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Como se sabe, os veículos de comunicação, no Brasil, são parte de grandes grupos empresariais, cujos proprietários ou acionistas possuem negócios em quase todos os setores da atividade econômica, alguns dos quais regulados pelo governo. Embora sejam muito mais confiáveis e responsáveis que as redes sociais, também podem moldar ou recortar o noticiário para melhor atender a seus anseios e interesses empresariais, comerciais ou ideológicos.

Antônio Augusto de Queiroz*

Os meios de comunicação — jornal, revista, rádio, TV, blogs ou redes sociais via internet — cumprem um papel fundamental na democracia, de um lado, porque fiscalizam os agentes públicos e privados e, de outro, porque fazem a mediação entre sociedade e governo, além de promoverem o entretenimento. O ideal é que esse serviço de utilidade pública seja prestado com isenção e equilíbrio.

Entretanto, por escassez de tempo ou para tornar a notícia mais atraente, quase sempre os veículos de comunicação tratam apenas de uma parte do problema ou fazem um recorte que favoreça o ponto de vista ou interesse do redator, do repórter, do editor, da direção ou do proprietário do veículo de comunicação.

Nessa perspectiva, não existe imprensa ou veículo absolutamente imparcial. Em regras, os temas são mostrados sob determinada ótica, até porque ela é quem escolhe as fontes que deseja ouvir.

A cobertura da mídia, de um modo geral, prioriza a crítica, a notícia negativa ou a polêmica. Entre veicular uma notícia positiva que não empolgue ou denunciar um escândalo, a segunda opção será priorizada.

A imprensa, muitas vezes a serviço do establishment (classe dominante), influencia na divulgação da realidade e dos fatos ao selecionar suas fontes oficiais e institucionais e, principalmente, o modo de abordagem dos fatos que considera relevantes.

Ao promover o recorte que lhes interessa, os meios de comunicação participam da construção da realidade e, muitas vezes, fazem com que a sociedade acolha como suas as prioridades da imprensa.

A mídia, segundo o historiador estadunidense Bernard Cohen [1], influencia a estruturação do pensamento e, muitas vezes, organiza os fatos de um modo tal que, em lugar de ensinar as pessoas a refletirem, conduzem-nas sobre o que pensar.

Como as pessoas agem pelo que leem ou escutam, principalmente nas rádios e televisões (e mais recentemente na internet e nas redes sociais), a notícia deixa de mostrar o que realmente deveria ser para se tornar o que a fonte declara que acontece ou vai acontecer.

O mundo político é recortado da realidade pelos jornalistas. Portanto, ao ler ou escutar o noticiário, especialmente quando se trata de escândalo ou da espetacularização da notícia, todo cuidado é pouco.

Se em tempos normais, a imprensa corporativa e comercial seleciona a parte mais importante do fato e gera a polêmica, que alimenta o noticiário, em período eleitoral o risco de que isto aconteça é muito maior. E na internet e nas redes sociais o cuidado deve ser redobrado porque nelas é comum a publicação de notícias falsas ou não checadas.

Na opinião de Malena Rehbein Rodrigues, no livro “Imprensa e Congresso ou Como a mídia pauta a política” [2], a mídia exerce uma ação política porque é a publicizadora, a construtora da realidade e a indutora da memória coletiva, atingindo ou invadindo o imaginário popular.

Registra-se, finalmente, que os veículos de comunicação, antes de qualquer coisa, são empresas e como tal buscam formas de maximizar os seus ganhos. Como diz o filósofo Roberto Romano, em Fim da Política do Estado e da cidadania?, de 2014, “A mídia, quando se acumplicia aos interesses financeiros globais, administra campanha de terror contra os povos e dirigentes que não obedecem aos ditames de empresas”.

Como se sabe, os veículos de comunicação, no Brasil, são parte de grandes grupos empresariais, cujos proprietários ou acionistas possuem negócios em quase todos os setores da atividade econômica, alguns dos quais regulados pelo governo. Embora sejam muito mais confiáveis e responsáveis que as redes sociais, também podem moldar ou recortar o noticiário para melhor atender a seus anseios e interesses empresariais, comerciais ou ideológicos.

Por isso, todo cuidado é pouco, tanto de parte dos candidatos quanto dos eleitores, na leitura do noticiário, recheado de notícias falsas ou não checadas, que são veiculadas, além das redes sociais, nos veículos da imprensa comercial.

Este texto é parte integrante da Cartilha, de nossa autoria, que trata das “Eleições Gerais 2018: orientação a candidatos e Eleitores”.

(*) Jornalista, consultor, analista político e diretor de Documentação do Diap