O gerente executivo de Marketing e Comercialização da Petrobras, Guilherme França, disse nesta segunda (24) que a estatal vê grandes oportunidades com a implementação, a partir de 2020, de novas regras para o combustível de navios.
Segundo ele, o petróleo brasileiro e as refinarias da estatal serão mais valorizados com a mudança, que reduz o nível de enxofre no combustível.
As regras foram estabelecidas pela IMO (sigla em inglês para a organização internacional do transporte marítimo). A partir de 1º de janeiro de 2020, o combustível para navios terá que ter um máximo de 0,5% de enxofre, contra o limite de 3,5% atuais. A medida é vista com preocupação pelo setor de transporte, diante do impacto nos custos.
França diz que o petróleo do pré-sal, que já tem percentual de enxofre abaixo dos novos limites, ganhará valor no mercado global. Além disso, após um ciclo de investimentos entre 2004 e 2014, as refinarias da estatal foram preparadas para produzir derivados mais nobres, com menos poluentes.
Ele estima que, em refinarias complexas como as da Petrobras, a margem de refino deve dobrar, chegando a US$ 14 por barril. "Prevejo uma volta à era de ouro do refino", afirmou o executivo. Hoje a Petrobras fornece combustível de navegação apenas no Brasil, em 12 pontos de abastecimento na costa.
Para ganhar mercado internacional, a Petrobras prepara para 2019 sua volta para Cingapura, um dos maiores consumidores de combustíveis para navios, de onde saiu em 2015 alegando falta de rentabilidade das operações. "Queremos nos posicionar no mercado global de bunker [o nome comercial do combustível de navegação]", disse França, em palestra na feira Rio Oil & Gas, no Rio.
Atualmente, a Petrobras vende 4,5 milhões de toneladas do combustível por ano, o equivalente a 2% do comércio global. O executivo disse que, apenas com os navios que passam pelo Brasil, pode elevar o volume a 9 milhões de toneladas por ano. Ele não quis estimar o ganho de mercado ao retornar a Cingapura.
As novas regras foram estabelecidas pela IMO com o objetivo de reduzir a poluição no transporte de mercadorias por navios. Para o diretor global da consultoria Platts, Esa Ramasay, porém, a medida pode afetar a economia mundial, devido ao potencial inflacionário. Segundo ele, o custo do combustível para navios subirá 50%.
"As empresas de navegação certamente repassarão esse custo adicional", disse ele. "Tudo que é produzido no mundo é transportado em navios. Então, se o custo do transporte sobe, todos seremos afetados", completou.
Fonte: Folha SP