Os gastos per capita na área de saúde no Brasil estão entre os mais baixos entre 44 países desenvolvidos e emergentes, incluídos em um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicado nesta quinta-feira.

O Brasil gastou com saúde no ano passado US$ 1.282 (cerca de R$ 5,2 mil) per capita, montante que reúne recursos públicos e privados. O valor em dólar é ajustado em função da paridade do poder de compra nos países. O valor coloca o Brasil em 37º lugar na lista da OCDE, que inclui 6 países além dos 38 membros da organização.

Nos Estados Unidos, o total de gastos com saúde por habitante ultrapassou US$ 10 mil no ano passado. É o maior montante entre os países analisados no "Panorama da Saúde" da OCDE e a maior parte desse valor se refere a despesas públicas.

Nos 38 países da OCDE, organização à qual o Brasil solicitou ingresso, a média de gastos com saúde por habitante foi de quase US$ 4 mil em 2018, sendo que 76% desse valor são gastos públicos. A Índia é o país que gasta menos, com apenas US$ 209 por habitante.

No Brasil, as despesas per capita com saúde representam cerca de 30% da média da OCDE. Do total de US$ 1.282 mil, menos da metade (US$ 551) são gastos do governo brasileiro. O restante se refere a despesas privadas como seguros de saúde ou pagamento direto de consultas e exames.

Em relação ao PIB

Os gastos com saúde no Brasil representaram 9,2% do PIB em 2018, segundo o estudo. Nesse quesito, o país está em 14º lugar ao lado da Austrália e à frente de economias como Itália, Espanha, Coreia do Sul e até Finlândia. Entre os 38 países da OCDE, a média é de 8,8% do PIB.

Mas diferentemente desses países, onde a maior parte dos gastos são governamentais, no Brasil as despesas públicas na área totalizam 4% do PIB, enquanto as privadas somam 5,2% da soma de todos os bens e serviços produtos no país.

Na França, por exemplo, os gastos do governo com saúde atingem 9,3% do PIB e, nos Estados Unidos, 14,3% do PIB, de acordo com o documento.

O Panorama da Saúde 2019 da OCDE também revela que a expectativa de vida no Brasil, de 75,7 anos, é uma das mais baixas do estudo. O Brasil está à frente de países como Lituânia, México, Letônia, Colômbia, Rússia, Índia e África do Sul, onde a expectativa de vida é de apenas 63,4 anos. Já os japoneses, os primeiros da lista, vivem, em média, 84,2 anos. Na Suíça, segunda colocada, ela é de 83,6 anos.

Houve, no entanto, uma melhora considerável no nível de expectativa de vida no Brasil nas últimas décadas: ela passou de 59,2 anos em 1970 para 75,7 anos em 2017, último dado disponível no estudo. No caso das mulheres brasileiras, a esperança de vida (79,3 anos) é sete anos maior do que a dos homens.

Entre os países da OCDE, a Turquia, Coreia do Sul e Chile tiveram os aumentos mais expressivos em relação à expectativa de vida: 24, 20 e 18 anos, respectivamente, desde 1970. Na Turquia, ela é atualmente de 78,1 anos.

Na avaliação da organização, sistemas de saúde mais eficientes contribuíram para o aumento da longevidade nessas últimas décadas em vários países, oferecendo cuidados médicos mais acessíveis e de melhor qualidade. Outros fatores influenciam a saúde também, ressalta o estudo, como aumento de renda, melhor nível de educação e hábitos mais saudáveis, incluindo a alimentação.

Embora aumente, a longevidade está, no entanto, avançando menos rapidamente nos países da OCDE, onde, em média, a expectativa de vida é de 81 anos.

Segundo a OCDE, as causas são "múltiplas": o aumento da obesidade e da diabetes, por exemplo, que dificulta manter o progresso obtido nas últimas décadas com a redução do número de mortes por doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais.

O tabagismo e o consumo "nocivo" de álcool, como também a obesidade, são causas de várias doenças crônicas que provocam mortes prematuras e diminuem a qualidade de vida, afirma a OCDE.

Doenças cardíacas

As doenças circulatórias - principalmente crises cardíacas e os acidentes vasculares cerebrais (AVC) - são a principal causa de mortalidade nos países da OCDE, provocando cerca de uma morte a cada três.

O número de mortes por ataques cardíacos no Brasil, de 93 para cada 100 mil habitantes coloca o país na média dos 40 países analisados no estudo. O Brasil registra menos mortes por esse fator do que na média das economias da OCDE, que é de 115 para cada 100 mil habitantes.

Desde 2000, houve uma queda de 14% no número de mortes por doenças cardíacas no Brasil. Naquela época, o índice era de quase 109 por 100 mil habitantes. Nos países da OCDE, a queda foi de 42% no período.

A organização atribui a diminuição das mortes por doenças circulatórias, sobretudo ataques cardíacos e AVCs, em vários países à redução de fatores de risco, como o tabagismo, e melhoras nas taxas de sobrevivência por conta da melhora do atendimento médico.

Mas o envelhecimento da população, o aumento da obesidade e de diabetes podem dificultar a continuidade da queda da mortalidade nesses casos, afirma o estudo.

É por esse motivo que o aumento da expectativa de vida está desacelerando em alguns países, como os Estados Unidos.

O Japão é onde há o menor número de mortes por causa cardíaca: 31 por 100 mil habitantes. Já a Lituânia, última da lista, tem 383 casos para cada 100 mil pessoas.

Em relação aos AVCs, o Brasil tem uma das piores taxas do estudo, de 88,8 mortes por 100 mil habitantes em 2017. Isso apesar da diminuição em 28% nesses casos de óbito.

Na Rússia, há 234,4 mortes por acidente vascular cerebral por 100 mil habitantes, o pior resultado do estudo, apesar da queda de 46% no número de casos no país desde 2000.

As taxas de incidência e mortalidade por câncer no Brasil, respectivamente de 217 e 161 por 100 mil habitantes é uma das mais baixas do estudo. A Índia é o país com menos casos de incidência de câncer: 89/100 mil habitantes e o México é o país com a menor taxa de mortalidade, de 120 para cada 100 mil.

Diagnósticos mais precoces e tratamentos mais eficazes têm aumentado significativamente as taxas de sobrevivência em casos de câncer. Isso explica por que a Austrália e a Nova Zelândia, por exemplo, têm taxas mais baixas de mortalidade, embora tenham os mais altos números de incidência da doença.

Mortalidade infantil

O estudo divulgado nesta quinta-feira também aponta que a taxa de mortalidade infantil no Brasil, de 13,2 para cada mil nascimentos, é uma das piores do Panorama da Saúde 2019 da OCDE. No Japão, o índice é de 1,7 para cada mil.

O Brasil tem ainda um dos piores desempenhos em relação ao nascimento de bebês com baixo peso. É o caso de 8,5% das crianças que nascem no país. Esse número cresceu 4% desde 2000.

"Condições inadequadas de vida, extrema pobreza e fatores socioeconômicos afetam a saúde das mães e dos recém-nascidos", diz a OCDE.

Os brasileiros também estão entre os que menos consultam médicos: menos de três consultas por ano. Já os coreanos ultrapassam 16.

FONTE: BBC