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Custos para navios têm salto de 45% nas operações de frete no país; segundo a Petrobrás, os preços do combustível estão alinhados aos dos principais portos do mundo e têm sido impactados pelos valores do petróleo tipo Brent
A tonelada do bunker, combustível que abastece navios, está sendo comercializada a US$ 1.200. Em janeiro deste ano, o preço na bomba estava na casa dos US$ 600, um reajuste de 100% em cinco meses, segundo dados da Petrobras.
Em 2022, de acordo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), o Brasil transportou 187 milhões de toneladas em produtos da indústria e alimentação em embarcações para o exterior e 50 milhões de toneladas em navegações dentro do país.
Segundo a Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC), que representa as empresas de transporte marítimo em território nacional, os gastos com combustíveis representam 60% das operações. A alta tem refletido um aumento de pelo menos 45% dos custos do setor.
Segundo a ABAC, para encher o tanque de um navio, são necessárias sete mil toneladas de combustível. Ou seja, mais de R$ 7 milhões.
A oscilação de preços tem efeito imediato sobre o negócio de fretes.
Diferente dos outros combustíveis, os valores acompanham as variações do mercado internacional em tempo real.
“O combustível é cotado em dólar, e não obedece à polícia de paridades, como acontece com o diesel, querosene… Então, muda quase que diariamente de acordo com o mercado internacional”. Comentou Luis Resano, diretor executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (ABAC).
Segundo a Petrobrás, “os preços do bunker no Brasil estão alinhados com os preços do mesmo produto nos principais portos do mundo e estes têm sido impactados pela alta na cotação do Brent”.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Diego Malagueta, doutor em planejamento energético, a alta tem relação direta com o fechamento do porto de Xangai, na China, medida adotada para controle da Covid-19 no país.
“Houve um gargalo causado pelo lockdown. A logística marítima de todo o mundo foi impactada. Com os navios parados, a demanda por bunker diminuiu e sobrou combustível. Para equilibrar, a produção foi reduzida. Mas, agora, com a retomada da navegação, a demanda explodiu e a quantidade de combustível não correspondeu à demanda”, explicou o professor.
Atualmente, são os contratantes dos fretes que arcam com as altas dos preços. Quando o valor da bomba extrapola a previsão de contrato, o excedente volta ao contratante.
“Nosso abastecimento é feito na bacia de Santos. Quando o valor da bomba supera o previsto em contrato, temos que repassá-lo ao contratante. E este repasse acaba chegando também ao produto transportado. No fim das contas, quem paga é o consumidor final”, explica o diretor executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (ABAC).
Além da alta de combustível, o setor de transporte de embarcações no Brasil também teve que driblar a perda de um considerável mercado.
O transporte entre Brasil, Argentina e Uruguai despencou em 67% desde o fim do convênio entre os países, adotado pelo Governo Federal, em outubro (2021).
“A comercialização com estes países representava cerca de 25% do nosso transporte. Mas já vínhamos nos preparando para este momento. No entanto, conseguimos novos mercados e fechamos o 1º trimestre com aumento de 3,8% nas operações”, explica o diretor da ABAC.
Apesar da redução de cargas apontada pela ABAC, o Governo Federal informou à CNN, que o fim do acordo colaborou para aumento de transporte de cargas entre o Brasil e outros países, devido à entrada de empresas estrangeiras, que passaram a operar na rota.
O volume de encomendas cresceu 20,9% nos últimos sete meses, com 9,5 milhões de toneladas transportadas. Mas a alta dos combustíveis ainda é a principal preocupação da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem. Para Luis Resano, os sucessivos reajustes pressionam a inflação e todo o setor produtivo.
“O mundo precisa caminhar para novas soluções. Aqui no Brasil, temos investido em estudos que nos ajudem a otimizar nossa capacidade. Conseguimos desenvolver uma tinta para o casco do navio que gera uma economia de 5% do combustível”, destaca o diretor da ABAC.
FONTE: CNN