IMAGEM: INDIA FOUNDATION

Ministro da Fazenda e presidente do BC participam de reunião das 20 maiores economias. País comandará o grupo em 2024

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, chegam nesta quinta-feira a Bangalore, na Índia, onde participam da 1ª Reunião de Ministros de Finanças e Governadores de Bancos Centrais dos países do G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia. O Brasil assumirá a presidência do grupo em 2024, e o encontro desta semana deve guiar quais mensagens o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai levar para as maiores potências globais.

Antes da viagem, Haddad afirmou que a agenda no país asiático deve "preparar o terreno" para que o país reassuma seu protagonismo. "Nossa economia ficou muito isolada, e o mundo está celebrando o fato de que o Brasil voltou à mesa de negociações em busca de democracia, paz, combate à fome e prosperidade com justiça social", disse a jornalistas, na última sexta-feira.

O primeiro compromisso oficial é o jantar de recepção das autoridades na noite de hoje. Amanhã pela manhã, acontecem os dois principais eventos multilaterais do G20 e, à tarde, Haddad se dedica às reuniões bilaterais. A previsão é que o ministro retorne ao Brasil no sábado. Já o presidente do BC realizará uma palestra em um dos simpósios do evento, sobre infraestrutura pública digital.

De acordo com a Fazenda, a transição para uma economia verde, com sustentabilidade socioambiental, deve ser bastante discutida nas reuniões bilaterais de Haddad. Já estão confirmadas reuniões do ministro com o comissário da União Europeia (UE) para Economia, Paolo Gentiloni; com o ministro das Finanças da África do Sul, Enoch Godongwana; e com a terceira vice-presidente e ministra de Assuntos Econômicos da Espanha, Nadia Calviño.

Segundo o economista César Bergo, professor da Universidade de Brasília (UnB) e sócio-diretor da OpenInvest, o Brasil vive um momento especial no que se refere à sua participação. "A maioria dos países desse bloco enfrenta sérios problemas sociais e geopolíticos. Guerras, desastres naturais, escassez de energia, greves, inflação. Embora não esteja imune a esses problemas, o Brasil surge como sério candidato a apresentar soluções para a maioria desses problemas", afirmou.

Para o economista, esse cenário soma-se ao clima favorável em razão da posse do novo governo, que tem apresentado uma narrativa que agrada às grandes potências e é mais amigável aos emergentes. "Bandeiras como preservação do meio ambiente, energia limpa e produção de alimentos colocam o Brasil em destaque no G20 e abrem grandes oportunidades futuras para fortalecimento da reputação e das relações econômicas globais", acrescentou.

Protagonismo

O encontro ocorre no momento em que o retorno do Brasil ao cenário mundial é saudado por diversos atores e lideranças mundiais, depois de quatro anos de isolamento, no período do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Historicamente, o Brasil sempre foi uma liderança de negociações dos países em desenvolvimento. Por uma falta de decoro e traquejo do ex-presidente, o país acabou isolado da União Europeia e do próprio Mercosul, se unindo às piores figuras que havia no cenário internacional", observou Felipe Queiroz, especialista em macroeconomia e economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

De acordo com Queiroz, a volta de Lula à presidência também marca a retomada nas negociações. "O último governo tratou o cuidado com o meio ambiente como algo secundário, e esta é uma questão global muito importante e priorizada pelos países. Como efeito desse descaso, tivemos recordes de desmatamento, queimadas na Amazônia, a completa degradação e barbárie do meio ambiente", destacou.

Neste sentido, o novo governo retoma a posição de liderança e pleiteia o ambiente para assumir a presidência do grupo. "Inegavelmente, um discurso alinhado trará também a volta de investimentos, tanto em infraestrutura quanto saúde, educação e pesquisa. Tudo isso atrai o olhar do mercado internacional, dos investidores e das demais nações ao cenário brasileiro", acrescentou o economista.

Agenda

Diferentemente de organizações internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, o G20 não tem pessoal permanente. A presidência do grupo é anual e rotativa entre os membros, sendo o país presidente incumbido de estabelecer um secretariado provisório durante sua gestão.

Ao chegar ao comando do grupo em 2024, o Brasil passará a ter o poder de organizar reuniões ministeriais envolvendo temas como macroeconomia, meio ambiente, agricultura, comércio exterior, investimentos, industrialização, energia ou saúde. A presidência tem poder de criar agendas, logo, o governo deve definir quais os temas relevantes como eixo central, e se preparar com estudos para ser capaz de liderar as discussões e propor soluções para a ação coletiva.

De acordo com especialistas ouvidos pelo Correio, durante o encontro desta semana o Brasil deve assumir ao menos três bandeiras: cuidado com o meio ambiente, neutralidade em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia, e a agenda de investimentos em educação, saúde e, especialmente, no combate à extrema pobreza. O fortalecimento do multilateralismo, em meio a incertezas econômicas, o reforço de financiamento de bancos de desenvolvimento e vários outros temas ainda podem ser incluídos na agenda.

Harmonia com o BC

Esta será a primeira agenda de Haddad e Campos Neto juntos após almoço do Conselho Monetário Nacional (CMN), na semana passada, em que "selaram as pazes" na relação entre governo federal e Banco Central. Após a tensão provocada por discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a taxa básica de juros do país, o presidente diminuiu o tom das críticas em entrevistas recentes, mas a pressão para a redução da Selic deve continuar.

"É importante demonstrar harmonia entre a equipe econômica. Divergências dentro do governo podem ser bastante prejudiciais. O próprio ministro falou que essa crise não passava de ruídos, e que não havia com o que se preocupar. Então, acho que essa agenda consolida esse discurso", destacou o sócio-diretor da OpenInvest.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE