(Divulgação/ Governo do Estado de São Paulo)

IMAGEM: Divulgação/ Governo do Estado de São Paulo

Seca afeta transporte de cargas na hidrovia Tietê-Paraná, que vai paralisar as atividades nesta semana na região de Buritama. 

A estiagem que já afeta a vida dos moradores da região de Rio Preto através do racionamento de água, baixo nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas e que já seca represas e nascentes regionais também levará a navegação de embarcações de grande porte no trecho entre Araçatuba e Buritama, da hidrovia Tietê-Paraná, a paralisar suas atividades nesta semana. Em outros trechos da hidrovia, como em Pederneiras (SP), a paralisação da barcaças aconteceu na última sexta-feira, 27.

Isso porque, com águas mais baixas devido à estiagem, as embarcações que trafegam pela hidrovia já não estão conseguindo mais operar com plena capacidade. No trecho da hidrovia próximo de Buritama, considerado principal gargalo da rota, as empresas estavam contando com ajuda do Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo, que estava conseguindo autorização da usina de Nova Avanhandava para liberar maior vazão de água, com o objetivo que as barcaças conseguissem passar, sem ficar presas no pedral.

Contudo, essa autorização para aumentar a vazão de água só dura até a próxima terça-feira, 31, com o objetivo de não comprometer o funcionamento da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira. Com isso, a partir de quarta-feira, 1° de setembro, embarcações de grande porte não conseguirão mais passar pela hidrovia. Ou seja, a hidrovia Tietê-Paraná voltará a ficar fechada.

Dados do Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo mostram que, na primeira quinzena de agosto, apenas quatro comboios estavam operando na hidrovia. Para se ter uma ideia, entre janeiro e maio, eram 24 comboios que operavam. “Essa hidrovia é importante, pois é onde escoa a produção de soja, milho e até de madeira. Isso tudo afeta o escoamento da nossa produção agrícola”, afirmou o secretário de logística e transporte do Estado de São Paulo, João Octaviano Machado Neto.

A hidrovia é uma das principais do Brasil porque funciona como rota para embarcações de cargas que transportam grãos de Goiás e Mato Grosso do Sul para o porto de Pederneiras (SP). De lá, o carregamento é transportado de trem até o Porto de Santos, com destino à Europa e à Ásia. “O Governo do estado de São Paulo fez o possível para que não houvesse a paralisação. Tanto que conseguimos essa autorização para as ondas de vazão”, disse Neto.

Especialistas dizem que, entre os reflexos da paralisação da hidrovia Tietê-Paraná para o agronegócio, está o possível alto custo do frete e perda de rentabilidade de produtores do Centro-Oeste, principais dependentes da hidrovia para escoamento de sua produção para o exterior.

Para o presidente da Federação Nacional das Empresas de Navegação Aquaviária (Fenavega), Raimundo Holanda, a situação da Tietê-Paraná é prejudicial porque a hidrovia pode cair em descrédito. “A ameaça de paralisação inviabiliza os investimentos na hidrovia. Sem falar que, caso o Operador Nacional do Sistema Elétrica (ONS) decida abaixar o nível dos reservatórios de Ilha Solteira e Três Irmãos, quem garante que outras hidrovias, como a do Madeira e a do Tocantins-Araguaia, não serão igualmente prejudicadas em prol exclusivamente da geração de energia?”, questionou o Holanda. 

Prejuízos

Essa não é a primeira vez que a hidrovia sofre com a estiagem. Entre 2014 e 2016, a hidrovia Tietê-Paraná também teve suas atividades paralisadas durante 20 meses por conta da falta de chuvas e do baixo nível do rio. Dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT) estimam um prejuízo de R$ 1 bilhão às empresas de navegação. Além disso, aproximadamente 1,6 mil pessoas perderam o emprego com a paralisação da hidrovia.

Considerado o principal gargalo da hidrovia de 2,4 mil quilômetros, o pedral de Nova Avanhandava começou a ser implodido no início deste ano. A expectativa do governo paulista é que com o fim da obra as barcaças maiores consigam operar.

Prainhas também sofrem impacto 

Além da pandemia do coronavírus, que interditou prainhas da região de Rio Preto banhadas pelos rios Tietê, Paraná e Grande, agora, cidades turísticas também sofrem com a estiagem. Em alguns trechos, o Tietê recuou até 80 metros aumentando a faixa de areia e diminuindo a de água.

Segundo o vice-prefeito de Adolfo, Nelson Ribeiro, a estiagem fez o rio Fartura, braço do Tietê na cidade, recuar 70 metros nas últimas semanas. “É uma situação que nunca tinha visto antes, recuou demais. Esse recuo sempre acontece, mas nessa dimensão não me lembro. A ilha, que aparecia só a ponta no meio do rio, agora está aparecendo totalmente”.

Adolfo não é a única cidade que enfrenta os impactos da estiagem. Em Mendonça, o recuou foi tão grande que até as boias para as embarcações ficaram fora d’água. Em Guaraci, o trecho do rio Grande que funciona como reservatório da Usina de Marimbondo recuou mais de um quilômetro em alguns trechos.

Como reflexo da falta de chuvas, as usinas hidrelétricas de Marimbondo (13,85%), entre Icém e Fronteira (MG); Água Vermelha (20,55%), entre Ouroeste e Iturama (MG); e Ilha Solteira (31,02%), continuam operando com baixa capacidade. Situação preocupante que já ligou sinal de alerta para o ONS para o risco de racionamento de energia elétrica. No Brasil, aproximadamente 60% da energia vem das hidrelétricas. (RC).

FONTE: DIÁRIO DA REGIÃO