(crédito: Divulgação/Agência Brasil)
A crise provocada pela pandemia de covid-19 fez muitas firmas demitirem jovens aprendizes como forma de redução de custos. Muitos contratos que acabaram durante a pandemia, inclusive, não foram renovados, conforme estudo da Kairós Desenvolvimento Social, com base nos microdados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia. O levantamento detectou um saldo líquido negativo de 86.511 postos de trabalho entre abril e agosto.
O programa Jovem Aprendiz foi criado por meio da Lei nº 10.097, de dezembro de 2000 e tem como objetivo permitir aos joves de 14 a 24 anos ingressarem no mercado de trabalho. Pela regra, as empresas de médio e grande portes devem ter uma porcentagem entre 5% e 15% das vagas profissionais preenchidas por esse público. Aquele que é chamado para trabalhar conquista um contrato formal, com carteira assinada, contando tempo de contribuição para a Previdência Social e alguns benefícios, dependendo da empresa.
Inclusão
Na avaliação de Bonassa, o programa é um dos principais mecanismos de inclusão social e produtiva no Brasil. “O Jovem Aprendiz evita a evasão escolar e garante formação técnica e renda para os mais vulneráveis. A média salarial desse profissional, em São Paulo, é de R$ 640. Esse valor é superior ao do auxílio emergencial, por exemplo, e, portanto, é um bom mecanismo de inclusão social e de garantia de emprego”, destaca. Ele lamenta a falta de medidas específicas do governo voltadas para os aprendizes durante a crise.
Os dados compilados pela Kairós mostram que os jovens de até 24 anos não aprendizes conquistaram mais espaço do que os aprendizes, pois as empresas procuraram realizar contratos comuns, sem diretos a horários diferenciados ou prioridade aos jovens de baixa renda. O saldo de vagas desse segmento ficou positivo em 326.059, no acumulado de janeiro a agosto, após o pico de fechamento de 201.305 postos, em abril, para esses trabalhadores.
A experiência adquirida como jovem aprendiz abre portas e permite até mesmo escolher uma área de atuação que lhe agrade, como fez o estudante Lelis Kayronn de Morais Silva, de 18 anos. Ele começou a trabalhar aos 16 anos e, hoje, estuda Comunicação Social, com ênfase em Publicidade e Propaganda, na Universidade de Brasília (UnB). “Das minhas duas experiências, a segunda foi a melhor. Lá eu atuava no marketing e descobri que comunicação e publicidade era uma área que eu gostava muito”, detalha o jovem.
Kayronn, no entanto, faz parte dos 22 mil aprendizes demitidos em abril. O fato de ele ter entrado na UnB foi um dos argumentos para a demissão. Alegaram que haveria choque nos horários. Desde então, o estudante tem procurado emprego ou estágio, mas sem sucesso. Para garantir uma renda, tem feito trabalhos como freelancer de design.
Débora Dorneles Barem, professora do Departamento de Administração da UnB, destaca que a atual crise e o aumento nos cancelamentos de contratos de jovens aprendizes agravam a desigualdade, porque, muitos deles, como são de famílias carentes, ajudam no sustento de suas casas. “Você tira a oportunidade e também o suporte financeiro dessas famílias. Isso deixa os jovens descobertos, é cruel. Mas, a realidade tem sido cruel com jovens de forma geral. Pior com os jovens aprendizes, que são mais vulneráveis economicamente”, lamenta.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE