IMAGEM: Carl de Souza / AFP
No dia 28 de março, a Agência Petrobras publicou em seu site uma notícia intitulada “Petrobras apresenta demanda de contratações e oportunidades para a indústria nacional”.
Considerando a atual política de afretamentos sem limites vigente na companhia, o anúncio da contratação de 200 embarcações entre 2024 e 2028 parece, à primeira vista, sinalizar um passo significativo na direção da esperada recuperação da construção naval, com o fortalecimento da Marinha Mercante nacional – objetivo traçado pelo terceiro governo Lula ainda no período de transição.
Porém, basta um olhar mais atento para identificar que a imensa maioria dessas duas centenas de navios não representa novos negócios e, sim, mera renovação de contratos já existentes que estão por vencer no período. E isso não irá gerar aumento efetivo da atividade das indústrias naval e marítima do Brasil.
A nota informa que “haverá oportunidades de construção de até 38 novas embarcações, para atendimento de novas demandas e parte para renovar a frota com unidades mais modernas e mais sustentáveis”, mas sem mencionar qualquer medida que assegure que os navios serão realmente construídos e registrados no Brasil. Os mais otimistas dizem que a conta não chega a uma dúzia de barcos de apoio.
Seria brincadeira de primeiro de abril? Ora, se existisse realmente alguma intenção de se produzir duas centenas de embarcações no País, a essa altura os estaleiros estrangeiros certamente já estariam competindo para adquirir os que operam no Brasil ou então tentando associar-se a eles.
A verdade nua e crua é que, depois dos planos de construção naval que existiram quase uma década atrás, Promef e Prorefam, que tiveram grande êxito, não houve (e até aqui não há) qualquer plano efetivo de renovação ou ampliação da frota por parte da diretoria da Petrobras. Tampouco se vislumbra a possibilidade de isso vir a ocorrer com o Plano Estratégico aprovado pela companhia.
É lamentável que a maior empresa do Brasil – por meio da qual os trabalhadores brasileiros esperam ver o desenvolvimento da indústria nacional e a geração de empregos para os nossos nacionais serem impulsionados – lance mão do artifício de distorcer palavras para tentar fazer parecer verdade algo que sua diretoria não tem a menor intenção de defender.
A Petrobras segue navegando em rumos equivocados, privilegiando o afretamento de dezenas de navios estrangeiros na nossa cabotagem, prática que não gera empregos em estaleiros brasileiros e nem emprega um número significativo de marítimos nacionais.
Enquanto continuar a prevalecer a visão dos atuais diretores da área de engenharia da companhia, não haverá um programa efetivo da Petrobras para construção de petroleiros no Brasil. E ao nosso povo restará o infortúnio de ficar a ver navios… de outras bandeiras. Esta, infelizmente, é a mais pura verdade.
Carlos Augusto Müller
Presidente do Sindmar e da Conttmaf