Entre os problemas que o atual governo transmitirá, com ou sem solenidade, ao presidente que se eleger em outubro próximo, o desafio do desemprego tem tudo para figurar entre os primeiros, não apenas pelo fato de absorver sensíveis dificuldades, mas também graças a um detalhe que instiga. Por começo, parte-se de um fato concreto: com variações razoavelmente administradas, certo é que a produção industrial soma ponto positivos nos últimos meses, e a atividade comercial, se não tanto, tem conseguido evitar maiores recuos, valendo-se, principalmente, de comemorações ocasionais.
O que, então, faz com que a população desempregada se mantenha em altos índices? Por que a absorção da mão de obra não consegue responder, satisfatoriamente, aos estímulos da economia? Os trabalhadores colocados à margem continuam alimentando estatísticas que oscilam entre 13 e 14 milhões. A situação não podia estar em números tão preocupantes.
Como na gestão Temer já não sobra tempo suficiente para avançar em avaliações mais profundas, na tentativa de descobrir o que atravanca esse mal social, é certo que ficará como herança ao próximo governo identificar os pontos de dificuldade, e atacá-los logo. Terá quatro anos, mas o que se fizer precisa andar ligeiro, porque não é fácil. É muito perigoso, conviver com tão grande desocupação involuntária. Não se pode abafar a realidade: milhares de casas enfrentam o dissabor da fome; já nem mais lutam para viver, mas para não morrer.
No estudo da questão do desemprego, não será suficiente esperar que o aumento das vendas e das exportações da indústria e o comércio respondam automaticamente, porque, em boa parte, milhares de brasileiros deixam de conseguir acesso ao mercado de trabalho, não por culpa de dificuldades econômicas, mas principalmente por lhes faltar suficiente qualificação capaz de corresponder a uma produção cada vez mais exigente. A baixa capacidade de adaptação é motivo de inibição para a empregabilidade. Coisa que os ministros da área preferem relegar.
Visto, portanto, que o governo prestes a começar, independentemente de quem estiver à sua frente, terá de pensar, no dia seguinte à posse, um programa de preparação do trabalhador. Com desejável rapidez, encaminhar a mão de obra excluída aos cursos de formação e aperfeiçoamento, sem que governantes e opositores possam lamentar falta de estrutura para absorve os trabalhadores. Porque nem todos sabem, mas o Brasil dispõe de recursos modelares para cumprir essa missão. Hoje, qualifica-se profissionalmente até pela internet. O que cabe fazer é encaminhar as legiões de desempregados, que desconhecem a existência de tais veículos de preparação para melhores oportunidades de trabalho.
Contribuirá para justificar o apelo ao presidente e a quem se confiar o Ministério do Trabalho um outro ângulo do problema, quase sempre omitido, por revelar situação não menos desconfortável: trata-se dos que sobrevivem com trabalho temporário, constituindo a grande população flutuante, só eventualmente ocupada. Na maioria das vezes, tal como a mão de obra terceirizada, a Previdência também é chamada a juntar-se na produção de outros sacrifícios de natureza social, como descanso, férias e horas extras.
Longe de se praticar exagero está quem hoje disser, com meses de antecedência, que o sucessor do presidente Temer terá de conferir tratamento prioritário ao trabalho, a ser conduzido por gente identificada com a gravidade dos problemas que ampliam as multidões de desempregados. O ministro e sua equipe, seja dito, devem conhecer a área, e, com engenho e disposição, encarar os desafios. Não mais como tem sido: uma pasta tratada como sinecura de segunda categoria para sindicatos, federações e seus ditadores.
FONTE:JORNAL DO BRASIL