Estudo do Dieese calcula que o décimo terceiro vai injetar R$ 200,5 bilhões na economia no final do ano, o valor é 4,7% maior que o volume de 2016, e está 1,4 ponto percentual acima da inflação
O pagamento do 13º salário neste final de 2017 será insuficiente para o trabalhador quitar suas dívidas mais caras e sobrará poucos recursos para o consumo e as contas adicionais (como os impostos regionais e gastos com educação) do início de 2018.
Segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), serão injetados R$ 200,5 bilhões na economia, volume 4,7% maior que os R$ 191,4 bilhões registrados em 2016, e 1,4 ponto percentual acima da inflação estimada para o ano. Por outro lado, as pessoas físicas - de acordo com o último boletim divulgado pelo Banco Central (BC) relativo a setembro - deviam R$ 184,78 bilhões no cartão de crédito; R$ 103,3 bilhões em crédito pessoal não consignado em folha; R$ 23,9 bilhões no cheque especial; e R$ 30,59 bilhões em dívidas renegociadas; modalidades com custos mais elevados em juros.
Um levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que 85% das pessoas pensam em utilizar o décimo terceiro para pagar parte ou quitar suas dívidas em 2017, 4 pontos percentuais acima da intenção de pagamento manifestada no ano passado.
"Isto demonstra que a redução da atividade econômica, desemprego maior, taxas de juros elevadas aumentaram o endividamento dos consumidores", identificou o diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira.
Na avaliação do coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero, a disposição do brasileiro em pagar suas dívidas será positiva para a dinâmica do crédito no próximo ano. "Já houve uma discreta retomada do crédito para bens de consumo duráveis, móveis e automóveis neste segundo semestre, por causa do aumento da renda real num momento de inflação muito baixa", argumentou.
Porém, Balistiero alerta para uma perspectiva ruim para o início de 2018. "Se começa o novo ano com um problema, como as famílias estão reduzindo dívidas, não sobrará muitos recursos para gastos como IPTU, IPVA, matrículas e material escolar", avisa.
De fato, a pesquisa da Anefac aponta uma redução no percentual de trabalhadores, de 6% para 4%, que irá guardar recursos para pagar os impostos estaduais (IPVA), municipais (IPTU) e as despesas com educação do início de ano. "O que reduz o volume de recursos que sobram para aplicações financeiras", diz Oliveira.
A realidade mais dura também é refletida na intenção de consumo no período de festas natalinas e do Ano Novo. O percentual de trabalhadores que pretende utilizar parte dos recursos para compras de presentes também caiu de 6% em 2016 para 5% em 2017. "Demonstra maiores dificuldades e preocupações dos consumidores com os gastos neste ano", disse o diretor da Anefac.
No aspecto positivo, Balistiero, do IMT, avalia que o pagamento do décimo terceiro vai auxiliar no processo de recuperação da economia. "O desemprego ainda é muito alto. Houve um pequeno aumento da ocupação informal, mas os investidores estão de olho nas eleições [de 2018], cujo resultado é incerto. O emprego formal vai demorar a recuperar", diz o coordenador.
Preferência pela caderneta
Quanto a intenção de aplicar parte do 13º salário, de 2% até 7% dos trabalhadores brasileiros devem poupar os recursos para o curto prazo. "A caderneta é o caminho mais rápido", aponta Balistiero.
O especialista em investimentos do Banco Ourinvest e sócio-fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil, também sugere aplicações seguras como o título público Tesouro Selic e certificados de depósito bancário (CDBs). "Evite fundos DI com taxas de administração superiores a 0,5% ao ano, que podem ter um rendimento líquido igual ou pior que a poupança após a cobrança de impostos e taxas", recomendou.
Na mesma linha, o analista chefe da Rico Investimentos, Roberto Indech, citou o Tesouro Selic, CDBs com liquidez diária; e fundos moderados no caso de aportes acima de R$ 1 mil. "A partir de R$ 3 mil, temos fundos com taxas de administração de 0,4% ao ano."
Fonte: DCI