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Em recuperação judicial, empresa faz proposta que deixa R$ 16 bi em débitos com bancos

Dois anos depois de entrar em recuperação judicial, a Sete Brasil apresentou ontem (terça-feira) na Justiça carioca um novo plano que prevê a venda de quatro sondas de exploração de petróleo por US$ 550 milhões. Se o plano for aprovado pelos credores, a empresa venderá todos os ativos que lhe sobraram e praticamente deixará de existir liquidando apenas 10% da dívida de R$ 18 bilhões que deixou com grandes bancos e investidores. A expectativa é de que a Sete se torne uma empresa para gerenciar passivos.

A potencial venda das sondas também afeta os estaleiros Jurong e Brasfels, que estão produzindo os navios. O comprador terá que negociar com eles valores para o término da construção.

Criada no auge dos investimentos do setor naval do país e da bonança do pré-sal, a Sete tinha como missão gerenciar a compra e a operação de 28 sondas para exploração de petróleo para a Petrobras. Entre seus sócios tinha a própria Petrobras, com uma participação minoritária e o fundo de investimentos FIP Sondas, que reunia investidores como os bancos BTG Pactual e Santander, o fundo FI-FGTS e fundos de pensão da Petrobras, Caixa, Banco do Brasil e Vale. Juntos, os sócios aplicaram mais de R$ 8 bilhões na empresa. Dinheiro já reconhecido como perda total no FIP Sondas.

A derrocada financeira da Sete começou ainda na fase inicial da Lava Jato, no final do ano de 2015. As primeiras denúncias de executivos da Sete, que também eram da Petrobras -- no envolvimento de pagamento de propinas a estaleiros brasileiros que construiriam as sondas -- levou o BNDES a vetar o empréstimo de longo prazo que permitiria manter a máquina da Sete funcionando. Junto com essa decisão do BNDES, veio a crise do petróleo no mercado internacional que praticamente eliminou as chances de financiamentos alternativos. As sondas da Sete foram contratadas quando o petróleo atingiu US$ 110 o barril. Quando pediu recuperação judicial, já em 2016, era pouco mais de US$ 30.

O preço do petróleo também afetou a própria disposição da Petrobras em manter os contratos. Das 28 sondas do projeto original, com contratos firmados com a Petrobras, apenas 4 deles foram mantidos pela estatal. A decisão foi publicada em março deste ano, em fato relevante. A petrolífera deu sinais de que garantiria contratos de dez anos para quatro sondas, sob a condição de sair da sociedade da Sete Brasil. Durante mais de um ano, houve uma negociação intensa com a Petrobras que entendia que não tinha obrigação de manter os contratos já que os prazos para entrega das sondas não foram mantidos.

O novo plano de recuperação da Sete, apresentado pelo escritório de Sergio Bermudes, prevê justamente a venda dessas sondas, que terão contratos garantidos, para tentar antecipar o pagamento aos credores. Se a empresa optasse por  manter o gerenciamento das sondas, os credores teriam que ser pagos no prazo de dez anos e mesmo assim em valores bem reduzidos em relação ao total que emprestaram.

De acordo com laudo de avaliação realizado pela Meden Consultoria, a expectativa é de que a venda das sondas renda cerca de US$ 550 milhões à empresa, ou cerca de R$ 1,8 bilhão levando em conta a cotação de R$ 3,32 pela qual foi tomada como referência. Os credores precisam aprovar a decisão de vender e depois a companhia precisa encontrar compradores. A depender de quando fechar o negócio, poder em reais, potencializar a venda.  Com o contrato garantido pela Petrobras, fica mais fácil de atrair interessados.

Os recursos obtidos serão divididos igualmente entre os credores. Os principais bancos credores são Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Santander e Bradesco. De acordo com o novo plano apresentado, a empresa manterá em caixa cerca de R$ 120 milhões do que for obtido com a venda das sondas para usar no gerenciamento do passivo da companhia.

A Sete tem diversas ações judiciais em curso, inclusive algumas que pedem a devolução do dinheiro de executivos que foram acusados e condenados por recebimento de propina. Além disso, a Sete tem um passivo com os estaleiros, principalmente aqueles pertencentes a empreiteiras brasileiras, que começaram a produzir as sondas e não receberam parcelas estabelecidas em contrato. Boa parte dos estaleiros acabou fechando ou reduzindo as atividades em função do calote da Sete. Somente os estrangeiros continuaram a produção e são essas sondas que serão agora vendidas.

FONTE:FOLHA DE S.PAULO