IMAGEM: Ricardo Stuckert/PR

Análise é do professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, explicando bastidores do anúncio

Embora o esperado - por 25 anos - acordo entre a União Europeia e o Mercosul tenha sido anunciado nesta sexta-feira (6), ainda há um caminho longo para que o texto definitivo seja conhecido e, mais do que isso, para que esta aliança comercial passe a valer efetivamente. Assim, toda a pompa e circunstância que foram vistas no anúncio da aliança podem até ser justificadas, mas apenas momentaneamente. Afinal, o acordo foi anunciado, mas não está valendo. Os próximos passos são muitos, são burocráticos, enfrentarão muita resistência e, assim, os fogos de artifício que marcaram a manhã deste 6 de dezembro de 2024, já perderam seu brilho. 

A pergunta que agora paira é o que fez com que as conversas se acelerassem de tal forma que deram força para que o anúncio se deste nesta reta final de ano? Para o professor de relações de internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, a resposta é bastante clara: por conta do protecionismo americano. 

"As negociações tinham 25 anos, cheios de nãos. O que tirou o acordo da letargia foi o protecionismo americano. É o segundo governo Trump que está ameaçando a sobrevivência dos dois lados. Não só fez o acordo começar a andar, como vai fazer o acordo ser implatado", explica ao Notícias Agrícolas. "O protecionismo americano é muito forte, e será ainda mais forte, os EUA são o grande freguês. Mais de 15% do total das importações do mundo vão para um único país, que são os Estados Unidos. Eles são o grande freguês e estão fechando a porta. A União Europeia olhou para isso e viu que estava em um momento crítico e para o Mercosul não é diferente. O acordo é uma tábua de salvação para os dois lados".

Trevisan complementa dizendo que, embora o agronegócio esteja agora em um centro importante das discussões - e também por parte da resistência dos países dos quais ela vem - não é o único setor que exige atenção. O professor cita como exemplo a indústria alemã. "A Alemanha, a poderosa Alemanha, está completando agora o terceiro ano de recessão econômica porque está enfrentando muita barreira para entrar nos EUA com seus produtos. Tem a China entrando. Assim, não é só o protecionismo. O protencionismo americano é assustador, mas a voracidade de exportação chinesa também é assustadora. Então, foi nesse sentido que os dois lados sentaram para conversaram e esqueceram as prosopopéias porque tinham um problema maior". 

Desta perspectiva mais ampla, o professor ainda afirma que o acordo não garante apenas portas mais largas para a entrada, por exemplo, de mais carros alemães nos países do Mercosul, mas um ambiente mais atrativo para a chegada de importantes investimentos que poderão promover a atualização da indústria brasileira. "A reindustrialização brasileira vai passar por este processo e isso é muito importante. Então, não são só vantagens para o agronegócio", afirma o Leonardo Trevisan. 

QUAIS OS MOTIVOS DA RESISTÊNCIA?

"E os calos pisados dos franceses? Os franceses tiveram calos pisados, mas o restante da Europa olhou para a situação e pensou: que tal comprar produto mais barato e melhor? Por que eu tenho que continuar comprando produto francês? Essa é a gritaria! A ponto de fazer os supermercados franceses mentirem sobre a carne brasileira. Então, de alguma forma, se não se olha para este quadro econômico, não se compreende que a política vai ter que andar", complementa o especialista. 

Novos protestos por agricultores franceses foram registrados nos últimos dias, com os agricultores pedindo, inclusive, por "desobediência civil" diante do acordo UE-Mercosul. Ao mesmo tempo, o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrenta um turbulento cenário político em seu país, inclusive com parlamentares de direita e esquerda pedidndo por sua renúncia, depois da recente queda de seu primeiro ministro Michel Barnier, no início desta semana. 

Mais do que isso, o líder francês ainda teria dito a Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que os termos do acordo seriam inaceitáveis e que seguiria se opondo ao acordo. Ao seu lado, estão ainda países como Itália, Polônia, Holanda, Áustria, em mais algumas pequenas nações europeias. A justificativa se dá, mais uma vez, na agricultura. Mais de uma vez, o presidente francês se valeu de um discurso de "proteção aos agricultores franceses" para expressar seu descontentamento com o avanço do acordo. Suas preocupações, no entanto, servem apenas para disfarçar o temor que sente sobre seu já abalado futuro político. 

"O território dos agricultores franceses é um território muito promissor parao avanço a direita europeia, principalmente Marine Le Pen (principal opositora política de Macron). Então, de toda forma, Marine Le Pen está esfregando as mãos diante desse acordo porque os agricultores franceses, obviamente, são contra (o acordo) porque eles têm um mercado cativo. O restante da Europa compra produtos, principalmente da indústria láctea francesa e polonesa, e o agronegócio brasileiro é muito eficiente nessa indústria, com graus de produtividade muito maiores do que os franceses e poloneses. Assim, é evidente que, ao longo do tempo, a França perderá mercado na União Europeia para os produtos do Mercosul. O medo é esse, não as cotas de entrada na França que podem ser contidas, o medo é o resto da Europa", detalha Trevisan. 

O QUE FALTA PARA COMEÇAR A VALER O ACORDO?

O acordo que foi anunciado nesta sexta-feira foi construído em inglês, que não é a língua oficial de nenhum dos países que fazem parte dele. Assim, um dos primeiros próximos passos é fazer sua tradução para os idiomas de todos as nações participantes. São 27 da União Europeia - Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia e Suécia - além dos quatro do Mercosul - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Bolívia foi aceita no bloco, porém, ainda está em processo de adesão e a Venezuela suspensa desde 2017. 

Depois disso, o texto terá de passar por todos os trâmites jurídicos para garantir que o acordo não esteja infringindo ou ferindo nenhuma norma ou lei do comércio internacional. E mais do que isso, ele terá de passar pelos chefes de estado do Conselho Europeu e pelos 720 votantes do Parlamento Europeu. Do mesmo modo, no Mercosul, o tratado deverá ser ratificado pelos quatro países membros. 

Dessa forma, a assinatura ocorrerá após a revisão jurídica e tradução dos textos. "Não há prazo definido. Após a revisão legal e tradução, será assinado, seguido da aprovação interna e ratificação por cada parte", informou a Royal Rural.  

Trevisan complementa dizendo que, embora o agronegócio esteja agora em um centro importante das discussões - e também por parte da resistência dos países dos quais ela vem - não é o único setor que exige atenção. O professor cita como exemplo a indústria alemã. "A Alemanha, a poderosa Alemanha, está completando agora o terceiro ano de recessão econômica porque está enfrentando muita barreira para entrar nos EUA com seus produtos. Tem a China entrando. Assim, não é só o protecionismo. O protencionismo americano é assustador, mas a voracidade de exportação chinesa também é assustadora. Então, foi nesse sentido que os dois lados sentaram para conversaram e esqueceram as prosopopéias porque tinham um problema maior". 

Desta perspectiva mais ampla, o professor ainda afirma que o acordo não garante apenas portas mais largas para a entrada, por exemplo, de mais carros alemães nos países do Mercosul, mas um ambiente mais atrativo para a chegada de importantes investimentos que poderão promover a atualização da indústria brasileira. "A reindustrialização brasileira vai passar por este processo e isso é muito importante. Então, não são só vantagens para o agronegócio", afirma o Leonardo Trevisan. 

QUAIS OS MOTIVOS DA RESISTÊNCIA?

"E os calos pisados dos franceses? Os franceses tiveram calos pisados, mas o restante da Europa olhou para a situação e pensou: que tal comprar produto mais barato e melhor? Por que eu tenho que continuar comprando produto francês? Essa é a gritaria! A ponto de fazer os supermercados franceses mentirem sobre a carne brasileira. Então, de alguma forma, se não se olha para este quadro econômico, não se compreende que a política vai ter que andar", complementa o especialista. 

Novos protestos por agricultores franceses foram registrados nos últimos dias, com os agricultores pedindo, inclusive, por "desobediência civil" diante do acordo UE-Mercosul. Ao mesmo tempo, o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrenta um turbulento cenário político em seu país, inclusive com parlamentares de direita e esquerda pedidndo por sua renúncia, depois da recente queda de seu primeiro ministro Michel Barnier, no início desta semana. 

Mais do que isso, o líder francês ainda teria dito a Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que os termos do acordo seriam inaceitáveis e que seguiria se opondo ao acordo. Ao seu lado, estão ainda países como Itália, Polônia, Holanda, Áustria, em mais algumas pequenas nações europeias. A justificativa se dá, mais uma vez, na agricultura. Mais de uma vez, o presidente francês se valeu de um discurso de "proteção aos agricultores franceses" para expressar seu descontentamento com o avanço do acordo. Suas preocupações, no entanto, servem apenas para disfarçar o temor que sente sobre seu já abalado futuro político. 

"O território dos agricultores franceses é um território muito promissor parao avanço a direita europeia, principalmente Marine Le Pen (principal opositora política de Macron). Então, de toda forma, Marine Le Pen está esfregando as mãos diante desse acordo porque os agricultores franceses, obviamente, são contra (o acordo) porque eles têm um mercado cativo. O restante da Europa compra produtos, principalmente da indústria láctea francesa e polonesa, e o agronegócio brasileiro é muito eficiente nessa indústria, com graus de produtividade muito maiores do que os franceses e poloneses. Assim, é evidente que, ao longo do tempo, a França perderá mercado na União Europeia para os produtos do Mercosul. O medo é esse, não as cotas de entrada na França que podem ser contidas, o medo é o resto da Europa", detalha Trevisan. 

O QUE FALTA PARA COMEÇAR A VALER O ACORDO?

O acordo que foi anunciado nesta sexta-feira foi construído em inglês, que não é a língua oficial de nenhum dos países que fazem parte dele. Assim, um dos primeiros próximos passos é fazer sua tradução para os idiomas de todos as nações participantes. São 27 da União Europeia - Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia e Suécia - além dos quatro do Mercosul - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Bolívia foi aceita no bloco, porém, ainda está em processo de adesão e a Venezuela suspensa desde 2017. 

Depois disso, o texto terá de passar por todos os trâmites jurídicos para garantir que o acordo não esteja infringindo ou ferindo nenhuma norma ou lei do comércio internacional. E mais do que isso, ele terá de passar pelos chefes de estado do Conselho Europeu e pelos 720 votantes do Parlamento Europeu. Do mesmo modo, no Mercosul, o tratado deverá ser ratificado pelos quatro países membros. 

Dessa forma, a assinatura ocorrerá após a revisão jurídica e tradução dos textos. "Não há prazo definido. Após a revisão legal e tradução, será assinado, seguido da aprovação interna e ratificação por cada parte", informou a Royal Rural. 

FONTE: NOTÍCIAS AGRÍCOLAS