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A especialista em envelhecimento Karen Glaser, americana que vive na Inglaterra, é professora de Gerontologia e Diretora do Centro de Envelhecimento Global e do Instituto de Gerontologia do King´s College de Londres. Ela verificou em um estudo que trabalhar para além da idade mínima estabelecida para aposentadoria é para poucos. A maior parte dos idosos que se mantêm empregados são os que têm maior escolaridade e, consequentemente, melhores condições financeiras e de saúde. Isso acendeu, na Inglaterra, uma alerta sobre um possível aumento da desigualdade de renda entre esse grupo.
Na Inglaterra, assim como pode ocorrer no Brasil, a idade mínima para aposentadoria foi estendida...
- Até recentemente a mulher podia se retirar do mercado de trabalho aos 60 e os homens aos 65 anos. Com a reforma, foi estabelecida a idade de 67 anos para ambos os sexos. Através de um estudo, verificamos que quem continua trabalhando depois de se aposentar são as pessoas que têm maior nível de educação e chegam à velhice com mais saúde. É automático pensar que esse grupo trabalharia por necessidade financeira, mas na realidade, consegue emprego na terceira idade quem tem maior capacidade para o trabalho.
Que tipos de empregos existem para os idosos na Inglaterra?
- Muitas vezes são em nível mais alto, postos mais qualificados. Não são ocupações manuais. Não há trabalho para todos. Por isso, há muitas discussões sobre a criação de legislação que combata a discriminação contra a idade, principalmente contra idosos com nível de instrução mais baixo. Na Inglaterra, 70% dos idosos estariam na pobreza não fosse a pensão paga pelo governo. Então, essa pensão faz muita diferença entre ficar pobre e ter um certo nível econômico.
Qual é o impacto para a saúde de quem trabalha depois da idade da aposentadoria?
- Essas pessoas com nível mais alto de educação não têm impacto negativo sobre a saúde, porque geralmente são pessoas com melhores condições de vida e de saúde. O problema é que pode aumentar a desigualdade porque justamente os que tinham um salário maior durante a vida ativa vão continuar tendo oportunidade de trabalhar, enquanto os de classes sociais mais baixas terão dificuldades de conseguir emprego. O que verificamos é que a saúde durante o curso da vida é mais importante para determinar quem vai conseguir continuar trabalhando ou não quando tiver idade mais avançada.
Parece haver uma grande desigualdade entre esse grupo..
- Isso é uma preocupação e há um grande debate sobre haver ou não idades diferenciadas de aposentadorias para as diferentes classe sociais porque na Inglaterra há diferença muito grande entre o nível socioeconômico mais baixo e o mais alto com relação a expectativa de vida. O que leva alguns especialistas a avaliar que não é justo que uma pessoa com expectativa de vida mais baixa tenha de trabalhar até a mesma idade de quem deve ter mais anos de vida, e que geralmente tem nível socioeconômico mais alto.
Na sua opinião deve haver essa distinção?
É muito difícil para mim responder porque sei que os governos terão muita dificuldade de criar essas idades diferentes. As definições de classes sociais são muito conflitantes. A saída seria empregar políticas públicas que durante todo o curso da vida melhorassem o nível de saúde e permitisse que todos chegassem em condições de trabalhar na terceira idade. Talvez para quem tem saúde mais debilitada, trabalhar para além dessas idades seria penalizar ainda mais essa saúde.

 

Fonte: O Globo