Alavancada pela valorização do petróleo, a Petrobras deve divulgar na quarta-feira, após o fechamento do mercado, um balanço financeiro robusto, relativo ao quarto trimestre do ano passado, segundo analistas. A expectativa é que, mesmo com a queda de 2,8% na produção de óleo e gás em 2021, a empresa feche o ano com um lucro anual recorde — o que abre espaço para que ela volte a pagar mais dividendos aos acionistas.
Até então, o melhor resultado anual registrado pela companhia ocorreu em 2019, quando a estatal fechou o ano com lucro de R$ 40,137 bilhões. A petroleira acumula lucro líquido de R$ 75,16 bilhões nos nove primeiros meses de 2021 e caminha para atingir uma nova marca histórica.
O ano de 2021 marca uma virada de página no processo de reestruturação financeira da Petrobras. Foi no ano passado que a companhia atingiu, antecipadamente, a meta de redução do endividamento bruto, para menos de US$ 60 bilhões. A conquista foi possível, sobretudo, pela forte geração de caixa da petroleira — cenário que deve se repetir nos resultados do quarto trimestre. O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep) estima, por exemplo, que o fluxo de caixa livre da companhia deve somar R$ 45,6 bilhões no quarto trimestre.
As projeções de analistas indicam que a Petrobras deve apresentar, novamente, indicadores financeiros sólidos. De acordo com a média das projeções dos quatro bancos consultados pelo Valor (BTG, Credit Suisse, Goldman Sachs e UBS BB), a petroleira deve reportar Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 69,8 bilhões relativo ao período entre outubro e dezembro. O montante é 48,3% maior que o apurado em igual período de 2020 e 14,9% superior ao do terceiro trimestre de 2021.
Na avaliação do Goldman Sachs, o barril mais caro deve ser o principal impulsionador do segmento de exploração e produção, o carro-chefe da companhia. A previsão do banco é que o Ebitda do E&P cresça 10%, em dólares, na comparação com o terceiro trimestre, mesmo diante da redução de 3,9% na produção total de óleo e gás da estatal na mesma base comparativa. O barril do tipo Brent foi cotado, em média, a US$ 79 entre outubro e dezembro de 2021. Para efeitos de comparação, em igual período de 2020 a commodity foi negociada, em média, a US$ 44,2 o barril, enquanto, no terceiro trimestre do ano passado ficou em US$ 73,5.
Já as receitas da estatal devem somar cerca de R$ 129 bilhões no quarto trimestre, uma alta de 72,1% na comparação anual e de 6,1% frente ao terceiro trimestre.
A previsão é que a Petrobras volte a registrar lucro líquido expressivo no quarto trimestre, da ordem de R$ 25,8 bilhões, segundo a média das projeções dos bancos. Esse número pode ser substancialmente maior, segundo o Ineep, se a petroleira fizer nova reversão de baixas contábeis por perda no valor de ativos e investimentos (“impairments”), como ela fez no terceiro trimestre de 2021, por causa da valorização do petróleo.
O resultado positivo esperado para o quarto trimestre deve se refletir em novas distribuições de dividendos aos acionistas. Em 2021, a Petrobras pagou, ao todo, US$ 12 bilhões em proventos antecipados, relativos aos resultados do ano. O valor é quase o dobro de tudo o que a estatal distribuiu no acumulado entre 2018 e 2020.
O Credit Suisse estima que a estatal poderá distribuir até US$ 5 bilhões em dividendos relativos ao quarto trimestre, como reflexo da geração orgânica de caixa e efeitos não recorrentes. No fim de 2021, vale lembrar, a empresa concluiu desinvestimentos importantes, como o da refinaria RLAM (BA) para o Mubadala, por US$ 1,8 bilhão. Do lado da saída de caixa, destaque para o pagamento de dividendos em dezembro. O BTG cita, por sua vez, que a “confortável posição de alavancagem da Petrobras pode significar que dividendos adicionais podem estar em andamento”.
O Goldman Sachs faz um contraponto, ao afirmar que, embora haja espaço para remuneração aos acionistas com base nos resultados do quarto trimestre, a estatal pode eventualmente decidir esperar os resultados do primeiro trimestre de 2022 para ter melhor visibilidade da geração de caixa e, só então, avançar com novos pagamentos. O banco estima que a Petrobras poderá anunciar até US$ 7 bilhões em novos dividendos relativos aos três primeiros meses do ano.
Para 2022, a expectativa dos analistas é que os proventos sejam ainda maiores, uma vez que a companhia, hoje, já não está mais tão estrangulada pela dívida — reduzida em US$ 70 bilhões desde 2014. O UBS BB estima que, sem considerar os desinvestimentos, o “dividend yield” (rendimento de dividendos) da Petrobras deve ficar em 19% em 2022, o índice mais alto, ao lado da russa Gazprom, entre as 20 petroleiras internacionais analisadas pelo banco. O “dividend yield” é uma razão entre os dividendos pagos por uma companhia em determinado período e o preço individual da ação e mede a performance da empresa no quesito remuneração aos acionistas.
Em novembro, o diretor financeiro da Petrobras, Rodrigo Araujo, disse que espera iniciar, no primeiro trimestre de 2022, a nova política de dividendos — que prevê pagar um valor equivalente a 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos. A fórmula será acionada sempre quando a dívida bruta for igual ou inferior a US$ 65 bilhões e houver lucro acumulado. Ainda pelas novas regras, o pagamento deverá ser feito trimestralmente.
FONTE: VALOR INVESTE