O Departamento Cultural do Abrigo do Marinheiro (DCAMN), em parceria com a Marinha do Brasil, e o Departamento do Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/RJ) anunciaram nesta segunda-feira o Concurso de Projeto de Arquitetura para o Museu Marítimo do Brasil.
O museu será construído no Espaço Cultural da Marinha, localizado na área central do Rio, próximo à Praça XV. O concurso, em nível de Estudo Preliminar, é destinado a arquitetos e urbanistas habilitados para o exercício da profissão, sendo exigida a formação de equipes multidisciplinares para a submissão das propostas. As inscrições estarão abertas a partir de quinta-feira (10) e vão até o dia 23 de julho, em um portal exclusivo a ser divulgado pelo IAB/RJ.
A criação do Museu Marítimo do Brasil vai estimular o conhecimento sobre a história marítima que está intrinsecamente ligada à formação do país, sendo este um dos seus conceitos definidores e tendo a brasilidade como objeto fundamental para diferenciá-lo de outros museus marítimos ao redor do mundo. Outra finalidade conceitual diz respeito ao mar e aos rios como instâncias culturais, simbólicas e míticas, na convergência de uma sociedade marítima brasileira que carrega diversas origens. A localização do museu, na orla do Rio, enfatiza aspectos relevantes da formação da vocação marítima nacional.
O espaço fará parte de um complexo de museus e centros culturais existentes no Centro do Rio, como o Museu Histórico Nacional, o Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu do Amanhã, o Centro Cultural do Banco do Brasil e a Casa França-Brasil. Por meio do Concurso de Projeto, pretende-se obter uma proposta arquitetônica inovadora, que afirme a excelência da arquitetura contemporânea brasileira e agregue valor tanto à instituição quanto ao entorno urbano onde ela estará inserida. Além do museu propriamente dito, haverá, também, um auditório, um restaurante e uma cafeteria, disponíveis para visitantes e para a população em geral.
Para o arquiteto Luiz Fernando Janot, coordenador geral do concurso lançado pelo DCAMN e pelo IAB/RJ, a oportunidade para arquitetos de todo o Brasil submeterem seus projetos está associada ao marco simbólico desse museu:
Ao abrirmos a possibilidade de termos centenas de arquitetos pensando no tema, com um júri de alta competência para avaliar as ideias, estamos valorizando não apenas um museu com um significado importante, mas também um local de importância histórica para a cidade. Estamos ansiosos para ver como os participantes vão atuar diante das diretrizes do concurso. Certamente, será um espaço de qualidade, que pode se tornar mais uma obra paradigmática na cidade do Rio de Janeiro.
O RIO DE JANEIRO DE VOLTA PARA O MAR
Não por acaso, o Museu Marítimo do Brasil será construído na Orla Central do Rio, que passou recentemente por um processo de revitalização, após a demolição do Elevado da Perimetral e a criação de uma alameda beirando as águas da Baía de Guanabara. Um dos objetivos do DCAMN e do IAB/RJ é inserir o museu no novo ciclo de desenvolvimento arquitetônico e cultural da cidade.
O espaço está localizado entre a Praça XV e a Praça Mauá, onde existiu, no século XIX, a Doca da Alfândega. O píer do Espaço Cultural da Marinha, sobre o qual o Museu Marítimo será erguido, passou por restaurações estruturais entre 2017 e 2020. A edificação atual, inaugurada em 1996, funcionou como museu por cerca de duas décadas, tendo sido desfigurada internamente devido às obras de recuperação do píer. O local está pronto para receber um novo prédio, que atenda às exigências de um museu no século XXI.
– O Rio de Janeiro terá uma nova joia, com o Museu Marítimo do Brasil vindo a complementar o corredor cultural existente no centro da cidade. E, evidentemente, o mar é a figura mais importante do seu entorno, de modo que uma das exigências é que, a partir do prédio do museu, você tenha uma plataforma para olhar o mar. Vamos nos voltar para o mar novamente, desenvolver a consciência marítima que caracteriza a nossa história – enfatiza o Vice-Almirante José Carlos Mathias, que está à frente da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM).
No ano do centenário do Instituto de Arquitetos do Brasil, o IAB/RJ pretende, por meio de mais um dos seus concursos, estimular a reflexão sobre qual deve ser a cidade do futuro, especialmente numa área com tantas transformações, como explica o arquiteto Igor de Vetyemy, copresidente do IAB/RJ:
– A relação da cidade com a sua frente marítima fala muito sobre a própria sociedade, e precisamos reatar esse laço. Os arquitetos que inscreverem seus projetos têm uma tarefa delicada, porque precisam considerar a integração entre o ambiente construído, a natureza e o museu a compor este cenário. A construção vai impactar tanto quem estiver dentro do próprio prédio quanto aqueles que estiverem no seu entorno. Esse museu será um estímulo para o encontro e para a contemplação da cultura marítima brasileira.
FERRAMENTA PARA ESCOLHA DE PROJETO
Em 2017, a Marinha do Brasil, em parceria com o DCAMN e por meio de patrocínio privado e direto, tornou público o desejo de criar o Museu Marítimo do Brasil. Foi apresentado à sociedade um projeto conceitual elaborado pelos arquitetos Bernardo e Paulo Jacobsen, a fim de dar materialidade à ideia de museu há muito desejado pela comunidade marítima carioca e nacional.
– Hoje, o projeto está sendo desenvolvido por meio de patrocínios viabilizados pela Lei de Apoio à Cultura do Governo Federal, sendo o proponente o Departamento Cultural do Abrigo do Marinheiro (DCAMN). Está incluso agora a formulação de um concurso nacional organizado pelo IAB/RJ, a fim de cumprir os propósitos de um estudo preliminar e com financiamento por meio da lei de incentivo fiscal. Além de trazer visibilidade e transparência à sociedade civil, é possível buscar mais patrocinadores para as próximas fases do projeto – comenta o Vice-Almirante Mathias.
Um importante estímulo à realização deste concurso foi a experiência bem-sucedida entre a Marinha do Brasil e o IAB-RJ no Concurso Estação Antártica Comandante Ferraz, em 2013, que contou com 74 trabalhos entregues. O projeto de arquitetura do escritório Estúdio 41 foi o vencedor, e a base na Antártida foi inaugurada em 2020.
– O concurso é a ferramenta mais democrática que existe para construirmos novos espaços na cidade e promovermos o debate público. Estamos felizes por trabalhar com a Marinha do Brasil novamente, desta vez com o concurso do Departamento Cultural do Abrigo do Marinheiro. Os arquitetos que demonstrarem suas reflexões projetuais vão falar com o mundo inteiro através desse museu – complementa Igor de Vetyemy.