IMAGEM: (REUTERS /Ueslei Marcelino)
A disseminação de notícias sobre medidas potencialmente impopulares acendeu alerta no governo
Cabo eleitoral atuante do presidente Jair Bolsonaro (PL) antes do primeiro turno das eleições, o ministro da Economia, Paulo Guedes, passou a adotar postura defensiva nos últimos dias após se tornar alvo central de críticas de opositores à campanha bolsonarista na reta final do processo eleitoral.
A disseminação de notícias sobre medidas potencialmente impopulares que surgiram do Ministério da Economia, com o vazamento de estudos feitos internamente na pasta, também acendeu alerta de aliados do presidente.
Nome forte da campanha de Bolsonaro em 2018, quando recebeu a chancela de "posto Ipiranga" e uma suposta carta branca para comandar a política econômica do país, Guedes já recebeu do presidente a sinalização de que poderá continuar no cargo em um eventual segundo mandato.
Nos últimos meses, mesmo não atuando ativamente do núcleo da campanha, o ministro vinha participando de uma série de eventos para exaltar a melhora de indicadores econômicos, como a redução do desemprego, o crescimento da atividade e o recuo da inflação.
A postura mudou nos últimos dias, com Guedes usando os eventos para se defender, negar repetidamente a adoção de medidas impopulares e disparar acusações contra a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus apoiadores.
Para mitigar os efeitos negativos das notícias recentes, a campanha de Bolsonaro divulgou nesta quinta-feira sete vídeos com Guedes, nos quais ele destaca dados da economia, promete manter o Auxílio Brasil turbinado e responde a perguntas sobre as supostas medidas em estudo, afirmando se tratar de mentiras.
Segundo uma fonte da campanha de Bolsonaro, a ofensiva com a gravação dos vídeos foi planejada porque as informações que circularam no entorno de Guedes nos últimos dias desgastaram o presidente. Para ela, o ministro “entrou do lado certo da campanha agora”.
A avaliação da equipe, segundo esse integrante, que pediu anonimato, é que a economia será um dos principais temas do debate decisivo na TV Globo na noite desta sexta-feira entre Bolsonaro e Lula, podendo ajudar na tentativa de virada do candidato à reeleição.
Na semana passada, reportagem da Folha de S.Paulo afirmou que Guedes estudava desindexar o Orçamento, o que desobrigaria o governo a corrigir o salário mínimo e benefícios previdenciários pela inflação.
Já nesta semana, reportagem do jornal O Estado de S. Paulo apontou que a equipe de Guedes defendeu por escrito o fim das deduções de gastos com saúde e educação do Imposto de Renda, o que impactaria a classe média com maior força.
O terceiro episódio a virar munição de opositores foi a disseminação em redes sociais de declaração feita por Guedes em 2020 na qual ele sugeriu que o governo poderia tributar transações feitas por meio do Pix.
O ministro vem negando as três informações e chegou a dizer que petistas dentro da pasta estariam produzindo estudos e vazando para a imprensa como se fossem propostas de autoria do governo.
“Estou tendo que reagir publicamente às mentiras. Mentem o tempo inteiro”, disse nesta quinta-feira em São Paulo. “Fake news, gente que roubou o Brasil, agora querendo roubar o futuro e a esperança de pessoas idosas que estão tranquilas em casa, isso é um roubo de voto.”
Guedes, que já defendeu abertamente mudanças constitucionais para desindexar o Orçamento, tem argumentado que a medida permitiria reajustes acima da inflação. No entanto, não é necessário alterar a Constituição para que o governo dê esses aumentos reais.
O ministro e sua equipe também defenderam internamente, ao longo do governo, a recriação de um imposto sobre transações financeiras para substituir encargos trabalhistas –medida que foi travada por resistência do Palácio do Planalto. O fim das deduções do IR também já foi estudado pela equipe de Guedes, mas acabou descartado.
Nesta quinta-feira, o ministro desmentiu pessoalmente à Reuters Fact Check Brasil, divisão de checagem de fatos da Reuters, o boato de que o governo pretende taxar transações feitas via Pix.
Procurado para comentar especificamente a mudança de postura de Guedes, o Ministério da Economia não respondeu de imediato.
FONTE: REUTERS