IMAGEM: iGUi ecologia

 

A Covid-19 chegou a seu primeiro ano não só intensamente monitorada e debatida pela Federação da Indústria do Rio Grande do Norte (Fiern), como desde o ano passado soluções têm sido encaminhadas contra as deletérias consequências econômicas da pandemia.

Um instrumento valioso nessa luta, entre tantas outras estratégias, são as Salas de Situação instaladas no âmbito do Programa Mais RN. Com isso, energias renováveis, petróleo e gás, turismo e construção civil acabam de ganhar a companhia da chamada “economia do mar”, representada pelas importantíssimas atividades da aquicultura e da pesca.

Trata-se de mais um de tantos outros setores que precisarão do apoio não só do governo estadual, mas como de toda a sociedade, pela importância sócio-econômica que representa para milhares de potiguares que integram a cadeia produtiva.

“É um dos segmentos mais estratégicos do RN”, avalia Pedro Albuquerque, assessor técnico da Fiern, onde trabalha no Departamento de Pesquisa e Economia.

“Especialmente por nossa condição geográfica, a pesca do atum e a carcinicultura terão protagonismo na retomada da economia”, acrescenta. Hoje, o Rio Grande do Norte emprega a soma do que o Ceará, Pernambuco e Paraíba absorvem no setor. E, ao longo dos anos, bateu recordes de exportação, com uma pequena queda em 2019, mas com recuperação em 2020 tanto em toneladas exportadas quanto pelos valores faturados em dólar.

“É um setor, portanto, que já apresenta recuperação de 2019 para cá, emprega muito, utiliza muita tecnologia porque os navios e barcos que saem para a pesca oceânica demandam isso, o que mobiliza uma cadeia produtiva seja de manutenção, de combustível e a própria cadeia de alimentos”, sustenta o especialista.

Dentro desse contexto, as Salas de Situação têm sido fundamentais e suas sessões virtuais não só mobilizam vários segmentos empresariais, como o próprio governo estadual, cujas políticas públicas interagem com esse tema. Para o coordenador do Mais RN, José Bezerra Marinho, tudo isso resume a tarefa essencial do programa, que é de construir a retomada gradual da economia na pós-pandemia.

“Contribuímos com o Governo do Estado e recebemos a contribuição das demais federações e em 2021, a despeito das incertezas geradas pela pandemia, manteremos todas as atividades econômicas no radar nas salas de situação, buscando solucionar gargalos e propor saídas”, acrescenta Bezerra.

“E, no caso da economia do mar, com o valioso trabalho de Gabriel Calzavada, que é uma autoridade nacional sobre o assunto, como também um líder empresarial, com uma historia importante no setor”.

O que a economia do mar pode gerar: viveiros em mar aberto, incremento ao turismo ligado a todos os ecossistemas marinhos, além de incremento à logística de manutenção e reequipamento dos barcos oceânicos e pesqueiros daqui até o continente africano. “Por isso, a economia do mar é uma guinada grande com todas as suas possibilidades integradas a partir do nosso litoral”, resume Marinho.

Entrevista com Gabriel Calzavara, presidente do Sindicato da Indústria da Pesca

AGORA RN – Qual o tamanho dos danos da pandemia para a pesca oceânica?

GABRIEL CALZAVARA – O nosso setor, assim como os demais, aqui e no mundo, passa para uma situação de muita dificuldade. Trabalhamos com alimentos direcionados para o mercado de peixe fresco também consumido cru e isto exige uma logística de distribuição muito rápida pela condição de alta perecibilidade do produto. Some-se a isto o fato de 70% do nosso produto – e, portanto, do nosso faturamento – se destinar ao mercado internacional, o que exige muita agilidade e rapidez. Então, essa crise sanitária impactou diretamente na demanda e nos acessos aos mercados pelo principal modal utilizado pelo setor, que é o aéreo.

AGORA RN – O senhor está se referindo aqui ao apagão aéreo de 2020 com a pandemia?

GABRIEL – Com a pandemia, os restaurantes fecharam e os acessos aos principais mercados – os EUA, por exemplo, Miami, Nova Iorque, Boston, Califórnia – tiveram severas restrições de voos especialmente do Brasil. Só para se ter uma ideia, dos 24 voos semanais da Latam para Miami, hoje só existem cinco ou seis. Dos sete voos semanais para Nova Iorque antes da pandemia, hoje restaram três. Além disso, as conexões desses voos representam um risco muito elevado em função de atrasos que acontecem frequentemente.

AGORA RN – O senhor poderia nos dar uma ideia dos reflexos dos custos do setor com a pandemia?

GABRIEL – Por exemplo, o aumento vertiginoso do preço do frete. Em julho de 2020, se pagava US$ 1,10 pelo quilo do frete e agora em fevereiro de 2021 esse valor mais que dobrou, passando para US$ 2,25. Esses aumentos também se deram na questão do óleo diesel, um dos insumos mais importantes – justamente com a isca, que também é importada – para o produtor. Em março de 2020, nós pagávamos R$ 2,93 pelo litro do diesel e agora R$ 4,09. E essa é uma situação que realmente impacta muito a nossa atividade pela queda de demanda e aumento exorbitante dos custos operacionais de distribuição, mesmo com o preço do dólar mais favorável ao produtor. Diga-se, um ganho relativo, já que todo o nosso material de pesca – repetindo – é importado, impactando diretamente o câmbio.

AGORA RN – O que o setor tem feito para mitigar essa crise histórica?

GABRIEL – O que nós temos feito é buscar solução a partir da união do setor e na articulação com alguns atores, como a Federação da Indústria, que tem sido fundamental para que a gente possa buscar soluções e alternativas. Esse novo modelo da Sala de Situação que foi implementado dentro do Mais RN por meio da Fiern nos tem possibilitado negociar com importantes agentes financeiros de desenvolvimento, como o Banco do Nordeste e o Banco do Brasil, linhas de Crédito mais acessíveis e adequadas para que possamos recompor parte do nosso capital de giro e ter um pouco de fôlego para avançar.

AGORA RN – Qual é a situação atual da frota pesqueira potiguar?

GABRIEL – Neste momento, metade da frota pesqueira do Estado está parada, refletindo a situação global da pandemia. No início da crise sanitária, nós tínhamos em torno de 40 a 50 embarcações pescando atum e hoje esse número não passa de 18 a 20, porque as empresas foram obrigadas a demitir e reduzir suas tripulações. Uma mão de obra qualificada que exige muito treinamento e, portanto, investimento das empresas.

AGORA RN – Qual é a sua maior preocupação neste momento como empresário?

GABRIEL – São várias, mas o que mais me preocupa neste momento é a falta de vacinas e e essa guerra inconsequente entre Governo Federal e os estados. É muito irracional o que acontece. Mas temos que seguir em frente.

FONTE: AGORARN