A diretoria da Conttmaf participou da audiência pública realizada pela Frente Parlamentar de Acompanhamento do Polo GasLub em Defesa dos Empregos dos Setores do Petróleo e Gás e da Indústria Naval na manhã desta segunda-feira (11), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), para cobrar da Petrobras compromisso com o resgate da atividade no estado.

A estatal vem sendo duramente criticada por parlamentares, empresas e dirigentes sindicais laborais por sua política de afretamentos exagerados de navios estrangeiros – o que acaba inviabilizando o desenvolvimento da indústria local e impedindo a geração de empregos para metalúrgicos, marítimos e petroleiros.

Em seu pronunciamento, o diretor da Conttmaf e segundo-presidente do Sindmar, José Válido, chamou a atenção dos participantes do evento para os números do setor no que diz respeito ao tamanho da frota de navios disponíveis no Brasil para o transporte de petróleo, gás e derivados.

Ao fazer uma comparação entre a antiga Fronape (Frota Nacional de Petroleiros), que chegou a ter 78 navios, e a Transpetro, sua sucessora, hoje com apenas 26 embarcações, o dirigente sindical apresentou números preocupantes.

Das 26, somente 11 são destinadas a transportar estes produtos. As demais fazem longo curso. Para se ter uma ideia, na cabotagem, mesmo embarcações de empresas registradas em outros países – as quais levam contêineres com cargas secas – chegam a transportar, em média, 90% da mercadoria em bandeira brasileira.

“Já quando nós vamos para o setor de petróleo e gás, somente 4% é transportado em bandeira nacional. Os outros 96% são levados por navios estrangeiros. Adivinha quem é que toma conta desse negócio? A Petrobras”, criticou José Válido.

A deputada estadual e presidente da Frente Parlamentar, Verônica Lima, afirmou que a postura da Petrobras impacta, negativamente, a economia do Brasil e do Rio. Ela destacou, no discurso de abertura do evento, a necessidade de se ter um governo comprometido com o desenvolvimento de um setor tão importante para o País.

“Com a vitória do presidente Lula, há a possibilidade de retomar esse caminho, que é um caminho muito importante para a nossa economia”, afirmou, ressaltando a relevância do trabalho desenvolvido em colaboração com a Frente Parlamentar nacional, presidida pelo deputado federal Alexandre Lindenmeyer, para o estado, que é o berço da indústria naval brasileira.

Já a deputada federal e vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval brasileira na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali, afirmou que o governo precisa ter uma posição única em relação à recuperação do setor.

Ela fez um alerta sobre o fato de autoridades públicas terem pouca compreensão a respeito da importância e do peso da construção naval para a economia do País. Na ocasião, Jandira repercutiu uma entrevista recente em que o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que acumula a função de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, disse que o governo não construiria navios.

“No dia seguinte, nós tivemos uma audiência com o vice-presidente Alckmin e tivemos a oportunidade de dizer a ele a importância do setor e a abrangência que ele tem, o peso que ele tem, na indústria brasileira. Cobramos, inclusive, dele, a presença dessa industrialização no Plano Nova Indústria, e demos a ele um conjunto de propostas”, ressaltou a deputada.

Um dos convidados a compor a mesa de debates, o diretor de Transporte Marítimo da Transpetro, Jones Soares, declarou que a empresa entende que investimentos no setor contribuem para a geração de emprego e renda, assim como governos de outros países, como a China, compreendem que a indústria naval é fundamental para a soberania de suas nações.

“Ela tem uma indústria naval como política de estado. Uma indústria naval perene, que cria centenas de milhares de empregos naquele país, que consegue captar e fazer com que pesquisa e desenvolvimento sejam aplicados para um negócio que gera muito emprego e muita renda. Hoje, a China tem diversos estaleiros no mundo inteiro”, observou.

O diretor elogiou, ainda, os benefícios da Jones Act, lei de proteção à cabotagem dos Estados Unidos que exige a participação de tripulação nacional nas embarcações e navios construídos por empresas americanas.

Diferentemente da Transpetro, a Petrobras, sua mantenedora, não se mostra alinhada ao discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que já manifestou, em diversas ocasiões, a intenção de voltar a construir navios, como fez em seu primeiro mandato, quando criou, em 2004, o Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef).

Na próxima sexta-feira (15), às 10h, a Conttmaf, juntamente com as suas federações e sindicatos associados, fará uma manifestação em defesa da indústria naval do Brasil e contra a política de afretamentos da Petrobras.

O ato será realizado em frente ao Edisen (Edifício Senado – Av. Henrique Valadares 28 – Centro do Rio de Janeiro). Participarão do protesto entidades representativas de trabalhadores metalúrgicos, marítimos e petroleiros.