IMAGEM: Guilherme Almeida / AFP / CP
A tragédia do mercado de trabalho, por Luis Nassif
No governo Temer foi criada a Carteira Verde e Amarela. Trata-se de uma forma de disfarçar o bico, o emprego precário
Uma das maiores manipulações estatísticas recentes foi a mudança de metodologia do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). No governo Temer foi criada a Carteira Verde e Amarela. Trata-se de uma forma de disfarçar o bico, o emprego precário.
O que define uma relação de emprego são os direitos embutidos no contrato:
- contribuição ao INSS;
- garantia de emprego;
- penalização da empresa em caso de demissão imotivada;
- descanso semanal;
- 13o salário e férias.
Nada disso é oferecido pela Carteira Verde Amarela. É um emprego absolutamente precário, mas com menção na carteira.
Como houve mudança da metodologia, cada comparação dos dados atuais com os dados anteriores às mudanças mostra um falso índice de aumento.
Daí o fato de que apenas a PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio), do IBGE, traz um retrato geral do emprego.
Vamos comparar dois momentos.
O primeiro, os dados do trimestre abril-junho de 2021 em relação a março-abril 2021 (os dados são sempre consolidados em três meses).
A Força de Trabalho (pessoas em idade de trabalho) aumentou 733 mil pessoas.
Já a população ocupada aumentou 1,08 milhão de pessoas.
Portanto, o aumento real – a diferença entre a população ocupada e o aumento da força de trabalho – corresponde apenas à diferença entre os dois números.
Em um universo de 102 milhões de pessoas – tamanho da FT – esse aumento é insignificante.
Vejamos o emprego no tempo, comparando com 60 meses atrás, período em que se iniciou a flexibilização da legislação trabalhista.
No período, a População Economicamente Ativa aumentou em 11,7 milhões de pessoas. Para manter os mesmos índices, a população ocupada deveria aumentar na mesma quantidade.
No entanto, a FT aumentou em apenas 33 milhões de pessoas e a população ocupada diminuiu 2,6 milhões de pessoas.
Já a população subocupada aumentou 9,7 milhões e a desocupada aumentou 2,9 milhões.
A população fora da Força de Trabalho aumentou 11,3 milhões.
Confira o gráfico que compara a evolução da População Economicamente Ativa com a da Força de Trabalho ocupada para se ter uma ideia da tragédia do emprego no país.
Já o gráfico Contribuintes e Força de Trabalho mostra a falência do financiamento da Previdência, com a queda gradativa da proporção de contribuintes em relação a Força de Trabalho.
Vamos a algumas conclusões rápidas sobre os dados de desemprego divulgados há pouco pelo IBGE.
Aqui, um quadro resumo:
- A Força de Trabalho é de 102 milhões de pessoas. No trimestre abril-junho de 2021 houve aumento de 733 mil em relação a mar-mai, irrisórios 0,72%.
- Dos 14,4 milhões de desocupados, houve redução de 351 mil.
- Dos 74,9 milhões fora da força de trabalho, houve redução de 889 mil, 1,17%.
E, na sequência, os dados vistos da ponte:
- Na segunda tabela, a trajetória da População Economicamente Ativa e a Força de Trabalho Ocupada, partindo da base 100 em 2016.
- A relação contribuinte do INSS x força de trabalho, mostrando os efeitos das mudanças trabalhistas que irão inviabilizar definitivamente o modelo de financiamento da Previdência.
FONTE: GGN/LUIS NASSIF