscal relevante. O segundo considera poupança de 20%, consistente com um ajuste forte.
No primeiro caso, sem as reformas micro e uma poupança de 15% do PIB, o crescimento potencial seria de 1,5%, taxa que não inclui o potencial impacto de desarranjos macroeconômicos. Feitas as reformas micro, a poupança de 15% geraria crescimento potencial de 2%. Já a poupança de 20% do PIB implicaria expansão de 3% sem reformas, e de 3,5% com reformas.
Nesse cálculos, os economistas consideraram aumento anual de 0,8% da população economicamente ativa, alta de 1,75% do PIB per capita global, que é a média da projeção do banco para os próximos quatro anos, e preços internacionais de commodities estáveis em termos reais.

Fonte: Valor Econômico