Santa Fé - Argentina, Mercosul

ISAC NÓBREGA/AGÊNCIA BRASIL/PR

O presidente Alberto Fernández fez reuniões com Lacalle Pou e Bolsonaro

A presidência pro tempore do Mercosul será transferida do Uruguai para a Argentina na próxima quarta-feira (16), quando, mais uma vez, por conta da pandemia do coronavírus, o encontro dos presidentes ocorre de modo virtual.

Espera-se um clima de cordialidade, uma vez que o presidente argentino, Alberto Fernández, vem cultivando relações dentro do bloco. No último dia 19 de novembro, cruzou o Rio da Prata para almoçar à beira d'água com seu par uruguaio, Luis Lacalle Pou, que preparou e serviu pessoalmente um "asado" (churrasco). E, no dia 30 de novembro, pela primeira vez, conversou cara a cara —ainda que pela internet— com o mandatário brasileiro, Jair Bolsonaro.

O relacionamento entre os dois coleciona uma série de fricções, desde que Bolsonaro fez campanha para o adversário de Fernández, o ex-presidente Mauricio Macri, nas eleições de 2019, passando por críticas mútuas e a demora do argentino em enviar ao Brasil um embaixador e colocar em marcha as relações entre os países.

 

Nos últimos meses, porém, houve muito diálogo do embaixador, Daniel Scioli, com empresários de diversos setores, assim como conversas entre ministérios.

Por outro lado, a Argentina continua sendo alvo de agressões da família Bolsonaro, especialmente do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) —o último ataque ocorreu por conta da aprovação do aborto na Câmara dos Deputados do país vizinho.

O chefe de gabinete de Fernández, Santiago Cafiero, disse à Folha que a conversa entre os dois mandatários "não pode ser desprezada". "O que o presidente Fernández disse foi que, independentemente dos presidentes que estejam a cargo de cada país, os povos têm de continuar trabalhando e cooperando. Essa é uma relação que sempre vai exceder o ideológico."

No mesmo tom, Scioli afirmou: "Sempre vamos colocar o foco no que há de positivo a ser discutido". O embaixador argentino se encontrou com Eduardo Bolsonaro, mas disse que os tuítes em que o filho do presidente ataca o governo argentino não foram assunto do jantar que tiveram em Brasília. "Falamos de coisas gerais, inclusive do fato de que nós dois acabamos de ser pais."

No formato online da reunião do Mercosul, cada presidente vai falar de maneira independente na parte pública do evento, que poderá será acompanhada por streaming, a partir das 10h desta quarta. As conversas entre os líderes acontecem em ambiente virtual reservado.

Quem abre a sessão é Lacalle Pou, como anfitrião do encontro. Segundo informações do governo uruguaio, o acordo com a União Europeia deve voltar a ser um dos principais assuntos, além da preocupação com a pandemia do coronavírus e as questões relacionadas ao trânsito nas fronteiras em tempos de restrições e medidas sanitárias.

Na reunião de ministros das Relações Exteriores, nesta terça-feira (15), que é preparatória para a de presidentes, o uruguaio Francisco Bustillo disse que, em visita recente a Bruxelas, onde se reuniu com representantes de países europeus, houve avanços com relação ao acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

O tratado vem sendo debatido há mais de 20 anos e sempre tropeça em questões conjunturais e discordâncias entre os países. Nos últimos tempos, a posição do Brasil em relação ao desmatamento na Amazônia tem sido um dos principais entraves.

"Conseguimos avanços significativos com relação aos problemas técnicos pendentes que vão permitir sua conclusão em um prazo muito curto", disse Bustillo.

O chanceler uruguaio defendeu que o Mercosul fosse mais flexível para que os Estados pudessem negociar com terceiros de forma mais rápida. "O Mercosul não pode ser um obstáculo. Esse debate é impostergável. Devemos poder negociar com terceiros juntos, em bloco, parcialmente em bloco, ou separados", afirmou.

Sobre a possibilidade de alianças fora do Mercosul, o ministro argentino, Felipe Solá, afirmou que "a integração regional é um projeto de longo prazo que inclui o interno e o externo. Pode-se olhar para a integração própria e ao mesmo tempo em que algumas economias requerem com mais urgência certos acordos externos".

Segundo o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, o Brasil considera prioridade rever a Tarifa Externa Comum do Mercosul. Para o ministro, a revisão favorecerá a inserção do Mercosul no comércio internacional e atrairá mais investimentos estrangeiros.

"Uma nova TEC trará a contribuição necessária para melhorar em muito a nossa inserção no comércio internacional, fortalecerá nossa segurança jurídica, atrairá investimentos e atenderá às expectativas do setor produtivo e de nossos consumidores."

FONTE: FOLHA DE S.PAULO