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As condições para as negociações de reajustes salariais em janeiro deste ano foram um pouco melhores do que as registradas nos meses anteriores. A proporção de acordos fechados com índices menores do que a variação da inflação, no entanto, ainda é alta —de 38,8% do total.
Segundo a pesquisa Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o reajuste mediano no mês passado ficou em 10,20% e empatou com o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), o índice mais usado nas negociações salariais, e que fechou 2021 em 10,16%.
Nos últimos 12 meses, o reajuste mediano ficou cinco vezes abaixo do INPC e empatou com índice em outras sete vezes. Quando ele fica igual, o trabalhador garante a reposição daquilo que, no período de um ano, o poder de compra de seu salário perdeu, corroído pelo aumentos de preços.
Quando fica abaixo, porém, é como se a renda tivesse encolhido, uma vez que nem mesmo a deterioração do poder de compra é compensado.
Em janeiro, 33,4% das negociações concluídas deram aumentos acima da inflação aos trabalhadores, garantindo ganhos reais aos salários. Essa fatia não passava de 30% das negociações há pelo menos um ano.
Apesar da melhora, a Fipe prevê que as negociações em 2022 ainda serão difíceis para os trabalhadores, especialmente porque a inflação seguirá elevada durante o primeiro semestre, ao mesmo tempo em que a atividade econômica segue patinando, dificultando as condições de as empresas absorverem os custos desses reajustes.
O Salariômetro é feito a partir de dados de negociações coletivas registrados no Ministério do Trabalho e Previdência. Segundo a pesquisa, o piso médio em janeiro ficou em R$ 1.388.
Análise do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos) sobre os mesmos dados mostra que o escalonamento e o parcelamento de reajustes ainda foram usados nas negociações fechadas no primeiro mês do ano.
No caso do pagamento parcelado, somente 3,7% dos acordos tinham esse tipo de previsão. Em dezembro, 21,9% das negociações previam a aplicação do aumento em etapas, e 28,8%, em novembro.
Já o escalonamento, que passou a ser adotado com mais frequência a partir do início da pandemia, em 2020, ainda foi utilizado em 18,2% das negociações salariais fechadas em janeiro. No mesmo período, em 2021, o pagamento escalonado foi usado em 11,9% vezes.
Esse dispositivo chegou a parecer em 44,4% dos acordos de reajuste em novembro do ano passado. Nesse modelo, os aumentos são aplicados somente a salários de até determinado valor, ou as diversas faixas de remunerações recebem reajustes diferentes.
Por setor econômico, a análise do Dieese mostra que a indústria tem o maior percentual de negociações com aumentos acima na inflação em janeiro.
Do total de acordos fechados, 44,6% deram ganho real aos trabalhadores. No comércio, esse percentual ficou em 25%, e no setor de serviços, em 32,3%.
A região do país com mais negociações com aumento real foi a Sul, com 42,3% dos acordos, seguida pelo Sudeste, com 41,5%.
Na outra ponta, os trabalhadores do Norte do Brasil foram os mais que mais tiveram percentuais de aumento inferiores ao INPC de janeiro a dezembro de 2021. Nessa região, 68,2% dos acordos ficaram abaixo da inflação. No Centro-Oeste, 66,7% dos reajustes foram menores do que o INPC.
Segundo Dieese, das categorias com negociações fechadas em janeiro, o melhor piso salário médio foi o do setor de transportes, de R$ 1.480,44, seguido por segurança e vigilância, de 1,474,46, e construção e mobiliário, de R$ 1.396,72.
FONTE: FOLHA DE S.PAULO