Investir em campanha publicitária foi a empreitada do governo para tentar aprovar a reforma nas regras da aposentaria
A INTENSA EMPREITADA do governo Temer para aprovar a reforma da Previdência nadou, nadou e morreu na praia. Mas, antes, deixou mais gordos os cofres do maior conglomerado de mídia do país. Dados conseguidos pela agência Livre.jor com a Secretaria de Comunicação da Presidência, via Lei de Acesso à Informação, revelam que o Grupo Globo faturou R$ 38,6 milhões para propagandear a necessidade de mudanças nas regras de aposentadoria dos brasileiros. O valor equivale a pouco mais de um terço de tudo o que foi gasto com a campanha publicitária: R$ 110 milhões.
Clique aqui para ver a relação completa de pagamentos.
A maior parte do valor recebido pelas empresas da família Marinho foi para a Globo Comunicação e Participações, que agrega a Rede Globo, os canais Globosat, o portal Globo.com, a Editora Globo, a Som Livre e o site de imóveis Zap. Foram R$ 36 milhões. O restante foi dividido entre rádios, Infoglobo – responsável pelos jornais O Globo, Extra e Expresso – e Valor.
A propaganda pela reforma se arrastou na mídia de dezembro de 2016 a fevereiro deste ano. Agora, após o foco ter se voltado para a intervenção na Segurança Pública do Rio, os R$ 110 milhões foram praticamente jogados fora, já que estão congeladas mudanças na Constituição, como é o caso da proposta apresentada pelo governo. Uma agenda econômica requentada substituiu a batalha pelas modificações no sistema de aposentadoria.
Quem quer dinheiro?
Depois do Grupo Globo, o topo da lista da propaganda da reforma segue com a Record (R$ 12,1 milhões) e o SBT (R$ 9,8 milhões). Em janeiro, quando o governo ainda tentava um último fôlego para colocar o tema em votação no Congresso, Temer chegou a ir no programa de Sílvio Santos, de quem ganhou um nota de 50 reais no palco.
A campanha pela reforma também repassou recursos para o Facebook. Quarta na lista dos que mais receberam verbas publicitárias na empreitada fracassada de Temer, a empresa de Mark Zuckerberg faturou R$ 3,6 milhões, que vitaminaram a exibição de postagens e anúncios na rede social. É quase o dobro do que recebeu a Bandeirantes, quinta na lista, que ficou com R$ 1,9 milhão.
Outros veículos que se alinharam editorialmente com a proposta, como o jornal O Estado de S. Paulo ou a rádio paulistana Jovem Pan – onde o presidente emedebista costuma ser recebido para entrevistas laudatórias – ficaram com R$ 1,06 milhão e R$ 883 mil, respectivamente.
Quase o mesmo dinheiro entregue aos veículos de mídia da Igreja Sara Nossa Terra (TV Gênesis e rádio Rede Sara Brasil), que pertencem ao ex-deputado federal Robson Rodovalho. Elas receberam pagamentos que somam R$ 862 mil por espaço publicitário para a reforma. Foi num culto na Sara Nossa Terra, em Brasília, que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, falou a fiéis em defesa das mudanças na Previdência.
Até tu, Doria?
A lista de agraciados com as verbas publicitárias da reforma é bastante extensa. Ao todo, são 1.300 nomes. Se for somada a produção dos materiais, há outras 50 empresas que foram contempladas. Até a Doria Editora, que pertence ao grupo ligado ao empresário e prefeito de São Paulo João Doria, levou seu quinhão: R$ 136 mil.
Além do Facebook, outras duas grandes redes sociais, o Twitter e o Linkedin, receberam respectivamente R$ 848 mil e R$ 145 mil. Bem mais que o gasto com anúncios em portais tradicionais, como e Yahoo! (R$ 169 mil) e Terra (R$ 74 mil). O governo também apelou para conteúdos específicos para Smart TV, como os oferecidos pela Smartclip. Essa conta ficou em R$ 234 mil.
Ao todo, a campanha para tornar palatável a defunta reforma da Previdência teve quatro fases de produção. Ora reforçando a linguagem mais formal, ora mudando ares nos vídeos, adicionando personagens, simulando cenas reais.
Das quatro fases, a segunda foi a que mais consumiu dinheiro (R$ 70 milhões para produção e veiculação de peças), entre fevereiro e junho de 2017, após o governo Temer receber os resultados de uma pesquisa realizada pela Mood Pesquisas, que avaliou que as peças veiculadas até então foram consideradas por entrevistados como “genéricas demais, imprecisas, superficiais e para alguns até mesmo mentirosas”.
Fonte: The Intercept Brasil