A Petrobras manteve sua meta de US$ 21 bilhões em desinvestimentos até o final do ano, apesar da suspensão da venda de ativos em refino e logística no País. Porém, a direção da estatal admite que o objetivo tornou-se mais difícil.
“A meta de desinvestimento está mantida, mas a decisão do STF torna o processo mais desafiador. Um dos maiores ativos teve seu processo paralisado, mas temos outros importantes que estão em fase final de venda. Além disso, o petróleo está em preço mais alto que o esperado no início do ano”, declarou o presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, em coletiva para jornalistas, na última sexta-feira (03). Em julho, uma decisão cautelar do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF) que condiciona a venda de ações de empresas públicas à autorização do Congresso, fez com que a Petrobras suspendesse processos para parcerias na área de refino e a venda da participação na fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados e na Transportadora Associada de Gás (TAG). O analista da Planner Corretora, Luiz Francisco Caetano, não acredita que a meta, estabelecida para o biênio 2017-2018, será cumprida. “Acho muito difícil, mas é mais importante que se mantenha os desinvestimentos como ferramenta de redução das dívidas. Ano que vem teremos governo novo e, possivelmente, uma direção nova na Petrobras. A preocupação dos investidores é se a atual política irá continuar.”
No 1º semestre de 2018, a companhia contabilizou por volta de US$ 5 bilhões em desinvestimentos. De acordo com Monteiro, já existe previsão de mais US$ 2 bilhões sejam concretizados no próximo semestre. No ano passado, a empresa totalizou US$ 4,5 bilhões em vendas de ativos.
“Não acho relevante que a meta seja cumprida no dia 31 de dezembro. Não faz diferença no longo prazo se isso for atingindo com seis meses de atraso. O fundamental é que os rumos atuais sejam mantidos e, por consequência, ocorra maior geração de caixa”, afirma Caetano.
Já a meta de desalavancagem, de 2,5 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), deverá ser batida. O índice chegou a 3,23 no fechamento do 2º trimestre, redução de 0,19 em relação ao 1º trimestre. “Em 2014, o endividamento líquido era de US$ 109,6 bilhões. Isso foi reduzido para US$ 73,7. Isso que é o mais relevante”, aponta Caetano.
Balanço positivo
A Petrobras anunciou na sexta-feira (03) os resultados financeiros do 2º trimestre. O lucro de R$ 10,072 bilhões foi o melhor resultado para o período desde 2011. “É um resultado marcado pela disciplina em relação ao cumprimento do plano de negócios traçado por essa administração. Vale lembrar que em 2011, o preço do brent era muito maior que o atual”, declarou Monteiro.
A estatal atribuiu o resultado ao aumento da cotação do barril, que resultou em maiores margens nas exportações de petróleo e vendas de derivados no mercado interno, associado a desvalorização do real em relação ao dólar, além da redução das despesas com juros. “Atingimos um menor nível de endividamento, vamos caminhando com mais confiança. Pela tendência mundial de aumento de juros, a Petrobras está acelerando o pagamento de suas dívidas, para que não ocorra um aumento”, revela o executivo. O lucro líquido do 1° semestre foi de R$ 17,033 milhões, crescimento de 257% em relação ao mesmo período de 2017 e também o melhor resultado desde 2011. O EBITDA ajustado aumentou 26% em relação ao 1º semestre de 2017, chegando a R$ 55,835 milhões.
Mercado de combustíveis
A Petrobras também voltou a apresentar melhora no market share de combustíveis, com destaque para o diesel, atingindo 85% do mercado, 20 pontos percentuais acima do patamar de janeiro. “É uma recuperação importantíssima, fruto da política de preços andando em paralelo com o mercado internacional. A importação foi desencorajada”, diz Caetano. Ele também aponta que a greve dos caminhoneiros e o câmbio também ajudaram.
O volume de vendas internas e a produção de derivados caíram em relação ao 1º semestre de 2017. O diretor de refino e gás natural, Jorge Celestino, atribui isso a queda na demanda total, perda de market share para etanol e aumento do teor de biodiesel na mistura. “Ainda assim, a empresa passa por uma retomada consistente de market share de diesel e gasolina. Como consequência, o fator de utilização das refinarias está crescendo.”
Sobre a declaração do ministro de Minas e Energia (MME), Moreira Franco, de que a Petrobras precisa ser pressionada para que decida o mais rápido possível a respeito de investimentos no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), Monteiro limitou-se a comentar que, após reiniciadas, as obras levariam até três para serem concluídas. “Ainda não há uma estimativa para que isso ocorra.” Com investimentos de 13 bilhões de dólares, as obras da Comperj foram interrompidas diante de denúncias investigadas pela operação Lava Jato.
Fonte: DCI