Agência Brasil/EBC

 

Industriall-Brasil será lançada nesta terça (17) com o objetivo de discutir a indústria e o emprego no Brasil

As duas maiores centrais sindicais do Brasil, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a Força Sindical, se uniram para a fundação da associação Industriall-Brasil, entidade que pretende discutir os rumos do trabalhado na indústria do país.

A notícia foi antecipada pela coluna Painel.

“É a primeira vez que as duas centrais se juntam dentro de uma associação com estatuto, sede e diretoria. É um fato histórico, um cavalo de pau dentro do movimento sindical”, diz Aroaldo Oliveira, metalúrgico do ABC ligado à CUT, que será o primeiro presidente da Industriall-Brasil.

Antes vistas como rivais dentro do movimento sindical, a Força e a CUT se aproximaram no início do mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Desde então, elas organizaram juntas uma série de manifestações e eventos, como o 1º de Maio.

A Industriall-Brasil será lançada nesta terça-feira (17) e será financiada pelas federações e confederações filiadas. Segundo Oliveira, há até o momento 14 entidades filiadas.

 Juntas, elas representam 10 milhões de trabalhadores da indústria, afirma. O setor emprega 18 milhões de pessoas no Brasil em seis ramos: metalúrgico, químico, têxtil/vestuário, construção civil, alimentação e energia.
 

“Estamos abertos, queremos dialogar com outras centrais sindicais, e também com os sindicatos que não estão dentro de uma central e com os trabalhadores que não estão sindicalizados”, diz Oliveira.

Um dos primeiros atos da Industriall-Brasil será o lançamento de um grande estudo sobre a situação da indústria no Brasil e do mercado de trabalho.

“As empresas pararam de fornecer dados e o governo não cobrou. Temos um apagão dos números do que está acontecendo no Brasil. Os dados oficiais do governo são duvidosos”, critica Oliveira.

Segundo ele, a Industriall-Brasil terá parcerias com universidades e com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) para fazer o levantamento.

O nome da associação foi cedido pela Industriall Global Union, iniciativa sindical mundial fundada em 2012 e que negocia en nome dos trabalhadores com grandes empresas multinacionais. Na América do Sul, o escritório do Industriall Global fica no Uruguai.

“A Industriall-Brasil não tem o papel de representar os trabalhadores junto às empresas. Não tiramos o papel do sindicato. Juntamos as federações para discutir a indústria, para discutir a reindustrialização no Brasil”, afirma o presidente.

Oliveira diz que a entidade vai trabalhar para articular política industrial e pautas importantes para o setor. Segundo o dirigente, a pandemia do novo coronavírus mostrou os problemas da indústria no Brasil.

“Está faltando insumo básico para a produção industrial. Outro fator que ajuda a discutir é disparidade cambial, causada pela pandemia, que cria uma vantagem competitiva para o Brasil. Queremos cavar uma pauta de nacionalização da indústria.”

Os temas se assemelham aos defendidos pelos sindicatos patronais, mas ainda não existe nenhum tipo de conversa com as empresas e a Industriall-Brasil.

“Não sei se o termo certo é parceria, mas queremos fazer um trabalho muito próximo com sindicatos patronais e associações empresariais. Por mais que a gente tenha divergências, a convergência é o desenvolvimento do Brasil. Em grande parte o discurso é o mesmo, criar política industrial, produção nacional. Mas o que a gente avança é que nosso intuito é criar emprego de qualidade e geração de renda”, diz Oliveira.

Também não é a primeira vez que as entidades dos trabalhadores e de empresas tentam algo em conjunto.

Em 2011, a Força Sindical, a CUT, os dois maiores sindicatos de trabalhadores da indústria do país (metalúrgicos de São Paulo e de São Bernardo) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) anunciaram um seminário em conjunto: “Brasil do Diálogo, da Produção e do Emprego”.

A iniciativa resultou em um documento de propostas com o objetivo de impulsionar a indústria no país —muitas delas acabaram sendo implementadas pela então presidente, Dilma Rousseff (PT).

FONTE: FOLHA DE S.PAULO