Rio contempla importantes biomas — Foto: Marcelo Souza/ TVCA

IMAGEM:  Marcelo Souza/ TVCA

Após enfrentar dois anos de estiagem severa, com a paralisação do transporte hidroviário, a navegação comercial deve ser estendida por todo o ano e reduzir a sobrecarga nas rodovias

Após dois anos de estiagem severa, a navegação comercial volta a ter um período menos crítico. Com a incidência de chuvas mais regulares, a navegabilidade no Rio Paraguai não deve ser paralisada, como nos anos anteriores. Em Porto Murtinho, a expectativa é de que a hidrovia siga operando pelos próximos meses. 

Conforme a sala de situação do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), a régua do que mede o nível da água no leito do rio permanece em um patamar bem superior às medições dos anos anteriores.

No dia 21 de outubro de 2020, ela media 30 cm negativos na régua de Ladário e -93 cm na de Porto Esperança, situação que prejudica o escoamento de mercadorias pela via aquática.

No entanto, esse não foi o auge da seca, na mesma data do ano seguinte, a régua apresentava -55 cm e -108 cm, respectivamente. O Imasul informou que os níveis estão positivos. Segundo dados oficiais, diferentemente dos anos anteriores, ambos os pontos apresentam medições positivas. Na régua de Ladário, o nível se encontrava em 71 cm no dia 21 de outubro; na régua de Porto Esperança, a marcação apontava 15 cm.

Já em Porto Murtinho, o nível do Rio Paraguai saiu de 97 cm, em 2020, para 77 cm, no ano passado, e 203 cm nessa sexta-feira.

Empresário de exportação que conversou com o Correio do Estado afirmou que não parou em boa parte da estação de seca em 2022 na região de Porto Murtinho. 

De acordo com o gerente de operação do terminal FV cereais, Genivaldo dos Santos, a navegabilidade do Rio Paraguai está muito melhor neste período em relação ao ano passado.

“Este ano, o rio está muito melhor, há uma recuperação do nível do rio. Na semana passada [quinta-feira, 13], eu fiz uma medição, e ele está 1,10 m acima da mesma data do ano passado”, revela.

EXPECTATIVAS

Com relação às exportações, o gerente comenta que este ano a operacionalização no Rio Paraguai foi a melhor desde o início dos trabalhos no terminal de Porto Murtinho.

“Parei [de escoar soja] no fim de julho, porque se encerraram os contratos de compra. Agora, estamos operando com açúcar, com probabilidade de trabalhar até a segunda quinzena de novembro. Então, há uma clara recuperação do sistema exportação”.

Segundo ele, este é o terceiro ano de operação do terminal que passou por uma das secas mais acentuadas da história do Pantanal e de Mato Grosso do Sul.

“Operamos em 2020 com deficit. Em 2021, houve o período mais crítico da seca, no qual a marinha interrompeu a navegação por alguns meses. Este ano, é o que estamos operando com maior tempo, por conta do rio, que está com um bom nível”. 

Baseado em modelo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Valesca Fernandes, coordenadora do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima do Estado de Mato Grosso do Sul (Cemtec), analisa que o mês mais chuvoso deve ser o atual para a região de Porto Murtinho.

“Segundo o modelo, no mês de outubro, as chuvas devem ficar acima da média climatológica. Já os meses de novembro e dezembro indicam que as chuvas devem ficar abaixo da média histórica”.

Conforme o relatório de prognóstico de climático para a primavera do Cemtec/Semagro, as médias na região do Pantanal devem variar entre 300 a 400 mm. Já nas regiões oeste (Porto Murtinho, Aquidauana) e leste/sudeste (Anaurilândia, Mundo Novo e Três Lagoas), as chuvas variam entre 400 a 500 mm.

Para Genivaldo dos Santos, a expectativa agora é com a entrada dos períodos de chuvas, que deve aumentar ainda mais o nível do rio.

“A partir de agora, devo parar de descer, porque até a segunda quinzena de novembro se encerram os demais contratos de açúcar. Como em Mato Grosso chove muito e em Mato Grosso do Sul também, a tendência é de começar a subir. Se subir ainda mais, eu trabalharei até dezembro, janeiro e recomeço o ciclo em fevereiro, e emendaria uma safra na outra”, finaliza.

No início deste mês, o Estado recebeu 3 mil toneladas de fertilizantes pelo porto da FV Cereais. A carga saiu dos portos uruguaios e chegou para um produtor rural de Mato Grosso do Sul.

Essa é a primeira operação de importação de fertilizante agrícola pelo terminal em Porto Murtinho.

Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, disse que o governo do Estado tem priorizado o desenvolvimento dos eixos logísticos.

“Ainda este ano o governo do Estado vai fazer a venda do terminal portuário público. O objetivo sempre foi de criar um corredor de exportação de grãos, como também de importação. Essa foi a primeira operação, ainda com volume baixo, mas tende a se potencializar, sobretudo com o início das operações pela Rota Bioceânica”, detalhou Verruck.

Já o secretário de Desenvolvimento Econômico e Sustentável de Corumbá, Cássio Augusto da Costa Marques, apontou que as condições de navegação do Rio Paraguai em Ladário não são tão boas e que na região pode haver paralisação se o nível não se elevar com as chuvas intensas registradas em outubro.

Gráfico mostra a variação do nível do rio Paraguai em três localidades diferentes

OTIMIZAÇÃO

Este ano, a estatal Empresa de Planejamento e Logística (EPL) apresentou um relatório para a adequação logística de Mato Grosso do Sul. O escoamento das principais commodities passa pela atualização e fortalecimento dos modais de transporte do Estado. 

Segundo os técnicos da EPL, as hidrovias têm o meio mais barato porque se utilizam de recursos naturais já estabelecidos, como os leitos dos rios para transporte de mercadorias.

Este também acaba sendo o principal ponto negativo do modal, pois tem menor capacidade de expansão, por causa do fluxo limitado de barcaças que podem transportar grãos e minérios.

Verruck explica que de Porto Esperança até o terminal Porto Murtinho o espaço é dividido com a Bolívia. Já de Porto Murtinho até Corumbá existem três pontos críticos que necessitam de dragagem para a melhora do fluxo e para permitir que as embarcações façam manobras.

“Mesmo em funcionamento normal, as barcaças têm de ser desconectadas para que se façam curvas. Então, você imagina um setor de barcaça e o tempo que ele leva para desconectar, passa a barcaça e aí retorna”.

Conforme o secretário, os recursos para essa intervenção já foram aprovados pelo governador Reinaldo Azambuja e devem superar os R$ 47 milhões. 

FONTE: CORREIO DO ESTADO