Mercado de Trabalho: Sob impacto do COVID-19, indicador sinaliza ritmo forte da taxa de desemprego

IMAGEM: FGV

 

Apesar dos últimos dados mostrarem que a taxa de desemprego está caindo no Brasil, ainda existe um longo caminho pela frente para que o mercado de trabalho comece a decolar no país. Para 2022, o cenário não é dos mais otimistas.

Especialistas ouvidos pelo 6 Minutos explicam que o emprego está diretamente ligado ao crescimento econômico: se o país não cresce, o mercado de trabalho sente os efeitos colaterais. De acordo com as projeções de economistas, é provável que, em 2022, a economia cresça muito pouco ou nada.

“As previsões do mercado financeiro pelo boletim Focus indicam que o crescimento econômico não deve ser maior do que 0,5% e algumas consultorias falam até em estagnação ou retração. Com isso, o que se espera é que o mercado de trabalho não tenha bons resultados e devemos fechar o ano próximo a 12%”, afirma Mauro Rochlin, economista e professor dos MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Os últimos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a taxa de desemprego estava em 11,6% no trimestre encerrado em novembro. No primeiro trimestre do ano, era de 14,9%.

“Vimos a diminuição no número de desalentados, um aumento da carga horária trabalhada, mas ainda estamos falando em recuperação. Para falar de algo além da recuperação, que contemple uma menor taxa de desemprego, precisamos de crescimento econômico”, afirma Rochlin

Juliana Inhasz, professora do Insper, diz que é muito difícil a taxa cair dos dois dígitos ainda neste ano. “Devemos ver uma redução na taxa de desemprego, mas vai ser lenta, não adianta esperarmos grandes saltos”, afirma Inhasz.

Com o passar do ano, a tendência é que a melhora fique ainda mais lenta à medida que houver um aumento no nível de incerteza. Como estamos em um ano eleitoral, a economia pode sentir os impactos da polaridade e segurar a recuperação econômica.

“Não sabemos como as coisas vão se ajustar daqui para a frente com a pandemia e não podemos esquecer que é um ano eleição. O investidor está tentando entender como vai ser o ano de 2023. Enquanto não temos os sinais claros, temos um capital em espera, que não entra para aquecer a economia”, afirma Inhasz.

Quando o mercado de trabalho vai se recuperar? Para Rochlin, podemos ver uma diminuição importante do desemprego quando o PIB (Produto Interno Bruto) crescer pelo menos 3% ou 4%, o que não deve acontecer no curto prazo.

O Brasil tem uma questão a respeito da qualidade da força de trabalho. “Nossa força de trabalho tem baixa escolaridade e isso é um desafio que vai além do crescimento econômico”, afirma Rochlin

Dentro de um cenário mais positivo, a perspectiva é de que o mercado de trabalho comece a se estabilizar em 2023 e siga nessa trajetória de dois a três anos. Mas tudo depende das políticas que serão feitas pelo próximo governo, segundo Inhasz.

Qualidade x quantidade

Mais do que aumentar a oferta de empregos no país, os especialistas dizem que é essencial melhorar a qualidade das vagas. “Sentimos um aumento de um nível de emprego com qualidade ruim. Sem carteira assinada, na informalidade, com pessoas subutilizadas, que não vão se alocar totalmente no mercado. Com menos seguridade e salários mais baixos”, explica Inhasz.

Para Inhasz, políticas econômicas voltadas ao trabalho são um dos passos para melhorar a oferta de empregos no país. “Precisamos de uma mudança estrutural. Passando pelas reformas, passando inclusive por repensar o mercado de trabalho. Uma reforma do mercado de trabalho, mais ampla, mais assertiva, criar maiores níveis de evidência. Dentro do contexto de hoje, são mudanças difíceis”, afirma Inhasz.

 

FONTE: 6 MINUTOS