IMAGEM: Rodrigo Nardelli/G1
Navio Srakane está atracado no Porto de Santos com trabalhadores da Geórgia, Ucrânia e Montenegro. Dos 15 tripulantes, nove já passaram por testes que deram negativo para a Covid-19.
Tripulantes de um navio atracado em situação de abandono no Porto de Santos, no litoral de São Paulo, começaram a desembarcar nesta sexta-feira (30) para aguardarem passagens e serem repatriados. O G1 entrevistou o capitão da embarcação, Eduarg Goguadze, que falou sobre os meses de abandono e a falta de contato com o dono do navio.
“Eles não respondem aos nossos contatos e nos abandonaram. Por seis meses, não conseguimos sustentar nossas famílias. Meu pai estava muito doente, e minha mãe estava doente quando comecei essa viagem para o Brasil. Eles precisavam de ajuda, mas o dono esqueceu que temos que ajudar pai e mãe, e eu perdi meu pai e minha mãe”, disse Gouhudze.
O capitão assumiu o comando no navio em janeiro deste ano, e explica que a audiência sobre o caso está marcada apenas para setembro. Devido à demora, os tripulantes não querem aguardar a bordo, e precisam retornar às suas famílias. Para Goguadze, a questão dos salários foi a mais preocupante, já que os trabalhadores auxiliam os parentes. É o caso de Genadi Choff, tripulante que está com medo de perder a mãe, que está doente. Ele reitera que essa experiência foi a mais difícil em mais de 30 anos de profissão.
O navio Srakane, de bandeira do Panamá, está atracado na Margem Esquerda do Porto de Santos com trabalhadores da Geórgia, Ucrânia e Montenegro. Dos 15 tripulantes, nove já passaram por testes que deram negativo para a Covid-19, quatro da Geórgia e cinco da Ucrânia.
Eles desembarcaram no começo da tarde desta sexta-feira e vão aguardar em um hotel em Santos as passagens aéreas para serem repatriados, o que deve acontecer ainda neste sábado (31), já que o teste é válido por 72 horas. O capitão e os demais tripulantes não fizeram o teste porque devem permanecer no Porto de Santos pelo menos até a próxima segunda-feira (2), quando esperam um desfecho para a situação do navio.
Apenas em julho eles receberam o equivalente a quatro meses de salário, por meio de indenização paga pela seguradora. Isso aconteceu depois que auditores fiscais do Trabalho entraram em contato com a armadora responsável pela embarcação e, sem sucesso, acionaram a Autoridade Marítima do Panamá.
Fiscalização
O Governo Federal foi acionado pela Capitania dos Portos em abril de 2021, depois da fiscalização de órgãos estaduais e federais que promoviam uma operação para coibir crimes no mar. De acordo com o auditor fiscal do Trabalho Rodrigo Aoki Fuziy, os tripulantes do navio estavam vivendo com pouca comida e água potável, e ainda com baixo volume de combustível, o que colocava em risco a segurança no canal do Porto.
O navio também estava com o sistema de esgoto saturado. Ao ajuizar a ação, o procurador Rodrigo Lestrade Pedroso afirmou que o órgão buscava pela integridade dos tripulantes.
"O Ministério Público do Trabalho busca, mediante a presente ação civil pública, provimentos inibitórios para a preservação da vida, da saúde e da integridade psicofísica dos trabalhadores marítimos, bem como a preservação de um meio ambiente de trabalho seguro, sadio e hígido", disse o procurador.
Em junho, decisão da 1ª Vara do Trabalho de Guarujá ordenou que os tripulantes fossem repatriados, devido à situação de abandono do navio, e que as três empresas do setor de transporte marítimo desembarcassem os empregados, que estavam com contratos vencidos.
FONTE: G1/SANTOS E REGIÃO