Desafios da política fiscal para a retomada do crescimento

IMAGEM: FGV

 

A consultoria Eurasia rebaixou a trajetória de longo prazo do Brasil de neutra para negativa, em meio a preocupações do mercado com a política fiscal do governo, com a inflação persistente e as sucessivas crises políticas geradas pelo presidente Jair Bolsonaro. Segundo a Eurasia, os cenários político e econômico têm deteriorado a perspectiva de crescimento para 2022.

A combinação entre gestão fiscal do governo Bolsonaro com as constantes brigas do presidente com o Supremo Tribunal Federal (STF) acenderam um sinal de alerta, elevando as tensões políticas e econômicas.

Na projeção feita pela consultoria para o próximo ano, Bolsonaro poderá recuperar parte da popularidade perdida, mas a inflação alta e a recuperação econômica mais lenta do que o esperado poderão fazer com que o presidente acirre ainda mais as disputas políticas. Isso pode afetar as negociações no Congresso, fazendo com que o presidente tenha mais dificuldade para avançar com sua agenda econômica. E, pode afetar diretamente também as eleições. A possibilidade de Bolsonaro não aceitar o resultado das urnas, caso seja desfavorável a ele, está no radar: quanto mais fraco, maior o risco de o presidente contestar as eleições.

No relatório divulgado nesta quarta-feira, a Eurasia avalia que o principal desafio de curto prazo da equipe econômica é lidar com o pagamento de precatórios, que não deixaria espaço para aumentar os gastos sociais e forçaria a fazer cortes nos investimento, para não ultrapassar o limite estabelecido pelo teto de gastos.

A consultoria avalia que as perspectivas econômicas para 2022 “parecem mais desafiadoras devido a um ciclo de feedback negativo entre inflação, gestão fiscal e política”. A Eurasia registra que as expectativas de inflação para 2021 continuam com uma tendência de alta, de 5,2% para 7,1% entre maio e agosto, e afirma que o governo terá dificuldades para aprovar a PEC que trata dos precatórios. Com inflação mais alta, afirma a consultoria, há mais riscos de o governo e Congresso apoiarem medidas de gastos fora do limite. E o risco fiscal para os próximos dois meses continuará elevado.

 ELEIÇÕES 2022

Com a popularidade em baixa nas pesquisas, Bolsonaro ainda deve recuperar algum espaço nas sondagens, segundo avaliação da Eurasia. O apoio ao presidente varia entre 29% e 33%, dependendo da pesquisa consultada. O fim da pandemia e a reformulação do Bolsa Família, que seria transformado no Auxílio Brasil, com o pagamento de um valor maior às famílias carenes, poderão aumentar a aprovação do governo. No entanto, a inflação mais alta e um baixo crescimento econômico devem dificultar isso e tendem a fazer com que o aumento da aprovação demore a se concretizar. Isso deverá ter um impacto direto nas eleições de 2022, prejudicando a pré-candidatura de Bolsonaro à reeleição.

“Um Bolsonaro mais fraco significa que ele dobrará a política de polarização e contestará a eleição”, registra a consultoria, prevendo um cenário político e eleitoral tumultuado para 2022. O presidente deve redobrar a estratégia de brigar com o Judiciário, com o Congresso e com a imprensa, para mobilizar sua base, e deve insistir na tese de que o voto eletrônico pode ser fraudado. “O risco de a eleição não ser respeitada é muito baixo (menos de 5%), mas existe o risco de violência na campanha, principalmente se o Bolsonaro perder”, diz a Eurasia. “E quando se trata de legislação que o congresso pode aprovar antes da eleição do próximo ano, sua qualidade tende a cair - com mais riscos fiscais associados à reforma tributária”.

Lula em vantagem

Dificuldade para Bolsonaro, vantagem para Lula. A avaliação feita pela Eurasia diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tende a se beneficiar das dificuldades enfrentadas pelo presidente. “Lula não é radical, e o PT provavelmente comunicará durante a campanha que eles representam uma opção moderada contra um presidente ‘divisionista’”, diz a Eurasia. A consultoria pondera que o petista deve manter a crítica ao teto de gastos, ao incentivar maior investimento público para impulsionar o crescimento econômico, aumentando os riscos sobre a gestão fiscal.

Terceira via em baixa

A Eurasia registra ainda que as chances de um candidato de terceiro via aumentaram, “mas permanecem baixas”, com um espaço limitado para crescer durante a campanha eleitoral. A consultoria calcula que a chance de um nome que não seja Lula nem Bolsonaro de chegar ao segundo turno é de 20%.

 

FONTE: VALOR INVESTE