IMAGEM: SAULO CRUZ/JORNAL GRANDE BAHIA
Escalada de preços praticados pela ex-estatal localizada na Bahia derruba argumento de que privatizações aumentam a concorrência e beneficiam os consumidores
A privatizada Refinaria Mataripe, em São Francisco do Conde (BA), tem os combustíveis mais caros do país. A antiga Landulpho Alves (Rlam), vendida ao capital privado pelo governo Bolsonaro, é administrada pela Acelen desde 1º de dezembro do ano passado. A gasolina vendida pela Mataripe custa atualmente 27,4% a mais, na comparação com os preços praticados pela Petrobras. No chamado diesel S-10, a diferença é ainda maior, e chega a 28,2%. A checagem foi feita pelo Observatório Social da Petrobras (OSP) e publicada nesta quarta-feira (9) pelo jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com a reportagem, a Acelen já aumentou cinco vezes os preços dos combustíveis somente neste ano. O reajuste mais recente ocorreu no sábado (5). A empresa pertence ao fundo de investimento Mudabala Capital, com sede nos Emirados Árabes .
A escalada de preços na Mataripe derruba o argumento de que as privatizações aumentariam a concorrência no setor de refino, fazendo cair os preços aos consumidores. Isso porque, em função da distribuição geográfica das refinarias, elas não concorrem entre si. Pelo contrário, acabam tendo um mercado regional cativo, exercendo praticamente um monopólio na região.
Agenda privatista
Para o economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), Eric Gil Dantas, diante do exemplo da privatizada refinaria Mataripe, a sociedade brasileira deve decidir se pretende seguir com tal “agenda privatista”.
Desde o governo golpista de Michel Temer, a intenção é privatizar oito das 13 refinarias da Petrobras. O governo Bolsonaro manteve o mesmo plano. Mas, até agora, somente as venda da Rlam e da Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus, saíram do papel.
Dantas ressaltou que a guerra na Ucrânia contribui para a elevação dos preços dos combustíveis. Mas disse que, com a privatização, o encarecimento da gasolina e do diesel na Bahia já é “estrutural”. “Se o processo de privatização do parque de refino da Petrobras continuar, isso que está acontecendo na Bahia se ampliará para o restante do Brasil”, disse ele à repórter Denise Luna.
Desabastecimento
Desde o início das operações privadas, Mataripe também parou de abastecer navios que passam pelo Porto de Salvador. A refinaria produz óleo combustível próprio para grandes embarcações, mas a empresa decidiu exportar a produção. Assim, navios que percorrem a Baía de Todos os Santos precisam agora abastecer em outros portos.
De acordo com o Sindicato das Agências de Navegação do Estado da Bahia (Sindinave), cerca de 220 embarcações passam pelo Porto de Salvador por mês. Dessas, cerca de 40 aproveitavam a parada ali para abastecer.
FONTE: REDE BRASIL ATUAL