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O custo de transporte marítimo de bens da China para a Europa mais que triplicou nas últimas oito semanas, atingindo um recorde de alta, porque a escassez de contêineres vazios causada pela pandemia está desordenando o comércio internacional.

O custo de envio de um contêiner de 40 pés (12 metros) da Ásia para a Europa Setentrional aumentou de cerca de US$ 2.000, em novembro, para mais de US$ 9.000, de acordo com armadores e importadores.

Lars Jensen, da consultoria SeaIntelligence, disse que “é um problema de gargalo... os preços estão sendo puxados para cima pela luta dos clientes por um recurso que se tornou limitado: os contêineres”.

Milhares de contêineres vazios ficaram parados na Europa e nos Estados Unidos no primeiro semestre de 2020, quando as companhias de navegação cancelaram centenas de viagens no momento em que os lockdowns causados pelo coronavírus levaram a uma desaceleração súbita no comércio mundial. Quando a demanda ocidental por produtos fabricados na Ásia se recuperou, no segundo semestre do ano, a concorrência entre as empresas de navegação pelos contêineres disponíveis causou uma disparada no preço dos fretes.

John Butler, presidente do Conselho Mundial de Navegação, disse que “fomos de uma tremenda queda a um ricochete que produziu níveis de carga muito elevados em termos históricos, e eles agora são maiores do que os terminais são capazes de processar eficientemente”.

O congestionamento nos portos contribui para os preços mais altos, com as empresas de navegação cobrando uma taxa extra a fim de compensar pelos tempos de espera mais longos, ele acrescentou.

De novembro para cá, o custo de transporte para a Europa vem sendo exacerbado pelo desvio de contêineres para rotas no Pacífico. Em contraste, o custo de embarque da China para os Estados Unidos chegou a um ponto de estabilização em outubro, quando o governo chinês pediu que as companhias de navegação adotassem um teto de preços.

Philip Edge, presidente-executivo da Edge Worldwide, uma companhia britânica de transporte marítimo, disse que algumas empresas estavam pagando até US$ 12 mil por contêiner, ante US$ 2.000 em outubro.

A Associação de Fabricantes de eletrodomésticos do Reino Unido afirmou em comunicado que seus membros registraram alta de até 300% nos custos de transporte, do começo de 2020 para cá, e há casos “nos quais o aumento do custo de transporte é maior do que o lucro retido sobre os bens... o que significa que os custos terão de ser repassados aos consumidores”

“Os produtores não acreditam que serão capazes de absorver esses grandes aumentos nos custos de frete”, a organização afirmou.

O proprietário de uma importadora de produtos para lazer sediada em Manchester, que pediu que seu nome não fosse citado, disse que a escassez de contêineres estava tendo “impacto enorme” sobre os negócios, com algumas encomendas feitas em novembro ainda à espera de embarque. “A questão é, você paga os US$ 12 mil [de custo] agora e repassa os preços aos consumidores ou espera e enfrenta o risco de que os estoques desapareçam?”

O desordenamento e os atrasos estão começando a afetar as cadeias mundiais de suprimento, de acordo com economistas. “Sinais de desgaste estão se acumulando”, disse Neil Shearing, economista chefe da Capital Economics, que alertou que a pressão “ainda deve crescer, antes de começar a cair’.

Uma recente pesquisa da IHS Markit constatou que, em dezembro, os prazos de entrega dos fornecedores da indústria na zona do euro chegaram à sua pior situação desde o pico dos lockdowns causados pela pandemia em abril do ano passado, e atrasos nos transportes e escassez de produtos gerais na ponta dos fornecedores “vêm sendo reportados com muita frequência”.

As empresas pesquisadas informaram que elas estão gastando seus estoques de matérias-primas e de produtos semi-industralizados, resultando na queda de estoques, e reportaram uma alta rápida nos preços dos insumos.

Bert Colijn, economista sênior do banco ING, disse que “a escassez de suprimentos e os custos mais altos de frete podem prejudicar um pouco o crescimento do comércio”, e contribuir para “pressões inflacionárias temporariamente mais altas ao longo do ano”.

As companhias de navegação esperam que a desaceleração na indústria asiática que tipicamente acompanha o feriado do Ano-Novo lunar, no começo de fevereiro, permita que as empresas de transporte reduzam o atraso nas ordens acumuladas e gere um resfriamento ao menos temporários nos preços.

Mas Peter Sand, economista da Bimco, uma associação internacional de companhias de transporte marítimo, disse que a escassez de contêineres provavelmente persistiria por muito tempo em 2021, a despeito de as empresas terem recentemente começado a encomendar novos contêineres, o que ele descreveu como “tarde demais e em quantidade insuficiente”.

Jensen disse que embora os preços possam cair um pouco, “continua a haver uma imensa quantidade de carga à espera de embarque”.

A pressão sobre as cadeias marítimas de suprimento deve se relaxar quando “as pessoas tiverem mais opções de gasto com serviços”, porque as restrições associadas ao coronavírus foram retiradas, disse Butler, mas “determinar quando isso acontecerá está completamente em aberto”.

FONTE: FOLHA DE S.PAULO