Em entrevista ao âncora Douglas Dinelly, da rádio CBN Amazônia, no último dia 10, o presidente do Sindmar e diretor da Conttmaf Carlos Müller falou sobre a importância da Marinha Mercante para a soberania e o desenvolvimento do Brasil.

Por telefone, o dirigente sindical iniciou explicando a importância do transporte marítimo na movimentação de combustíveis e outras cargas ao redor do globo, sendo responsável por 95% de todo o comércio mundial.

Ele lembrou que num momento de pandemia e sérias restrições, como o que atravessamos, navios e os portos não têm como parar. Em vez disso, seguem operando para que a sociedade continue funcionando com segurança, tendo garantidas as condições básicas de enfrentamento da situação.

Müller explicou para os ouvintes a diferença entre a navegação de longo curso e o transporte de cabotagem, aquele realizado entre dois pontos do território nacional. Demonstrou a preocupação do Sindmar com o fato de que, mesmo se configurando em solução óbvia para a logística nacional, o modal aquaviário seja atualmente responsável por apenas 16% do transporte interno de cargas no Brasil, enquanto o rodoviário detém 65% desse mercado.

O presidente do Sindmar lembrou que Brasil é um país com território continental e uma população que já supera os 210 milhões de habitantes. A atividade econômica em nosso país ocorre principalmente ao longo de uma extensa faixa costeira e em torno de rios navegáveis. É nessas regiões que estão concentradas as principais cidades brasileiras e também onde se encontram a maior parte da população, as indústrias, assim como as instalações de produção e refino de petróleo.

A cabotagem é o modal de transporte que oferece maior eficiência para um país com as características do Brasil. Ele apresenta amplas possibilidades de integração com outros tipos de transportes, menor sinistralidade (ocorrem menos acidentes) e o impacto ambiental também é menor que em outros tipos de transportes, de forma que nós defendemos que ele deva ser incentivado no Brasil.”

Covid-19

Ao ser questionado sobre as medidas concretas tomadas pelo Sindmar para proteger os marítimos da Covid-19, Müller respondeu que a doença é motivo de preocupação desde o final do ano passado, quando surgiu na China e deu demonstrações de ser uma situação bastante relevante e de grave impacto para a sociedade.

Ele explicou que, desde então, o Sindicato tem discutido com a Anvisa e as empresas brasileiras que atuam nesse setor, procurando motivá-las a adotarem medidas para impedir o contágio por Covid-19, considerando que os trabalhadores marítimos não têm a possibilidade de parar neste momento.

Müller contou que, inicialmente, foi feito contato com a única empresa brasileira que hoje faz linhas de longo curso, a Transpetro, subsidiária da Petrobras. Em dezembro, a empresa tinha navios fazendo viagens para a China e conseguiu-se um protocolo bastante efetivo para impedir, ou pelo menos evitar ao máximo, as chances de contágio. Isso aconteceu, de fato, e até a efetiva chegada da Covid-19 ao Brasil, entre fevereiro e março, não havia casos da doença entre marítimos brasileiros.

Já que esta é uma atividade que não para, tem que ser oferecida uma condição mais segura e mais confiável de testagem para os trabalhadores do setor. Então, o que nós motivamos as empresas a fazer é adotar um acompanhamento mais rígido durante o isolamento que tem que ser feito antes de os trabalhadores seguirem para bordo do navio. E que elas adotem, à custa das próprias empresas, a aplicação dos testes mais confiáveis, o que hoje representa a aplicação dos testes rápidos associados ao teste PCR.”

Depois de saudar os companheiros que, neste momento, seguem trabalhando a bordo, procurando garantir o abastecimento do país, Müller encerrou a entrevista registrando:

O Sindmar defende uma cabotagem brasileira que tenha valor estratégico para a economia brasileira, atenta aos interesses nacionais, e que o transporte marítimo seja realizado essencialmente por embarcações de bandeira brasileira, tripuladas por marítimos brasileiros. É isso que garante que num momento de dificuldade, ou quando a conjuntura internacional ficar mais “esquisita”, o Brasil tenha condições de manter os seus cidadãos abastecidos de mercadorias.”