IMAGEM: MARCELO CAMARGO/EBC

Disparada no preço dos alimentos eleva inflação pelo mundo, e não há perspectiva de alívio

No Brasil, os produtos agropecuários acumulam alta de 52% no atacado em 12 meses

A pressão inflacionária aumenta em todas as economias. Os alimentos, embora não sejam os únicos, têm boa participação nessa escalada. E não se esperam reduções de preços tão breve.

Brasil e Estados Unidos, dois dos principais produtores e fornecedores de alimentos ao mundo, estão com intensas altas internas de preço. Mesmo com esses aumentos internacionais, os países mais dependentes de importação de alimentos, como a China, mantêm as compras, não dando muita brecha para quedas.

A alta começa no campo. Os preços recebidos pelos produtores dos Estados Unidos, em março, superam em 6,4% os de igual mês de 2020. Nesse mesmo período, os preços referentes a grãos e a oleaginosas tiveram elevação de 37%, segundo dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

 

No Brasil, essa escalada já é conhecida. Os agrícolas vêm com aceleração acentuada desde 2019. Em alguns casos, como o do milho, o aumento de preço, de maio de 2019 a maio de 2021, atingiu 208%, conforme acompanhamento diário do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A alta dos alimentos ajudou a inflação a atingir as maiores variações mensais nos EUA desde 2012, elevando a taxa de 12 meses para 2,6%. No Brasil, os produtos agropecuários acumulam alta de 52% no atacado em 12 meses, conforme dados do IGPDI (Índice Geral de Preços, da FGV).

A inflação medida pelo IPCA do IBGE deverá terminar o ano acima de 5%, a maior taxa em cinco anos. Mesmo que os preços das commodities agropecuárias se estabilizem, os patamares já atingidos retiraram parte da população de baixa renda do mercado. O cenário, no entanto, não é de alívio.

A soja, apesar da safra recorde de 137 milhões de toneladas, mantém preços recordes e acumula aumento de 137% nos últimos dois anos. O milho, o segundo mais importante produto da pauta de produção do Brasil, também está com preço recorde, sem sinais de queda.

safrinha, que passou a ser a principal safra do país, foi semeada fora do tempo ideal, e o clima adverso está reduzindo a produtividade. O cereal tem patamar de negociação tão elevado no país que perdeu competitividade no mercado externo. Com isso, a exportação deverá ser menor do que a prevista.

Essa eventual oferta maior de milho internamente, porém, não significa alívio para as indústrias. O resultado será um repasse de preços para as proteínas.

As carnes suína e de frango já acumulam alta de 165% e de 137% nas granjas, respectivamente, desde maio de 2018. Esses reajustes inibem a demanda interna.

Ruim para os consumidores, os preços das commodities engordam os lucros dos produtores. Enquanto os valores recebidos pelos norte-americanos aumentaram 6,4% nos últimos 12 meses, os custos de produção evoluíram apenas 1,9%. Em um cenário bem diferente do do Brasil, o custo dos fertilizantes caiu 5,4% nos Estados Unidos no período; o dos químicos, 2,6%; e o dos combustíveis, 15%.

Já o produtor nacional, que vinha com um balanço favorável entre receitas e gastos, terá margens mais apertadas neste ano devido à alta dos insumos no mercado internacional. Essa evolução externa de preços ganha dimensão ainda maior para o produtor nacional devido ao dólar, que, conforme estimativas do mercado, permanecerá acima de R$ 5 neste ano.

A pressão de custos na produção será mais um fator para a manutenção de preços internos elevados para o consumidor, embora o espaço para repasse é pequeno, devido à perda de renda interna provocada pelo desemprego.

FONTE: FOLHA DE S.PAULO