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A euforia que o setor de navegação vivenciou nos meses que antecederam a Copa do Mundo não será mantida após o campeonato mais aguardado do ano pelos brasileiros. A expectativa do segmento é de que o País sofrerá uma “grande ressaca” no próximo semestre. A desvalorização do Real e as incertezas do processo eleitoral são alguns dos fatores que levarão à redução das trocas comerciais a partir do mês que vem. Mesmo assim, o balanço do ano deve ser positivo. 

Os dados fazem parte de um levantamento realizado pela Maersk Line, líder mundial no transporte marítimo de contêineres. Segundo a armadora, o comércio exterior brasileiro registrou um período vigoroso às vésperas da Copa do Mundo de 2018, com as importações saltando 19% no primeiro trimestre. 

Não foram apenas os eletrônicos que impulsionaram a alta das importações de janeiro a março. Camisas de futebol, tênis, bolas e outras recordações da Copa do Mundo também tiveram um salto na demanda durante o período. Operações com têxtil e couro subiram 22% nesses três meses e de vestuário e lazer, 30%.

Já as exportações aumentaram 6% no mesmo período, contribuindo para um crescimento de 12% no total de importações e exportações de contêineres no início do ano. 

“Os varejistas estão trabalhando duro para aproveitar ao máximo a Copa do Mundo, o crédito está barato, mas os brasileiros ainda não têm muito o que comemorar, já que há mais de 12 milhões de desempregados e outros 6,5 milhões trabalhando menos de 40 horas por semana”, avalia o diretor da Maersk Line para a Costa Leste da América do Sul, Antonio Dominguez.

Segundo a armadora, os embarques de produtos secos e refrigerados cresceram 6% no primeiro trimestre, apesar da proibição russa às importações brasileiras de carne bovina e suína ter prejudicado os volumes de carga refrigerada para a Europa. Houve queda de 16% contra um salto de 27% nas exportações para o Extremo Oriente.

Quanto às exportações secas, a expectativa para os produtores de algodão é de uma safra recorde no final deste ano, após um salto de 128% nos volumes no primeiro trimestre.

Segundo o levantamento da Maersk Line, em maio, as importações desaceleraram pela primeira vez no ano. Como consequência, os navios estão subocupados, um cenário bem diferente do verificado nos últimos 12 meses, quando estavam completamente carregados. 

Atualmente, estima-se que a taxa de ocupação esteja abaixo dos 90%. Para completar, o transporte marítimo em todo o mundo ainda vem sendo prejudicado pelo aumento do valor do óleo bunker.

“Tivemos um começo de ano muito positivo, mas a festa provavelmente não deve durar. Os navios estão subocupados e prevemos um segundo semestre mais difícil”, destacou o diretor. 

Ano

Apesar deste primeiro semestre atípico, a Maersk espera um balanço anual positivo do comércio marítimo de contêineres. A expectativa é de uma alta de 3,4% no ano, com as importações em torno de 4,6% e as exportações, de 1,3%.

Embora a taxa de importação prevista ainda seja alta em relação ao ano anterior, está longe dos volumes recordes registrados em 2014, antes da forte queda registrada nas importações em 2016.

Os economistas brasileiros estimam para baixo as previsões do PIB de 2018, de 3%, em abril, para 2,7%, em maio, devido às preocupações de que a economia não esteja se recuperando tão rapidamente quanto se esperava e ao enfraquecimento do real, o que afetará o consumo interno.

“O atual crescimento das importações é insustentável a essas taxas. O consumo vai sentir o aperto com o Real cada vez mais desvalorizado. A moeda local já ultrapassou a marca de R$ 3,70 por dólar, e isso está bem longe dos níveis de R$ 3,25, R$ 3,30 que as empresas haviam orçado para 2018, por exemplo”, acrescenta Dominguez.

Fonte: A Tribuna