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No país das rodovias, a navegação de cabotagem é tratada como um tema da contracultura. É assim que Cléber Cordeiro Lucas, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), classifica a discussão sobre o transporte marítimo no país. Ele lembra que quatro programas de navegação de cabotagem foram elaborados, mas "não passaram da fase de diagnóstico". Ainda assim, ela vem crescendo a taxas de dois dígitos. "Com a greve dos caminhoneiros, ficou evidente a importância do desenvolvimento desse modal", afirmou Cordeiro Lucas, durante o evento "E agora, Brasil?", realizado pelos jornais "O Globo" e Valor, em São Paulo.

O crescimento da cabotagem - a navegação que acontece na costa brasileira e liga portos nacionais - tem sido de 10% ao ano, na última década. Somente no primeiro semestre de 2018, essa expansão foi de 13%. Na renovação da frota, é investido, por ano, cerca de US$ 1 bilhão. Entre os pontos positivos desse modal, Cordeiro Lucas destaca o fato de a taxa de emissão de CO2 representar um décimo da das rodovias e um terço da das ferrovias. Além disso, em termos de energia, o modal é cinco vezes mais eficiente do que as rodovias e três vezes mais do que as ferrovias.

"Este momento é propício para esse tipo de reflexão. O Estado perdeu a capacidade de gerir seus negócios. Então, esta é uma oportunidade para ver onde é melhor alocar o capital", ressaltou o vice-presidente do Syndarma.

Atualmente, afirmou Cordeiro Lucas, todo o arroz que é produzido na região Sul do país chega às regiões Norte e Nordeste via navegação de cabotagem. A participação da cabotagem no transporte desse produto, segundo ele, chega a 80%. Para o vice-presidente do Syndarma, é preciso dotar as agências reguladoras "com capacidade intelectual e empreendedora" para entender as necessidades do mercado e adotar um padrão técnico de atuação.

"Hoje há uma situação sui generis, em que a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) tem competência para julgar e decidir de uma maneira, mas vem uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) que pede para rever aquela decisão. É uma instabilidade tremenda, e perdemos completamente as referências que se tem no mercado", afirmou Cordeiro Lucas.

Ele defende que o Brasil precisa de uma política pública para a cabotagem e o transporte marítimo: "A meu ver, este é o primeiro passo para começar a investir naquilo que pode dar um retorno positivo ao país".

Fonte: Valor