O polo compreende 28 concessões de produção terrestres, localizadas em diferentes municípios (Foto: Petrobras)

Ao anunciar nesta quarta-feira o desinvestimento de mais um conjunto de campos terrestres – o Polo Bahia Terra – a Petrobras coloca à venda o seu último grande ativo onshore. A estatal brasileira já sinalizou a intenção de sair da produção em terra e já disponibilizou ao mercado praticamente toda a sua produção, em negócios que tem atraído novos agentes para o mercado brasileiro.

Em 2020, a Petrobras mudou a estratégia e passou a ofertar ao mercado polos maiores. O Polo Bahia Terra, que reúne 28 concessões, totaliza uma média de 14 mil barris diários de petróleo – cerca de 14% da produção onshore da companhia. É o terceiro maior ativo terrestre colocado à venda pela estatal em terra. O maior destaque, nesse sentido, é o Polo Potiguar (23 mil barris/dia), no Rio Grande do Norte, e o Polo Urucu (16,5 mil barris/dia), no Amazonas. Só esses três polos concentram mais da metade de tudo o que a empresa produz em terra.

A Petrobras colocou os primeiros ativos à venda em 2016, mas depois de contestações do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a sistemática dos desinvestimentos, reconfigurou o modelo de venda e retomou as ofertas em 2017. Só em 2019, contudo, a petroleira começou a concretizar as primeiras vendas e a destravar os negócios.

Desde então, a empresa já vendeu cerca de US$ 850 milhões em ativos terrestres – incluindo negócios ainda pendentes de conclusão.

A saída da estatal do onshore tem representado uma oportunidade para a expansão de pequenas petroleiras no país, a maioria suportada por fundos de private equity, como 3R Petroleum, Karavan e Petrorecôncavo – candidatas naturais aos desinvestimentos da Petrobras no onshore. Essas três empresas têm sido os agentes mais ativos em aquisições de campos maduros da estatal.

A Karavan, por exemplo, assinou este ano contrato para compra do Polo Cricaré (ES), por US$ 155 milhões, em sociedade com o Seacrest Capital Group, fundo internacional que investe em óleo e gás. O Seacrest já atuava no Brasil, por meio da AziLat, em concessões de exploração no mar, mas se prepara agora para estrear em campos operacionais em terra. Com foco até então voltado para o offshore, o fundo viu na abertura dos campos terrestres uma oportunidade interessante e se associou à Karavan - chefiada por Fabiano Ramos, ex-diretor do Merril Lynch, ao lado de um time de egressos da Petrobras e da antiga HRT. Com a compra, a Karavan assume uma produção de 1,7 mil barris/dia.

A 3R Petroleum, por sua vez, é uma empresa controlada pela Starboard e se prepara, agora, para uma abertura de capital. A companhia opera desde julho o Polo Macau (RN), adquirido por US$ 191 milhões, e desde então assinou mais dois novos contratos, num total de US$ 129,4 milhões, para assumir os polos Rio Ventura (BA) e Fazenda Belém (CE). Os negócios consolidam a empresa como maior produtora privada de óleo em terra no Brasil, ao lado da Petrorecôncavo – que conta com investimentos do fundo Opportunity. Com as compras recentes, a 3R deve atingir uma produção da ordem de 5,8 mil barris/dia, patamar atual da Petrorecôncavo.

Além delas, outras produtoras, maiores, estão de olho nos ativos onshore da Petrobras. A Eneva já manifestou interesse na compra de Urucu, no Amazonas. Recentemente, o presidente da Enauta, Décio Oddone, disse que a empresa tem cerca de R$ 2 bilhões em caixa e promete ir às compras, para recompor sua carteira. Até então focada em águas profundas, a ideia é ampliar os horizontes e olhar “sem restrições” para outras oportunidades de negócios, como os campos maduros à venda pela Petrobras, incluindo ativos terrestres.

Fonte: Valor